Uma noite dessas fui levar Helena ao Hospital em Taguatinga, queixando-se de dores numa das pernas. Enquanto ela estava sendo atendida, fui lá fora verificar o carro, pois já era tarde da noite, quando senti um aroma gostoso de cheiro de carne e frango cozidos vindo do estacionamento do hospital. Logo vi a minha frente um carro com a porta traseira aberta, algumas panelas grandes com caldos, algumas mesas e banquinhos para se sentar, um homem servindo os clientes, sua esposa cuidando dos caldos e seu filhinho, com pouco mais de 5 anos, brincando pra lá e pra cá.
No mesmo dia, bem cedinho, eu assistira uma cena, num dos primeiros jornais do dia, em que estavam cerca de mais de 10 homens invadindo um caixa eletrônico, com bananas de dinamite e armas nas mãos, com o objetivo de explodirem os caixas em busca de dinheiro “fácil”. Talvez o senhor dos caldos tivesse um emprego durante o dia e, pela noitinha, vendia caldos em frente ao hospital com sua família para completar seu orçamento. E minha pergunta imediata foi: os homens do caixa eletrônico não teriam filhos também? O que os levavam a arriscarem suas vidas, suas liberdades e o afastamento de suas famílias, por longos anos de prisão, em busca de um dinheiro alheio? Ou seria que, para o homem do caldo, estar próximo a sua família valeria muito mais que muito dinheiro junto, por isso, preferia ganhar seu dinheiro honestamente, vendendo seus caldos à noitinha? É, na verdade, o ser está dando lugar ao ter. E muitos, sem pudores, buscam a todo custo o ter, menos o trabalho honesto. Querem ter de tudo da noite pro dia, custe o que custar.
Observe bem a sua volta: quase não se consegue mais achar uma babá pro seu filho, uma diarista para sua casa ou um pedreiro que possa terminar sua reforma. E não é por falta de empregos que surgem muitos ladrões, mas da falta de vontade de trabalhar e ser honesto que muitos buscam o ter a todo custo. Pode ser que para aquele homem do caldo ter casa na praia, andar de carro luxuoso, fazer compras em Nova York ou passear no Caribe não tenha tanta importância como o de estar perto dos seus queridos.
Muitos querem subir no alto dos montes e, de lá, observarem tudo de cima, como se tivessem controle de tudo e de todos, mas se esquecem, que as árvores não nascem nos altos picos e quase não há vida por lá. Até os pássaros que lá vivem, necessitam descer aos vales, onde correm os rios e as terras são abundantes. Assim é a nossa vida, mesmo estando nos altos cumes, olhando tudo por cima, é necessário que desçamos aos vales e bebamos das águas que correm nos rios e busquemos a vida que correm nas matas e nas terras férteis.
O problema não está e nunca esteve no dinheiro, mas no amor que se deposita sobre ele (1 Timóteo 6:10 “Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males), esquecendo-se dos valores de vida e do próximo. Não se esqueça: se Deus permitir que você coma do melhor dessa terra é pra que possa dividir com os que buscam as migalhas que caem de sua mesa. Erga-os de debaixo das mesas, coloque-os pra se assentarem com você e sirva-os do melhor que Deus te deu, assim cumprirás o que Ele te disse quando falou: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei e nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. João 15;12