Tendo falado nos capítulos anteriores sobre o significado propriamente dito do evangelho, Paulo vai falar agora neste capítulo, sobre o modo de crer no evangelho e de pregá-lo. Isto deve ser feito de forma positiva, a saber, expondo no poder do Espírito Santo os fatos relativos à obra de Cristo, porque são realidades que se cumpriram para que agora creiamos nelas, e que por meio delas possamos ser salvos por Deus. Sem a pregação da verdade não há fé, porque aprouve a Deus salvar os que crêem por meio da loucura da pregação.
Diz-se loucura, não porque seja algo insensato, mas porque é reputado, desta forma, pela maioria dos homens, que julgam uma loucura a ideia de o próprio Deus ter encarnado num corpo humano e ter morrido na cruz na pessoa de Seu Filho, carregando sobre Si os nossos pecados, e estar agora ordenando aos homens em toda a parte que se arrependam de seus pecados; e carreguem sua própria cruz, negando-se a si mesmos, para poderem ser verdadeiros discípulos de Jesus.
Uma salvação sem obras, sem méritos humanos, onde pessoas que se considerem capacitadas em si mesmas para a salvação, são desprezadas por Deus, e aqueles que se julgam indignos a seus próprios olhos são os que acham favor diante dEle. Deus não escolheu os que são sábios, e elevados segundo o mundo, mas os que são fracos e desprezíveis para o mundo. Então, a salvação, o evangelho e suas ordenanças para que o homem se reconheça pecador e se humilhe diante de Deus, são considerados uma loucura para os que amam o mundo.
Veja o caso dos judeus, para os quais a ideia da morte de Deus numa cruz era e ainda é um verdadeiro escândalo, porque esperam até hoje um Messias guerreiro, poderoso, que humilhe e coloque o mundo debaixo dos seus pés. É simplesmente impossível conhecer a Cristo enquanto se abriga tal tipo de vanglória no pensamento. É impossível conhecer a Cristo quando se tenta agradar a Deus por meio da justiça própria. Os judeus são zelosos pelo nome do Deus da Bíblia, mas, segundo o apóstolo, sem nenhum entendimento da revelação do evangelho, porque seus olhos estão fechados, pois não têm a iluminação do Espírito Santo para entenderem o modo de salvação que é pela graça, e não pelas obras da lei, mediante a própria justiça do homem.
Deus não nos salva por causa da nossa justiça, mas por causa da justiça de Cristo. A lei mesma tem por finalidade principal conduzir os homens à justiça de Jesus, por reconhecerem a impossibilidade de salvarem a si mesmos com a prática de suas obras, porque por melhores que elas sejam, eles continuam sendo servos do pecado. Há de fato uma justiça que é pela lei, para a salvação, a qual somente Jesus pôde atender em Seu ministério terreno, porque cumpriu a lei perfeitamente.
Nenhum homem tem tal capacidade e poder, por causa do pecado que habita em sua carne; então, é um caminho impossível o de alguém tentar ser justificado pela justiça que é pela lei, tal como os judeus continuam fazendo até hoje. Por isso Deus salva não pela justiça que é segundo a lei, mas pela justiça que é segundo a fé, isto é, que nos vem por causa da fé em Cristo, de que é Ele quem nos salva, independentemente dos nossos méritos e obras, porque não tem quem possa cumprir a lei perfeitamente todos os dias da sua vida, e mudar por seu próprio poder a sua natureza terrena pecaminosa. Assim, a justiça que é pela fé não indaga sobre quem irá para o céu; ou quem descerá ao abismo para que possa ser salvo. Não há tal necessidade ou dúvida, porque Cristo já morreu e subiu ao céu de onde intercede por nós. Ninguém achará salvação também no abismo, isto é, na morte, porque é aqui neste mundo o lugar onde somos salvos.
Jesus não subirá dentre os mortos para salvar alguém que desceu à sepultura. O lugar de ser salvo é aqui, e o momento é na presente dispensação da graça, que é designada por o dia que se chama Hoje, tão logo ouçamos a voz do Espírito em nosso coração, chamando-nos ao arrependimento e conversão. Não há necessidade de se pensar em buscar salvação no céu ou no abismo, porque a palavra que nos salva está junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, quando confessamos a Jesus como Senhor de nossas vidas. É confessando a Jesus como Senhor com a nossa boca, crendo no coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos para a nossa justificação, que somos salvos pelo poder da Sua graça.
A boca simplesmente faz a confissão da experiência que ocorreu no espírito, isto é, no coração. Este modo de salvar usado por Deus é tanto para judeus quanto para gregos, porque Ele não faz acepção de pessoas, e é rico para com todos os que O invocam; porque tem prometido salvar a todo aquele que invocar Seu nome. Tendo falado sobre o modo de crer no evangelho, o apóstolo falou a partir do verso 14 sobre o modo de como deve ser a sua pregação.
Primeiro, ele enfatiza, que as pessoas que ouvirão o evangelho e crerão nele, são aquelas que estiverem debaixo de uma verdadeira pregação da verdade do evangelho. Isto porque há muitos que pregam muitas coisas, mas não o evangelho. Muitos falam coisas acerca do evangelho, mas não o evangelho, propriamente dito. O evangelho é como a semente da parábola do grão de mostarda. Somente dele pode germinar a vida eterna.
Então não haverá salvação pela pregação de qualquer outra palavra, senão a do próprio evangelho. Outro ponto importante sobre o modo de pregar o evangelho, é que aqueles que o pregam devem ser enviados por Deus a fazê-lo.
Todo aquele que Deus enviar nesta missão será antes preparado por Ele, tanto quanto ao conhecimento da mensagem da cruz, quanto a experimentar a cruz em sua própria vida; porque somente aqueles que estão crucificados verdadeiramente podem pregar a mensagem da cruz.
Deve haver, portanto uma comissão divina para cada pessoa que é levantada como pregador. Outro ponto que é destacado por Paulo no verso 15 deste décimo capitulo de Romanos, em relação à pregação, é aquele que faz referência aos pés dos que pregam; pois se diz deles, que são formosos. Isto indica que servir ao Senhor na pregação da Palavra implicará em movimento, para ir aonde quer que Ele nos enviar. Será exigido de nós prontidão para caminhar, para avançar, para conquistar almas para Cristo. Então, a fé é pelo ouvir a pregação, e este ouvir deve ser obrigatoriamente da Palavra de Deus, e não de qualquer outra palavra da imaginação, ciência ou artifício dos homens.
A mensagem que devemos pregar é uma revelação que nos veio diretamente do céu; então devemos cuidar para não nos iludirmos pensando que pregamos o evangelho enquanto falamos somente de coisas naturais e de realidades que pertencem a este mundo. O evangelho foi pregado aos judeus, e eles em sua grande maioria o têm rejeitado.