Tendo falado nos capítulos anteriores sobre a justificação e a santificação, e feito uma breve alusão à predestinação e eleição no capítulo anterior, o apóstolo abriu agora mais amplamente o significado da eleição na qual está baseada a nossa salvação. Ele começou com o exemplo do próprio povo de Israel, que tendo à sua disposição a adoção de filhos, a glória, as alianças, a lei, o culto e as promessas, os patriarcas aos quais foram feitas as promessas, e a quem foi dado até mesmo o próprio Cristo, segundo a carne, porque era da descendência da tribo de Judá, no entanto, não alcançaram a salvação em sua grande maioria.
A razão disto é que o homem é totalmente dependente de Deus para que seja salvo por Ele; isto está atrelado à Sua escolha e iniciativa divina na salvação, e não propriamente do nosso próprio querer e esforços. É evidente que temos que buscar e desejar a salvação, mas não nos virá pelo nosso mero querer. Devemos bater à porta do céu, procurá-la no Senhor Jesus, e pedir a Ele, humildemente que nos salve. Todos os que elaborarem seu próprio caminho para a verdade e a vida eterna, será achado fora do caminho estreito; da única verdade e vida eterna que é o próprio Cristo. Dependemos assim, que Ele se manifeste a nós, por misericórdia e com graça, para nos perdoar de todos os nossos pecados, e isto Ele certamente o fará se o buscarmos com verdadeiro arrependimento. Ele tem prometido não lançar fora a qualquer que O buscar. Apesar do dever que temos em saber, que é Ele que nos escolheu e amou primeiro, do que nós a Ele.
Veja o caso dos judeus dos dias do apóstolo. Paulo os amava por ser também judeu, a ponto de desejar ser considerado, maldito de Deus por amor a eles, caso com isto fosse possível trazer a salvação a todos eles. No entanto, ele reconhecia que não é por falta de desejo em Deus de salvar todos os pecadores que eles não podem ser salvos, mas pelo fato de que nem todos atendem ao convite da salvação pelo Evangelho. Nem todos querem se submeter à nova lei da nova aliança em Cristo Jesus, de ama-lo acima de tudo, e ao próximo como a si mesmo, e aos irmãos na fé, do mesmo modo pelo qual Jesus nos ama, com o amor ágape de Deus. Os que assim procedem, permanecem endurecidos.
Deus, em Sua presciência e onisciência, que faz que tudo saiba e conheça antes mesmo de chegar à existência, sabe quais são estes que resistirão para sempre à Sua vontade e amor, de forma que não os elege para a salvação que desprezarão e rejeitarão. O motivo da não eleição não é moral, porque todos os eleitos são tão pecadores quanto os demais, mas justamente por causa desta rejeição e deste desprezo da graça do evangelho que Deus está oferecendo em Jesus Cristo. Em suma, os eleitos são os que virão a amar e a viver para Deus, e desejarem mais do que tudo fazer Sua santa vontade. Por isso, o apóstolo ilustra a eleição, com os gêmeos Esaú e Jacó, dizendo que Deus, já havia dito à mãe de ambos, antes mesmo dos meninos nascerem, que havia amado a Jacó e odiado a Esaú, porque sabia que Esaú jamais O amaria. Mas, Deus conheceu também a Jacó por meio da Sua presciência, e sabia que ele viveria para fazer Sua vontade, e ensinaria seus filhos a andarem nos caminhos do Senhor.
Então, não foi por causa de nenhuma obra que eles tivessem praticado antes de nascerem, que foram eleitos, ou mesmo pecados que tivessem praticado depois de gerados, porque Deus os conhecera antes mesmo de tê-los formado no ventre de Rebeca. O caso de faraó exemplifica claramente, que Deus não está obrigado a usar de misericórdia para com todos os homens, porque Ele conhece o caráter de cada pessoa e a forma como elas agem diante dEle, mesmo em face dos Seus grandes juízos.
Muitos não se dobram ao Senhor, blasfemam contra Ele e contra os céus, odeiam a Jesus, ao evangelho e à Sua Igreja, e jamais se converterão dos seus maus caminhos, por maior que possa ser a bondade e a misericórdia que Ele possa usar para com eles. Deus tem, todavia suportado com paciência aqueles que são para Ele como vasos de ira, porque existem para que seja manifestada neles a ira do Seu juízo. Os eleitos, porém são chamados de vasos de misericórdia, porque será manifestada em suas vidas a misericórdia de Deus, salvando-os de seus pecados e da condenação, assim como quem enche um vaso de azeite para curar feridas.