Os inimigos de Paulo faziam todo o possível para minar a reputação do apóstolo, que pregava o puro evangelho de Cristo aos gentios, e então ele se esforçou para demonstrar que eram divinas, tanto a sua missão quanto a doutrina que ele pregava e ensinava, de modo a rechaçar as acusações dos seus inimigos tanto contra ele quanto contra a sã doutrina, para que pudesse ser restaurada a confiança dos crentes da Galácia, no evangelho que havia sido pregado a eles.
Está designado por Deus que a luz brilhe em meio às trevas, e isto demandará então dos ministros fiéis que sustentem o testemunho da verdade em face de todo erro ou perseguição que se levante contra a luz.
É na perseverança deles que as trevas são dissipadas, assim como podemos aprender do exemplo que o apóstolo nos deixou quando combateu o erro e ficou firme diante da perseguição que estava sofrendo por causa da verdade, da parte dos judaizantes.
A oposição à verdade somente serve para o propósito divino de que a verdade brilhe ainda mais. Nunca nos apartando da simplicidade devida a Cristo, porque é assim que convém apresentar a verdade, a saber, para a edificação, e não para a perturbação dos ouvintes.
Ele viria também mais tarde, como os demais apóstolos, a combater o gnosticismo que afirmava a salvação não pela fé em Cristo, mas pelo conhecimento de mistérios.
Na ocasião da sua primeira prisão em Roma, quando escreveu aos Colossenses, era esta a nova versão da mentira que havia sido engendrada pelo diabo.
E a Igreja teve que se defrontar com este falso ensino por muitos anos, e não foi pequeno o esforço que os ministros fiéis de Cristo tiveram que empreender para manter a verdade do evangelho entre os crentes.
Em Gálatas 1.10, Paulo faz duas indagações que são seguidas por uma afirmação conclusiva, como que sendo a resposta para a pergunta que havia feito anteriormente.
“Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (v. 10).
O verbo persuadir, “peítho”, no grego, tem o sentido de tentar alcançar o favor de alguém através de argumentos.
Assim, a primeira pergunta de Paulo tinha em vista levar os gálatas a refletirem que não era para alcançar o favor dos homens que ele pregava o evangelho, mas o de Deus que lhe havia separado e designado para o apostolado.
Ele não estava defendendo homens e nem pregando a doutrina de homens, mas somente a Palavra de Deus, que é a verdade.
Na segunda pergunta, o verbo usado é agradar, no grego, “arésko”, que significa provocar emoções, excitamento, alegria em alguém.
Daí a razão de não ter se referido a Deus nesta segunda pergunta, senão somente aos homens.
Assim nós aprendemos que a finalidade do evangelho não é produzir estas coisas nas pessoas, mas muitos têm cometido este grande erro, em sua maioria, por ignorância, pensando que o evangelho se destina a entreter os homens com divertimentos, com emoções, e outras coisas como estas.
O apóstolo conclui dizendo que se ainda estivesse fazendo isto, a saber, agradando a homens, ele não poderia efetivamente servir a Cristo, cujo propósito em relação à pregação do evangelho não é este.
Os inimigos de Paulo que haviam seduzido os gálatas haviam incorrido neste erro, deliberadamente porque estavam procurando o favor dos homens e agradar aos homens, e não fazer a vontade de Deus.
Este caminho é muito receptivo porque vai de encontro às cobiças da natureza terrena, isto é, àquilo para o que todo homem está naturalmente inclinado.
Não há neste caso o elemento de resistência porque a carne resiste ao Espírito, mas dá boa acolhida a tudo o que for nascido da própria carne.
Então, o método religioso que deseja contar com o favor dos homens sempre trafegará por este largo caminho de perdição, por ser este muito mais cômodo e fácil quanto à aceitação daqueles que se colocam debaixo de tal ensino.
Certamernte se colocarão contra a verdade revelada de uma vez por todas.
Paulo foi colocado por Deus para trazer os homens à obediência de Cristo, e para anular todo tipo de resistência e sofismas que se opunham à verdade.
O que Lutero fez foi unicamente isto, lutar pela verdade do Senhor, conforme revelada aos profetas e apóstolos.
No ensino de Lutero pode ser achado exageros e defeitos, mas nunca na Palavra de Deus registrada nos 66 livros canônicos, que se encontram na Bíblia, e não em apócrifos, deuterocanônicos (“segundos canônicos”) etc.
O seu propósito não era portanto o de trazer os gálatas propriamente à obediência da mera vontade de homens, como faziam os seus oponentes, mas à de Deus. E este deve ser também o alvo de todos os eleitos de Deus.
O seu alvo era promover a glória de Deus e não a sua própria glória.
Por isso ele não moldou e nem mesmo poderia moldar a sua doutrina ao gosto das pessoas, com o fim de obter o afeto delas ou mesmo para evitar que ficassem ressentidas.
Afinal ele não estava buscando a aprovação dos homens mas a de Deus, por obedecer tudo quanto Ele lhe havia ordenado relativamente ao dever e modo de pregar o evangelho.
Os judaizantes estavam misturando a fé com as obras para a salvação, e a graça do evangelho com as exigências cerimoniais da lei, com o fim de escaparem das perseguições que teriam que enfrentar dos líderes religiosos judeus, caso pregassem um evangelho que não se amoldasse ao gosto deles.
E também para trazerem as pessoas debaixo de sujeição, pelo temor, fora da liberdade que há em Cristo, pela idéia de que há outros mediadores (sacerdotes, templo, igreja etc) entre os homens e Deus, senão apenas nosso Senhor Jesus Cristo.
Paulo reforçou seu argumento dizendo aos gálatas que não havia recebido o seu evangelho por meio de qualquer homem, mas diretamente do próprio Cristo.
Como os judaizantes se gloriavam no conhecimento deles do judaísmo, Paulo relembrou aos Gálatas que eles sabiam como ele havia sobrepujado a muitos da sua idade no judaísmo, e como era extremamente zeloso da tradição religiosa que havia recebido dos seus pais, a ponto de ter sido um perseguidor implacável da Igreja.
O seu argumento se centralizava então no fato de que se fosse o caso seria muito mais cômodo para ele ter ministrado aos Gálatas o mesmo ensino dos judaizantes, e até mesmo de uma forma mais elevada do que a deles.
E, se não o fizera, era então para eles refletirem no fato de que a doutrina que ele lhes havia ensinado era superior à que lhes estava sendo ministrada pelos judaizantes, e na verdade Paulo havia renunciado a ela, não às Escrituras do Antigo Testamento, mas ao falso ensino de que a salvação era conseqüência de se guardar toda a Lei de Moisés, inclusive a cerimonial, coisa que jamais foi ensinada por Deus nas Escrituras como sendo o caminho da salvação eterna.
E também, que não indo para o território deles, para debater ao nível dos argumentos meramente humanos, se esforçava para se manter em paz no seu coração, porque importa que aqueles que pregam a Palavra da verdade, o façam com isenção de ânimo, com mansidão e com longanimidade para com todos os homens. Afinal, a norma do evangelho é amor para com todos os homens, porque é no amor a Deus e ao próximo que se cumpre a Lei e os Profetas.
A salvação é pela graça, mediante a fé, e somente isto. Nada mais. Porque está fundamentada na eleição que é por pura graça, e que foi realizada por Deus antes mesmo da fundação do mundo, ou seja, antes mesmo que os escolhidos tivessem feito qualquer bem ou mal, porque não eram ainda nascidos quando Deus os escolheu, por tê-los amado.
Deste modo nós vemos Paulo revelando ao mesmo tempo duas coisas importantes, a primeira que ele era indigno como qualquer outra pessoa da salvação, porque todos são pecadores, e no seu caso havia a agravante de ter sido perseguidor da Igreja.
Mas como a salvação não é segundo o nosso mérito e obras, mas pelo Deus que elege em amor incondicional e segundo o exercício de pura graça e misericórdia, ele chamou Paulo pela Sua graça para ser apóstolo dos gentios, desde o ventre da sua mãe (Gál 1.15).
Se Cristo havia se revelado não somente a ele, mas nele, que antes era perseguidor da Igreja, quanto mais não poderia ser favorável aos Gálatas que haviam sido enganados por falsos apóstolos que falavam em nome de Cristo, mas com um evangelho totalmente diferente do verdadeiro evangelho, que se funda na graça de Deus, e não nas obras meritórias dos homens.
Paulo queria também deixar bem claro aos Gálatas que ele não havia consultado a carne e o sangue quando chamado pelo Senhor, porque não era de nenhum homem que ele havia recebido a sua autoridade para evangelizar, mas diretamente do próprio Deus.
Isto era bem diferente dos falsos mestres que lhes haviam seduzido, que estavam debaixo da autoridade exclusiva de homens, e trabalhando sobre um fundamento que era fruto da mera imaginação humana.
Nem, mesmo debaixo da autoridade dos apóstolos de Jerusalém, Paulo se encontrava, porque fora chamado pelo Senhor para ser apóstolo como eles, com a mesma autoridade deles, para ministrar aos gentios.
Por isso ele deixa registrado que foi ter com Pedro somente três anos depois de ter viajado para a Arábia e ter retornado a Damasco.
Isto implica que o evangelho que ele pregava era o mesmo evangelho que era pregado por Pedro e pelos demais apóstolos, e como isto poderia ser assim se ele foi ter com Pedro somente mais de três anos depois de sua conversão e chamada ao apostolado?
Deste modo, o seu apostolado era o resultado de uma chamada extraordinária e divina, porque não poderia ter aprendido tudo o que fazia e ensinava apenas nos quinze dias que estivera com Pedro, de modo que não tinha dívidas para com qualquer homem quanto ao evangelho que pregava, porque recebera autoridade de Deus para ser Seu apóstolo entre os gentios, e os Gálatas fariam bem em reconhecer tal autoridade.
Glórias a Deus! Que nos fortalece para a batalha, para o bom combate da fé, da defesa da graça e da verdade revelada por nosso Senhor Jesus Cristo. (João 1.17)
Pr Silvio Dutra