Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Thomas Manton, baseado no Salmo 119.1, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.
“Bem-aventurados os retos nos seus caminhos, que andam na lei do Senhor” (Salmo 119.1)
O Salmista começa com uma descrição do caminho para a verdadeira bem-aventurança, como Cristo começou seu Sermão do Monte. Bem-aventurança é tudo o que almejamos, apenas somos ignorantes ou imprudentes quanto ao caminho que a ela conduz, por isso o salmista define primeiro o verdadeiro conceito de um homem abençoado: “Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor. “
Nestas palavras você tem:
1. O privilégio, abençoado.
2. A maneira e a forma de ser considerado, não tanto na natureza e na sua formalidade, quanto ao caminho que a ele conduz. Ou,
Em primeiro lugar, aqui está se falando de uma forma geral.
Em segundo lugar, temos esta forma especificada – a lei do Senhor.
Em terceiro lugar, a qualificação da sinceridade das pessoas, a irrepreensibilidade, e constância, com que se caminha.
1. Todos desejam isto, os cristãos, pagãos, todos concordam nisto. Quando Paulo estava lidando com os pagãos, ele apresentou duas noções sobre Deus pelas quais pode ser reconhecido. Esta é a primeira causa: “contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.” (Atos 14.17)
“para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;” (Atos 17.27)
“Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem?” (Salmo 4.6).
Bom… bom, é o clamor do mundo. Isto está enraizado na própria natureza do desejo, pois tudo o que é desejado é desejado como bom. Ninguém, em são juízo, se disporia a buscar para si o estragado, o ruim.
Isto sucede porque Deus implantou em nós sentimentos de aversão para evitar o que é mau, de modo a termos sentimentos para buscar o que é bom. O que há é um sentimento de preservação, de amor próprio, e não de destruição ou de auto-desprezo ou ódio.
Por isso, todos os homens buscam felicidade e contentamento. Perguntar entretanto se os homens desejariam de um outro modo ser felizes ou não, equivale a perguntar se eles amam a si mesmos. Pode ser sim ou não. Mas se desejariam ser santos, isto é outra coisa.
2. Tudo que está sem a graça divina está muito errado em si mesmo. Alguns erram no final. Eles desejam comumente o que é bom, não o que seja de fato o verdadeiro bem, pois eles buscam a felicidade em riquezas, honras, prazeres, e assim eles flutuam nestas coisas que buscam, enquanto as procuram. Eles pretendem ser felizes, mas escolhem a miséria: Lucas 16.25 – “Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos.”; e Salmo 4.7: “Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho.”
O trigo, o vinho e azeite, não somente possuídos por eles, mas por eles escolhidos como sua felicidade e porção. Eles falham quanto aos meios. Eles não se conhecem ou não se amam. Eles discernem isto, mas fracamente, como uma torre, à distância: é assim que o veem, como o cego que viu os homens como árvores que andavam. A luz da natureza, sendo tão fraca, eles consideram esta realidade, mas fracamente, a mente está sendo desviada para outros objetos, eles os desejam, mas fracamente, os afetos sendo sobrepassados e interceptados por coisas que vêm junto ao lado de veleidades e inclinações frívolas, mas não há vontade séria ou firmeza de coração.
Ou suponha um homem sob alguma convicção, tanto quanto ao que se refere à finalidade e aos meios, mas seus esforços são muito frios e frouxos; eles não a perseguem com aquela seriedade, exatidão e uniformidade do esforço que é necessário para obter a sua felicidade.
São como crianças que parecem desejar uma coisa com paixão, mas ficam logo de mau humor: “A alma do preguiçoso deseja, e nada tem, porque as suas mãos recusam trabalhar.”
Quando a verdadeira felicidade está suficientemente revelada, nós gostamos disto mas não nos termos de Deus, João 6.34 – “Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão.” Os judeus disseram isto quando nosso Salvador lhes falou sobre o pão de Deus que desceu do céu para dar a vida ao mundo. Mas ao ouvirem as condições de obtê-lo, “murmuravam, voltaram para trás e já não andavam com ele.” (v.66). Todos iriam viver para sempre, mas quando viram que eles deveriam seguir ao Cristo desprezado por todo o mundo, e incorrerem em censuras e perigos, eles não gostaram disso: ‘Sim, eles desprezaram a terra aprazível, e não acreditaram na sua palavra.” (Salmo 106.24). A terra era uma terra boa, mas o caminho para isso foi através de um imenso deserto. Quando ouviram falar da força e estatura dos homens e, suas fortificações, caíram em paixão e murmuração, e desistiram de conquistar Canaã. O céu é um lugar bom, mas como os homens têm que chegar a ele com muita dificuldade, então eles ficam relutantes em calcular o custo.
Os homens ficariam felizes com esse tipo de felicidade que é a verdadeira felicidade, mas não da maneira que Deus a tem proposto, porque estão predispostos para fantasias carnais. É considerado uma coisa insensata esperar em Deus em meio de tribulações, conflitos e tentações: 1 Coríntios 2.14 – “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” Mais prejudica mentir contra os meios do que contra o fim; portanto, sem desespero, eles se acomodam com uma escolha carnal, como pessoas desapontadas numa partida de tomar a próxima oferta. Uma vez que não podem ter a felicidade de Deus, eles resolvem ser seus próprios escultores, e tornam-se tão felizes quanto possível, no gozo das coisas presentes.
3. Nossos erros sobre isto nos custarão caro. Deus é muito zeloso quanto ao que nós fazemos ser a nossa felicidade, e, portanto, fica irado com a escolha carnal. Aqueles que vão fazer experimentos, sejam inteligentes pois nesta questão. Salomão chegou em casa chorando: Eclesiastes 1.14 – ‘Eu vi todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.” Ele tinha provado isto com as próprias mãos.
Ele tinha um grande coração e uma grande condição, e se entregou aos prazeres, para extrair a felicidade das criaturas, para buscar satisfações mundanas de uma maneira mais artificial do que beberrões brutais, que apenas agem de acordo com luxúria e apetite: Ec 2.1 – “Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade.” Ele se entregou aos prazeres, e não apenas aos sensuais, mas também em busca de curiosidades e coisas artificiais, e ainda assim encontrou seu coração secretamente afastado de Deus.
Vamos estudar bem este ponto.
1. Que não podemos nos elevar com uma falsa felicidade, ou criar o nosso descanso em prazeres temporais, como honra elevada, abundância de riquezas, favor dos grandes homens, etc; coisas úteis em sua própria esfera, e benéficas para adoçar e confortar a vida do homem, que colocou sua felicidade em Deus. Prazeres que estão sendo apreciados, não satisfazem; sendo amados, eles contaminam; sendo perdidos, aumentam a nossa tribulação e tristeza.
[1] Eles não podem satisfazer, por causa de sua imperfeição e incerteza. Eles não respondem a todos os desejos do homem, e não possuem qualquer relação com a consciência. O que faz um homem feliz deve ter uma proporção completa para atender todas as necessidades, desejos e capacitações da alma, assim como a consciência e o coração e todos possam dizer que é o suficiente. Mas, infelizmente! estas coisas não podem nos dar uma paz sólida e contentamento: Isaías 4.2 – “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? e do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?”
Até que a consciência seja provida, não podemos ser felizes. Mas, além de sua baixa utilização, considere a incerteza do prazer. Nada pode nos dar paz sólida, senão aquilo que nos faça eternamente felizes. Nada além do favor de Deus é de eternidade a eternidade. Nós não temos uma posse eterna dessas coisas do mundo. Elas são incertas e são possuídas com temor. 1 Coríntios 7.30,31. Este é o conselho do apóstolo “mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.”
Um homem deve esperar por mudanças, e passar por várias situações no mundo: Salmo 39.11 – “Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso. Com efeito, todo homem é pura vaidade.”
[2]. Sendo incomumente amadas, elas contaminam. Não existe apenas uma vesícula, mas veneno nelas. Elas não podem nos tornar melhores, mas podem facilmente nos tornar piores, escravizando-nos aos nossos próprios desejos: 1 Tim 6.9,10 – ‘Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, que, enquanto alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”
[3] Sendo perdidas, aumentam a nossa tribulação e tristeza. Um homem que não tem aprendido a ser humilhado, bem como a ter abundância, a sua abundância torna o seu caso o mais miserável. É difícil voltar um ou dois degraus. Elas são capazes de trazer muitos problemas no coração daquele que é versado sobre elas: “Tudo é vaidade e aflição de espírito.” Quanto mais nós fazemos delas a razão da nossa felicidade, quando perdidas aumentam a nossa tribulação.
2. Em segundo lugar, na abordagem detalhada do assunto, não podemos ser preconceituosos contra a verdadeira felicidade. Os homens pensam que é uma felicidade viver sem o jugo da religião de Cristo, para poderem falar, pensar, e fazer o que quiserem, sem restrição. Salmo 2.3 – “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.”
Ao estudar este ponto – “Não te estribes no teu próprio entendimento”. “Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência.” (Prov 23.4), mas busque a direção de Deus através da Sua Palavra e do Espírito Santo. Somente Deus pode determinar quem é o homem bem-aventurado, porque está somente em suas mãos nos fazer bem-aventurados. Trazidos à luz da fé; o senso e a razão carnal lhe decepcionarão. A bem-aventurança é um enigma que só pode ser descoberto pela fé , “que é a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11.1).
Que um homem piedoso pobre, que é reputado como sendo a sujeira e a escória de todas as coisas, seja o único homem feliz, e que os grandes homens deste mundo, que têm todas as coisas à sua vontade, seja “pobres, cegos, miseráveis, e nus”, é um paradoxo que nunca entrará no coração de um homem natural, que tem apenas a luz do bom senso e da razão carnal para julgar as coisas, porque a visão e a razão não são nada para tal propósito.
Espere a luz e a força do Espírito Santo para inclinar o teu coração a Deus. Muitas vezes estamos doutrinariamente corretos quanto ao que seja a bem-aventurança, mas não na prática; nos contentamos com a mera noção, mas não a colocamos sob o poder dessas verdades, que é a obra do Espírito.
É fácil provar que isto é a felicidade dos animais que desfrutam de prazer sem remorso; é fácil provar a incerteza das riquezas, e que são fundamentos instáveis para a alma para descansar; mas retirar do coração essas coisas é a obra de Deus, a obra do Espírito Santo: Salmo 49.13 – “Tal proceder é estultícia deles; assim mesmo os seus seguidores aplaudem o que eles dizem.” Muitos homens que estão sobre o túmulo de seus antepassados vão dizer: Ah! quão tolos foram em desperdiçar o seu tempo e força em prazeres, e na caça de grandeza e estima mundana e favor com os homens, que proveito há nisso agora? E contudo a sua posteridade aprova o mesmo, isto é, vivem pelos mesmos princípios, são tão gananciosos sobre satisfações mundanas como aqueles sempre foram antes de partirem, que negligenciaram a Deus e as coisas celestiais, e desceram à sepultura, e sua honra foi colocada no pó.
Até que o Senhor tire o nosso coração com a luz e o poder da sua graça, permanecemos como ébrios, insensatos e mundanos como eles. Assim, você vê em que se baseia a noção correta da verdadeira bem-aventurança.
A sincera, constante e uniforme obediência à lei de Deus é o único caminho para a verdadeira bem-aventurança.
Isto é chamado de um caminho, e deste caminho é dito ser a lei de Deus, e este caminhar deve ser sem mácula, o que não implica absoluta pureza e perfeição legal, mas a sinceridade do evangelho; e neste caminho devemos andar, com uniformidade e constância; isto deve ser o nosso curso, e nele devemos perseverar.
Três coisas que precisam ser abertas:
1. Falar sobre a regra.
2. A conformidade com a regra; que deve ser sincera, uniforme e constante.
3. Como este é o caminho para a verdadeira felicidade; quanto ao que respeita ter a verdadeira bem-aventurança.
Em primeiro lugar, a regra é a lei de Deus. Todos os seres criados têm uma regra. A natureza humana de Cristo foi a mais elevada de todas as criaturas, e ainda assim está em sujeição a Deus; ele está sob uma regra: Gál 4.4 – “nascido de mulher, nascido sob a lei”.
Os anjos têm muitas imunidades em relação ao homem; eles são livres da morte, das necessidades de comida e bebida, mas eles não estão livres da lei, não são sui juris, do seu próprio direito; eles obedecem aos seus mandamentos, ouvindo a voz da sua palavra – Salmo 103.20. Seres Inanimados, o sol, a lua, as estrelas, estão sob a lei da providência, sob um pacto de noite e de dia. Eles têm os seus cursos e movimentos designados. Todas as criaturas estão sob uma lei, segundo a qual elas se movem e agem. Muito mais agora está o homem sob a lei, porque ele tem vontade e escolha. Mas se a lei não fosse uma regra para um cristão (como alguns Antinomianos têm essa opinião), se ela não estivesse em vigor, então não haveria nenhum pecado ou dever, pois “onde não há lei, não há transgressão”; porque a natureza do “pecado é a transgressão da lei” – 1 João 3.4 ; Rom 4.15. Certamente a lei como uma regra é um grande privilégio, e, certamente, Cristo não veio para diminuir ou abolir os privilégios de seu povo: Dt 4.4 “Não há nenhuma nação com tais estatutos” – Sl 147.20: “Ele deu a conhecer os seus estatutos a Israel”, foi sua prerrogativa.
Se a lei pode ser anulada pelos que são tornados novas criaturas em Cristo Jesus, então por que o Espírito de Deus a escreve com caracteres tão legíveis em seus corações? Isto é prometido como a grande bênção do pacto da graça – Hebreus 7.10. Agora, aquilo que o Espírito grava no coração, Cristo veio para desfigurar e abolir? A lei foi escrita em tábuas de pedra, e a grande obra do Espírito é escrevê-la sobre a tábua do coração, e a arca era um baú onde a lei foi mantida e, com alusão ao que Deus diz, “eu porei a minha lei no seu coração.” Claramente, então, há uma regra, e esta regra é a lei de Deus. Agora, essa regra deve ser consultada em todas as ocasiões, se quisermos obter a verdadeira bem-aventurança, tanto para nos informar (instruir), quanto para gerar temor a Deus em nós.
Em primeiro lugar, para nos informar, para que não ajamos aquém ou além.
1. Não aquém. Existem muitas regras falsas com que os homens agradam a si mesmos, e são muitos os caminhos que nos levam para longe da nossa própria felicidade. Por exemplo, boas intenções, isto é uma regra falsa, o mundo vive de palpites e objetivos devotos. Mas se boa intenção fosse uma regra, um homem poderia se opor ao interesse de Cristo, destruir seus servos, e fazer tudo isso com boa intenção: João 16.2 – “Aqueles que matarem vocês acharão que estão fazendo um bom serviço a Deus.” Os homens podem errar grosseiramente ao seguirem uma consciência cega.
Costume, é outro exemplo. Não importa o que os outros fizeram antes de nós, mas o que Cristo fez diante de todos. Se o costume fosse relevado, a maioria das instituições de Cristo estariam fora das portas.
Exemplo dos outros; também não é boa regra. Não é para nós irmos onde outros foram antes, mas no que é o verdadeiro caminho: Mat 7.14 – “O caminho largo, que conduz à perdição, e muitos andam nele.” O caminho para o inferno é mais percorrido; não estamos sempre seguindo a corrente, pois eles são peixes mortos que nadam para baixo seguindo a correnteza: não estamos sendo conduzidos por costumes e exemplo, e fazendo o que os outros fazem. Nossos próprios desejos e inclinações não são a nossa regra. Oh, quão miseráveis seríamos se o nosso desejo fosse nossa lei, se a inclinação de nossos corações fosse nossa regra! Judas 16 – “andando segundo as suas próprias concupiscências,” é a descrição daqueles que eram monstros, que haviam superado todos os sentimentos de consciência.
As leis dos homens não são a nossa regra. Isto é muito estreito e curto para nos recomendar a Deus – ser apenas observadores das leis dos homens e nada mais: Salmo 19.7 – “A lei de Deus é perfeita, e refrigera a alma.” Para nos convencer do pecado, para humilhar o coração e nos trazer de volta a Deus, não existe uma regra para isso, mas a lei de Deus. Os homens fazem as leis, como alfaiates fazem roupas, para atender os corpos curvados que as vestirão, de acordo com os temperamentos das pessoas a serem regidas por essas leis, certamente elas não são uma regra suficiente para nos convencer do pecado e para nos guiar para a verdadeira felicidade. Um homem ordeiro civilmente é uma coisa, e um homem renovado e piedoso é outra. É prerrogativa de Deus dar uma lei para a consciência e para renovar as inclinações do coração. As leis humanas são boas para estabelecer uma conversa com o homem, mas breve demais para estabelecer a comunhão com Deus e, portanto, devemos consultar a regra, que é a lei do Senhor, para que não fiquemos alijados da verdadeira bem-aventurança.
2. Vejamos agora, para que não ajamos além. Há uma santidade supersticiosa e apócrifa que é contrária a uma verdadeira e bíblica santidade, sim, destrutiva por causa disso: isto é como a concubina em relação à esposa: isto afasta o respeita devido à verdadeira religião. Agora, o que é este tipo da santidade? É uma religião temporária de satisfação da carne, que consiste em um acordo com os ritos e cerimônias exteriores e mortificações externas, como é praticado pelos formalistas “segundo os preceitos e doutrinas dos homens:” Col 2.23 – “coisas, com efeito, que têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.”
Deus não lhes agradecerá por lhe darem mais do que ele tem requerido. Estas coisas têm uma aparência de sabedoria. Como o dinheiro de bronze pode ser mais reluzente do que verdadeira moeda, embora não seja de tal valor, então esta adoração baseada na própria vontade, e santidade supersticiosa podem parecer justas, mas são destrutivas para a verdadeira piedade e santidade bíblica, que nos guiam à comunhão com Deus. Quando o zelo dos homens ferve mais numa santidade fingida, isto apaga o fogo e destrói a verdadeira fé e piedade.
O excesso é enorme, bem como o defeito. Portanto, ainda temos que consultar a lei e a regra, para que não ajamos aquém ou além.
Em segundo lugar, como a lei deve ser consultada, para que nos informe, assim ela pode gerar temor em nós e nos manter sob um senso de nosso dever para com Deus: “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” – Rom 3.19. Geralmente, a maioria dos cristãos vive de forma mecânica, e não estuda a sua regra. Será que um homem adoraria a Deus com tanta frieza e habitualmente, se ele tivesse observado a regra que exige diligência de alma, fervor de espírito, diligente obediência a Deus em seus juízos? Será que um homem permitir-se-ia a liberdade de discursos vãos, conversação ociosa, e usar a língua para brincadeiras, se ele se consultasse com a regra, e lembrasse que estas palavras serão pesadas na balança de Deus? Estes são condenados pela lei da liberdade: Tiago 2.12 – “Então, falai, e assim procedei, como aqueles que devem ser julgados pela lei da liberdade.” Seria um homem tão superficial nas coisas celestiais? tão desordenado e imoderado no uso do prazer e da busca do lucro mundano, se ele tivesse considerado a regra, e qual é a santa moderação que Deus tem exigido de nós em todas as ocasiões? Esta é a primeira coisa, a saber, a regra, que é a lei de Deus.
Em segundo lugar, há uma conformidade a esta regra. Se você quiser ser bem-aventurado, deve haver uma sincera, constante, e uniforme obediência. A vontade de Deus não somente deve ser conhecida, mas praticada. Muitos vão concluir que a lei de Deus na teoria é a única direção para a verdadeira felicidade; mas agora, ter isto como a sua regra, para manter-se perto da mesma, nem mesmo um entre mil o tem feito.
1. Então, a obediência sincera é necessária: “Bem-aventurado é o irrepreensível no caminho.”
À primeira audição destas palavras, um homem pode responder, Oh, então, ninguém pode ser abençoado, se isto é a qualificação, “porque quem pode dizer, meu coração está limpo?” Prov 20.9. Eu respondo – esta pureza, esta irrepreensibilidade deve ser entendida de acordo com o teor da segunda aliança feita no sangue de Jesus, que não exclui a misericórdia de Deus e a justificação dos pecadores arrependidos: Sl 133.3,4 – “Se tu, Senhor, observares as iniquidades, quem subsistirá? Mas há misericórdia contigo.” Não há como escapar da condenação ou da maldição, se Deus nos tratar de acordo com a estrita justiça, e exigir uma irrepreensibilidade absoluta. Bem, então, esta qualificação deve ser entendida, como eu disse, no sentido do segundo pacto, e o que é isso? Sinceridade de santificação. Quando um homem cuidadosamente se esforça para manter suas vestes livres da corrupção do mundo, e para ser aprovado por Deus; quando este é o seu o exercício constante para evitar qualquer ofensa, tanto para com Deus quanto para com os homens – Atos 24.16, e é cauteloso e vigilante para que não se contamine; quando ele é mais humilhado por suas corrupções; quando está sempre purgando o seu coração, e se esforçando, e que, com sucesso, anda no caminho de Deus, aqui está o irrepreensível no sentido do evangelho: Sl 84.11 – “Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente.” Para quem? “Para aqueles que andam na retidão.”
Isto é bastante possível; aqui não há motivo para desespero. Isto é o que vai nos levar à bem-aventurança, quando estivermos perturbados por nossas falhas, e haverá um exercício diligente na purificação de nossos corações.
2. A obediência constante. Os homens maus têm os seus bons modos e devotos sofrimentos no caminho para o céu, mas eles não são duradouros. Eles vão com Deus, um passo ou dois. Mas é dito: “Aquele que anda na lei do Senhor.” Um homem perverso ora cansado da oração, e se professa cansado da santidade. Um homem é julgado pelo teor de sua vida, e não por uma ação – “Deleitar-se-á o perverso no Todo-Poderoso e invocará a Deus em todo o tempo?” Jó 27.10 . Muitos correm bem por um tempo, mas em breve param. Enoque andou com Deus 365 anos.
3. A obediência uniforme e completa: Êxodo 20.1 – “Falou Deus todas estas palavras.” Ele ordenou uma coisa, assim como outra, e a consciência se deu conta de todas.
Um servo não escolhe seu trabalho, mas o mestre. Um filho de Deus é uniforme tanto num lugar, bem como em outro, em casa e no exterior, em todas as passagens de sua vida, na prosperidade e na adversidade, “quer quando é honrado, quer quando é humilhado” Fp 4. Ele não é como Efraim como “um bolo que não foi virado,” mas há uma uniformidade. Porventura teria consciência de piedade e adoração, e não teria consciência de honestidade e justiça no trato com os homens? Será que ele teria consciência de seus atos, e não teria de suas palavras? Ele não daria a si mesmo um discurso ocioso e fútil. Um hipócrita se sente melhor quando ele é tomado em pedaços, mas um homem sincero se sente melhor quando ele é tomado por completo. Um cristão é sempre o mesmo. É notável na história da criação que Deus vê o trabalho de cada dia, e Deus viu que isso era bom; “E Deus viu todas as coisas que ele tinha feito, e eis que era muito bom”, ele as considerava por completo. Assim, um cristão está mais feliz em examinar o seu caminhar segundo o mandamento.
Em terceiro lugar, qual é a relação disto com a verdadeira bem-aventurança? Isto é o caminho para isto: ‘Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor.” Isso aparecerá em dois aspectos:
(1) É o início da bem-aventurança. Semelhança com Deus é o fundamento da glória. Conformidade com ele será realizada “de glória em glória”, 2 Coríntios 3.18. E, como conformidade para a comunhão com Deus na beleza da santidade é o começo da felicidade: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça, e estarei satisfeito quando eu acordar com a tua semelhança”, Sl 17.15.
(2). Obediência sincera e constante é a prova do nosso direito à bem-aventurança futura. Um homem tem algo para demonstrar isto, Mat 5.8. É uma evidência inclusiva: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”, e é uma evidência exclusiva: Heb 12.14, “Sem santidade ninguém verá o Senhor.” Bem, então, quando este é o nosso caminho e curso, podemos esperar a felicidade futura.
As Aplicações são-
1. Para mostrar que os homens carnais vivem como se procurassem miséria ao invés de felicidade: Prov 8.36, “Aquele que pecar contra mim fará mal à sua própria alma, todos que me odeiam amam a morte” Se um homem estivesse viajando para York, diria que seu objetivo era chegar a Londres? Será que esses homens que andam de tal modo profano buscam a felicidade? Isto é, o caminho da lei de Deus que conduz à verdadeira bem-aventurança?
2. Para incentivá-lo a andar de acordo com esta regra, se você quiser ser abençoado. Para este fim, deixe-me encorajá-lo a tomar a lei de Deus como a sua regra, o Espírito de Deus como o seu guia, as promessas como o seu encorajamento, e a glória de Deus como o seu fim.
[1] Tome a lei de Deus como a sua regra. Estude a mente de Deus, e conheça o caminho para o céu, e se mantenha exatamente no mesmo. Isto é uma prova de sinceridade, quando um homem tem o cuidado de praticar tudo o que ele sabe, e ser curioso para saber mais, mesmo que seja toda a vontade de Deus, e quando o coração está debaixo do temor da palavra de Deus.
Se um mandamento surge no caminho, isto é mais para o coração gracioso do que se mil ursos e leões estivessem, mais do que se um anjo estivesse no caminho com uma espada flamejante: Prov 13.13, “Aquele que teme o mandamento será recompensado.” Será que você quer as bênçãos de Deus? Tema o mandamento. Isto não significa aquele que teme a ira, a punição, inconveniências, os problemas do mundo, assédios da carne, não, mas aquele que teme transgredir um mandamento. Como em Jer 35.6: Vá, traga uma tentação, coloque potes de vinho diante dos recabitas. Oh, não se atreviam a beber deles. Por quê? “Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou, dizendo: não beberão vinho.” Assim, um filho de Deus, tem razão quando o diabo vem e apresenta uma tentação diante dele, e zeloso de Deus, não se atreve a cumprir com os desejos e humores dos homens, embora eles possam lhe prometer paz, felicidade e abundância
[2] Tome o Espírito de Deus para ser o seu guia. Nunca podemos andar no caminho de Deus, sem a direção do Espírito de Deus. Devemos não somente ter um modo, mas uma voz para nos dirigir quando estamos andando: Isa 30. 21: “E os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” Ovelhas têm um pastor, e as crianças que aprendem a escrever devem ter um professor, e por isso não é o suficiente ter uma regra, mas termos um guia, um monitor, para nos colocar na mente o nosso dever. Os israelitas tinham uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo à noite. A igreja evangélica não é destituída de um guia: Os 37.24 – “Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás na glória.” O Espírito de Deus é o guia e diretor para nos alertar sobre o nosso dever.
[3] As promessas para o seu encorajamento. Se você olhar ao redor, viverá por sentido, e não pela fé, você terá desânimos suficientes. Como um homem deve se conduzir através das tentações do mundo com honra a Deus? 2 Pedro 1.4 – “no qual são dadas a nós preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que há no mundo pela concupiscência.” Quando temos promessas para nos guardar, isso vai nos conduzir puros através das tentações, e nos fazer agir com generosidade, nobreza e nos manter perto do Senhor.
[4] Fixar a glória de Deus como o seu objetivo, senão isto será um curso carnal. A vida espiritual é viver para Deus, Gál 2.20 , quando Ele é tido como o fim de cada ação nossa. Você tem um caminho a tomar, e se você dormir ou acordar, sua jornada ainda é um curso. Como em um navio, se os homens sentam, deitam, estão de pé, se comem ou dormem, o navio mantém seu curso, e vai para o seu porto, de modo que todos estão indo para um outro mundo, ou para o céu ou para o inferno, no caminho amplo ou no estreito.
E, então considere quão confortável será o final da sua viagem, na hora da morte, ter sido sem mácula no caminho; então os homens maus que estão contaminados em seu caminho desejarão que eles tivessem se mantido mais próximos de Deus. Os homens terão então outras noções, de santidade do que tinham anteriormente. Oh, então eles desejarão que tivessem sido mais cautelosos.
DOCT 3 Como será abençoado aquele que anda em conformidade com a regra de Deus?
1. Ele está livre da ira. Ele tem a sua quitação, e a bem-aventurança de um homem perdoado: João 5.24, “Aquele que crê em Cristo tem a vida eterna, e não entrará em condenação, pois já passou da morte para a vida.” Ele está fora do perigo de perecer, o que é uma grande misericórdia.
2. Ele está debaixo do favor e amizade de Deus: João 15.14, ‘Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. ” Há uma verdadeira amizade estabelecida entre nós e Cristo, não somente no ponto de harmonia e concordância de espírito, mas prazer mútuo e comunhão uns com os outros.
3. Ele está sob os cuidados especiais e conduta da providência de Deus, que ele jamais perderá: 1 Coríntios 3.23 , “Todas as coisas são vossas, e vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.” Todas as condições de sua vida são anuladas para o bem; suas bênçãos são santificadas, e suas misérias extintas: Rom 8.28: “E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”
4. Ele tem a certeza de um pacto para a glória eterna: 1 João 3.1: “Eis que agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser,” etc. Um título nada é antes que se venha a desfrutar uma propriedade? Reputamos um herdeiro mundano feliz, tanto quanto aquele que já se encontra na posse do bem, e não somos herdeiros felizes de Deus?
5. Ele tem experiências doces da bondade de Deus para com ele aqui neste mundo: Sl 17.15: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça, vou estar satisfeito quando eu acordar com a tua semelhança.” A alegria da presença e do sentido do amor do Senhor contrabalançará todas as alegrias do mundo.
6. Ele tem uma grande paz: Gál 5.16: “E a todos quantos andarem conforme esta regra, a paz esteja com eles, e misericórdia, e sobre o Israel de Deus.” Obediência e caminhar santo trazem paz: “Grande paz têm os que amam a tua lei, e neles não há tropeço”, Sl 119.165, como há paz na natureza, quando todas as coisas mantêm o seu lugar e a ordem. Esta paz os outros não podem ter. Há uma diferença entre um mar morto e um mar calmo. Eles podem ter uma consciência estúpida, não uma consciência tranquila. A virtude deste ópio em breve acabará; e a consciência voltará a ser despertada.
APLICAÇÃO.
Oh então, deixe-nos tomar parte nesta bem-aventurança! Há dois estímulos no serviço de Cristo – nossas tribulações e nossas recompensas. Nossas recompensas devem ser suficientes, o gozo eterno em si mesmo. Mas, oh! clamamos do tédio do caminho. Temos também nossas aflições, que não são desprezíveis. Se um homem oferecesse um senhorio ou fazenda para outro, e este dissesse: O caminho é sujo e perigoso, o clima muito problemático, eu não vou cuidar dela, você não iria acusar este homem de loucura, que ama a sua facilidade e prazer? Mas agora, se este homem tivesse a garantia de um caminho agradável e bom, mas se ele tivesse que fazer um pouco de esforço para vê-lo, não seria de fato uma loucura irracional recusá-lo. Nosso Senhor tem feito uma bendita herança nos termos do evangelho, mas estamos cheios de preconceitos, porque pensamos que cumprir a regra poderá trazer problemas, e nos privar de muitas vantagens de ganho, e pensamos que nunca mais teremos um boa dia. Mas temos a certeza de que há uma grande bênção andar junto com o jugo de Deus; e temos a promessa do gozo da presença de Deus, onde há prazeres para sempre, isto deve fazer-nos despertar na obra do Senhor.