“Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.” (Lucas 9.60)
Quem é o morto que sepulta outro morto? Por que Jesus disse isto?
Vejamos o Por quê:
Observe o uso da palavra natureza, nos dois textos bíblicos a seguir:
Primeiro se referindo a toda a humanidade, lemos em Efésios 2:3:
“entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”
E no segundo texto de 2 Pe 1.4 lemos:
“pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo,”
Em ambos os textos citados a palavra natureza, vem do original grego, fúsis (pronúncia físis), que significa condição de origem, de nascimento.
No texto de Efésios 2.3, temos a indicação da natureza terrena, herdada de Adão. E no de 2 Pe 1.4, a natureza divina, que é obtida pelo novo nascimento ou como também é designado, a regeneração do Espírito Santo. Assim, por nascimento natural, o homem não possui a natureza de Deus.
Ele está desprovido de tal natureza, e por isso está impossibilitado de ter comunhão com Deus enquanto permanece em tal condição simplesmente natural, ou como é também designada na Bíblia, por carnal. Por isso nosso Senhor disse a Nicodemos que o que é nascido da carne é carne, ou seja, o homem natural não pode gerar, de modo nenhum o homem espiritual, que é o que possui a natureza de Deus.
Daí a necessidade do homem nascer de novo do Espírito Santo, para que possa ter gerada nele a natureza divina, pela qual poderá então agradar a Deus e ter comunhão com Ele.
Enquanto na carne, por mais esforçada, correta, simpática, amiga, dedicada, carinhosa, religiosa, paciente, alegre, que uma pessoa seja, ela não pode dar prazer e contentamento a Deus, porque para tanto, é necessário haver comunhão no Espírito, e quem está na carne, ou seja, tendo apenas a natureza terrena, não pode de modo algum se sujeitar a Deus ou agradá-lo.
Isto é fácil de ser comprovado até mesmo na experiência de cristãos autênticos, espirituais, que não podem ter comunhão e nem prazer e satisfação, com a testificação do Espírito Santo, com pessoas que vivam na carne, e até mesmo com outros cristãos carnais.
Isto comprova que o princípio espiritual é o mesmo relativo ao natural, no que diz respeito à natureza, e por isto se vê companheirismo e aceitação somente entre naturezas iguais, e daí se afirmar que águia não voa com urubu.
Ou será visto, em regra geral, bom entendimento entre zebras e leões ou cães e gatos?
E por que isto?
Por uma simples questão de natureza. Sendo que em relação ao homem, que apesar de no princípio da criação, não possuir qualquer pecado, não tinha no entanto a mente de Deus… ele não havia comido do fruto da árvore da vida, que simbolizava a vida de Cristo em nós.
Tinha, antes da queda, uma natureza terrena, natural, não possuía a habitação do Espírito Santo, e por conseguinte, não possuía a natureza divina.
O próprio Adão, sem pecado, necessitaria da habitação do Espírito Santo, para galgar da posição de criatura de Deus, para a de filho de Deus. Necessitava, ainda que sem pecado, da adoção de filho de Deus.
Se Adão não houvesse pecado, se sua natureza não tivesse sido corrompida, nosso Senhor Jesus Cristo não necessitaria se oferecer como sacrifício para lhe conceder a natureza divina.
Mas Adão pecou, e o pecado entrou no mundo. Toda a sua descendência ficou sujeita ao pecado.
O homem passou a ter então uma natureza terrena decaída, culpada, condenada à destruição eterna, que é a morte espiritual eterna.
Não temos assim, não apenas uma situação a ser revertida, a saber, que o homem volte para a condição inicial sem pecado de Adão no jardim do Éden, do estado de pecado para o de natureza terrena sem pecado, porque o alvo de Deus na criação do homem, sempre foi, desde antes dos tempos eternos, que ele fosse um com Jesus Cristo em espírito.
Que o homem vivesse pela vida de Cristo nEle, tendo ao Senhor Jesus como sua cabeça eterna. Por isso a árvore da vida estava no centro do Jardim do Éden, indicando tal propósito. Porque é em Cristo que o homem deve se abrigar e se alimentar. Ele é a única árvore que foi designada para tal propósito, de modo que sem Cristo o homem não pode viver eternamente na presença de Deus.
Mas para lançar mão da árvore da vida, que é Cristo, o homem precisa antes ter resolvido o problema da corrupção da sua natureza, da sua dívida eterna para com Deus, por se encontrar em estado de rebelião contra Ele, de odiar a Sua santa e perfeita vontade, em razão do pecado.
O homem necessita antes ser perdoado e justificado do pecado. A justiça perfeita de Deus exige isto.
Tal é a condição de oposição, de inimizade da natureza decaída do homem, contra Deus, em razão do pecado que passou a habitar nela, que o homem odeia a idéia de tudo o que se refere à palavra santidade, porque foi principalmente para este propósito que foi criado por Deus, a saber o de ser completamente santo, assim como o próprio Deus é santo.
Qual é a expectativa de Deus em relação àqueles que têm sido designados para a salvação em Cristo Jesus?
Simplesmente a de que sejam convencidos do pecado pelo Espírito Santo, isto é, que saibam que eles possuem uma natureza pecaminosa decaída no pecado, que necessita ser crucificada, para o recebimento instantâneo da nova natureza divina, e também despojada, para o crescimento em graus da divina. E que eles tenham humildade de espírito para reconhecerem e confessarem isto. Que tenham um coração quebrantado e contrito que chore e clame diante de Deus aspirando e Lhe pedindo que os livre de tal natureza decaída, e que lhes dê uma nova natureza divina, pela habitação e senhorio de Cristo nos seus corações.
Vemos assim, que o problema básico do homem sem salvação, não é simplesmente o fato de cometer atos falhos e de transgredir as leis de Deus, porque a causa básica de suas negligências e maus pensamentos e ações, coisas, que a propósito deve detestar e abandonar, é a natureza carnal que todo homem possui por condição de nascimento natural, herdada de Adão, que faz com que sejamos concebidos em pecado, ou sujeitos à escravidão do pecado.
Seu espírito está morto, isto é, separado de Deus, e separação é morte, tal como sucede com o nosso espírito e o nosso corpo, que quando separados, o corpo morre.
Por analogia, Deus é espírito, e o homem é carne.
Se Deus se afasta, então a carne morre, ou seja, metaforicamente falando, o homem.
Deus disse que no dia em que o homem comesse o fruto proibido ele morreria. Veja bem, no dia em que o fizesse. E Adão realmente morreu em espírito quando desobedeceu a Deus. E seu estado de morto espiritual foi passado para toda a sua descendência, a saber, toda a humanidade, porque todos descendemos do primeiro homem criado por Deus.
É errôneo pensar por isso que criancinhas que morram, herdam o reino dos céus por causa da sua inocência. Não é por isto. É sempre por causa da cobertura do sangue de Cristo, oferecido para nos justificar do pecado e para nos dar acesso à natureza divina. Deus fez a promessa de que o reino dos céus é das criancinhas. E é por isso que elas vão para o céu, se vêm a morrer sem terem consciência do pecado. Eram eleitas de Deus, e o Senhor permitiu que elas fossem bem cedo para o seu seio, do mesmo modo como irão todos aqueles que forem redimidos pelo sangue de Cristo, sejam jovens ou velhos.
Quando nosso Senhor disse que o Espírito Santo nos seria enviado por Ele com o propósito de convencer do pecado, da justiça e do juízo, o que Ele queria destacar era muito mais o fato de que o homem só pode chegar ao reconhecimento desta condição carnal, de ter uma natureza caída, pelo trabalho do Espírito Santo em sua mente e coração; do que simplesmente nos levar a reconhecer atos pecaminosos que cometamos.
E isto deve ser feito por graça, porque o homem não teria como pagar a Deus o preço correspondente à própria eternidade e ao sacrifício e o sangue oferecidos por Jesus para a sua libertação. E para que seja por graça, deve ser também feito por fé, o dom dado por Deus ao homem, para crer, aceitar, confiar, agradecer a graça que lhe está sendo oferecida em Cristo para a sua redenção, ressurreição, santificação e glorificação.
Como já dissemos, a transação aqui não é apenas a de livrar o homem de atos falhos, de transgressões da Lei e da vontade de Deus, mas sobretudo da natureza decaída e corrompida que ele possui. Foi por isso que Jesus morreu na cruz. Para que considerados por Deus, pela fé Nele, crucificados juntamente com Ele, pudéssemos receber a sentença de crucificação e mortificação de tal natureza carnal. Assim, no cristão, a carne está morta para Deus, e agora ele vive em novidade de vida, ou seja, pela nova natureza recebida na conversão.
Ele agora conhece a Deus em espírito. É filho de Deus pelo poder que lhe foi concedido por Jesus Cristo. Ele ama a lei de Deus ainda que haja resquícios da velha natureza operando em sua carne. Deus o ama e aceita plenamente porque é filho e não bastardo. E começa a trabalhar nele o crescimento em graça que o conduzirá à glória celestial.
Tendo em si a natureza divina, o cristão pode responder aos movimentos e vontade do Espírito Santo que nele habita, sendo conduzido à oração, à meditação na Palavra e à prática das boas obras de fé, produzidas através dele pelo mesmo Espírito.
Deus está satisfeito com o cristão por causa de Cristo e da obra que foi consumada por Ele. E o cristão está também contente com o seu Deus, ainda que em meio às tribulações, se regozijando nelas, porque elas o têm levado para mais junto do Senhor e ao Seu conhecimento. Assim a vida de Adão em nós vai ficando cada vez mais fraca e desaparecendo, e a de Cristo vai aumento em graus, de glória em glória e de fé em fé. Louvado seja Deus pelo seu dom inefável em Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém
Votemos ao nosso texto de Efs 2:3:
“entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”
Veja que é dito que todos nós, a saber os cristãos, andamos também na mesma condição e obras dos filhos da ira divina, ou seja, éramos por causa da nossa natureza decaída no pecado, tanto filhos da ira como os demais homens.
Foi Cristo quem nos resgatou de tal condição.
Assim, podemos entender que ninguém verá o reino de Deus e será considerado digno de herdar tal reino, porque era uma pessoa boa, distinta, diferente dos demais pecadores. Não. Nada disso. Porque mesmo depois de redimidos não deixamos de ser pecadores enquanto estivermos neste mundo.
Então o que foi que fez a diferença? Porque os pecados eventuais dos cristãos não os sujeitam mais à condenação eterna, à ira e à maldição de Deus? Quem dentre eles não clamará junto com Paulo: Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Bem educado e disciplinado pela graça, todo cristão dirá também juntamente com o apóstolo: Mas graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, que nos livrou desta lei do pecado que opera na nossa natureza. Que nos considerou justificados do pecado, não para pecarmos, para continuarmos na prática do pecado, mas do fato de termos ainda uma natureza que é um corpo de pecado já sentenciado, crucificado, morto, por causa de nosso Senhor Jesus Cristo que morreu a nossa morte, e que foi condenado no nosso lugar, para que fôssemos libertados da escravidão a que estávamos sujeitos por causa da nossa velha natureza.
Este é o cerne do evangelho exposto em poucas palavras.O evangelho não nos foi dado para nossa apreciação e consideração filosóficas, mas para que creiamos nele, e crendo sejamos salvos e tenhamos vida eterna. Ao ter ouvido a verdade, não será de qualquer proveito que você se sinta apenas despertado para a realidade da nossa condição neste mundo, tal como o fora no passado o jovem rico que veio ter com Cristo, agitado em sua consciência, mas não disposto a renunciar a tudo para ter a vida eterna e o reino dos céus.
Dê mais um passo adiante do coração despertado, e peça a Deus um coração quebrantado, humilde e contrito, que sinta a dor pelo fato de estar debaixo do pecado, da maldição da Lei e da ira de Deus.
Clame, não dê sossego a si mesmo e nem a Deus, enquanto não sentir que houve o recebimento de uma nova natureza do céu, da natureza divina prometida para os que cressem em Cristo.
Que o Espírito Santo lhe conceda esta bênção, por não ter olhado para si mesmo buscando algo de bom que pudesse agradar a Deus e torná-lo digno do céu, mas por simplesmente olhar para Cristo, considerando o desespero total do seu caso, que é o de ter uma natureza que nem você nem qualquer outro poder deste mundo ou fora dele, é capaz de mudar, senão somente Aquele que nos foi dado por Deus para operar tal mudança em nós, a saber nosso Senhor Jesus Cristo, de modo que toda a honra, glória e louvor sejam dados somente a Ele e para sempre e sempre. Amém.
Pr Silvio Dutra