A justificação por meio da fé em Cristo nos salva, mas ela não é um passe livre para que possamos pecar, uma vez que se diz na Bíblia que não são exigidas as obras da lei para a justificação. Assim, os que querem afirmar a necessidade da Lei para a justificação e para a santificação e bom testemunho de vida, alegando que é exigido afinal por Deus em sua Palavra, erram não no que dizem em relação à santificação, mas no que dizem quanto à justificação, que realmente é somente por graça, mediante a fé. Mas, se eles querem e exigem, como de fato deve se exigir testemunho de vida em boas obras, devem saber que Cristo não é ministro do pecado, senão de completa pureza e santidade de vida.
Os que são justificados, o são exatamente para que se cumpra o propósito de santificação completa de suas vidas; o que, a propósito não pode ser alcançado de fato, caso o homem não seja antes justificado e regenerado. Uma obra espiritual como esta é algo que pode ser realizado somente por Deus, pelo Seu Espírito, e jamais pelo próprio poder do homem. As obras da Lei que os judaizantes afirmavam como necessárias para a justificação não poderiam jamais atingir tal propósito, por causa da fragilidade e pecaminosidade da natureza terrena. Se a justificação pudesse ser alcançada por obras da Lei, Cristo não precisaria ter morrido pelos pecadores. Ele teria morrido em vão, já que o próprio homem poderia ser justificado pelo seu próprio e exclusivo esforço em guardar a Lei de Deus.
Somente a justificação verdadeira, que é pela graça, pode transformar o coração do pecador e inserir nele um novo princípio espiritual de vida, que o levará a detestar o pecado e desejar se consagrar inteiramente a Deus. A Lei é boa, santa, e justa, mas não justifica. De fato não podemos acrescentar com nenhuma das nossas boas obras de justiça, mesmo que sejamos cristãos, um só milímetro à justiça perfeita de Jesus Cristo, que recebemos somente pela graça e mediante a fé. Spurgeon disse que, sendo cristãos, nós não teremos no céu uma justiça mais perfeita do que a que temos aqui na terra. A obra que Jesus realizou na cruz foi plenamente consumada, de maneira que não necessita que nada mais lhe seja acrescentado para a nossa salvação.
A justiça que recebemos dEle na conversão é suficiente para nos dar o céu, porque ela é perfeita em todos os aspectos necessários para satisfazer as demandas da própria justiça de Deus em relação a nós. De maneira, que a justiça que é implantada em nós pelo Espírito Santo, através da prática das nossas boas obras não nos acrescenta qualquer mérito, de modo que nos tornemos mais merecedores do amor de Deus. Ele nos tem amado incondicionalmente por causa de Cristo. Ele nos tem recebido e sempre nos receberá, por causa dos méritos de Cristo e nunca pelos nossos próprios méritos. Nós poderemos agradá-Lo ou desagradá-Lo, respectivamente, pela prática ou não, das boas obras; mas não será pela Sua aprovação ou reprovação, que acrescentaremos ou perderemos um só côvado da justiça perfeita que recebemos de Cristo na nossa justificação.
Nós O amamos, amamos a Sua Palavra, amamos a santificação, e é isto que é tido em conta em nosso favor, superando nossas limitações e fraquezas, porque o amor cobre multidão de pecados. Esta veste da justiça de Cristo com a qual fomos vestidos está perfeita, e nada deve lhe ser acrescentado ou retirado. O nosso aperfeiçoamento espiritual não significa o aperfeiçoamento desta justiça que nos foi atribuída na conversão. Nós crescemos espiritualmente, desenvolvemos nossa salvação com temor e tremor, mas nada disto nos tornará mais filhos de Deus do que já somos; pela simples fé em Cristo. Por isso, o Evangelho é retratado na experiência do filho pródigo da parábola narrada por Jesus Cristo. Ele foi recebido de braços abertos pelo Pai, porque era filho.
Ele tinha a justiça perfeita que livra de toda condenação, e foi isto que o habilitou a ser recebido daquela maneira, porque tinha a justiça perfeita de Cristo, foi adotado como filho de Deus. Aqueles que são Seus filhos podem desfrutar inteiramente do Seu amor. Esta é a grande e essencial diferença entre o Evangelho e a Lei. Daí se dizer que em Cristo, todos os cristãos se encontram aperfeiçoados, diante de Deus, quanto a esta justiça perfeita que receberam pela fé, ainda que possam não estar ainda aperfeiçoados em seu amadurecimento espiritual, que será realizado pelo processo da santificação do Espírito, mediante a Palavra de Deus. Baseado em Gálatas 2.11-21