Paulo está abrindo para nós nesta epístola, como se vê em todos os demais documentos do NT, o que é o evangelho, e como é que se relaciona com a humanidade, segundo o propósito fixado para ela por Deus.
O principal alvo do evangelho é o de nos remir do pecado, de nos transportar das trevas para a luz, da potestade de Satanás para a de Deus, enfim, é a de nos apresentar santificados, inculpáveis perante Deus, para sermos úteis ao Seu serviço.
Então o apóstolo vai continuar descrevendo no segundo capítulo de Romanos, a terrível condição de miséria a que está sujeita a natureza humana em razão de se encontrar decaída no pecado. E nisto não há qualquer exceção, porque todos são pecadores, por possuírem tal natureza pecaminosa.
Ele vai demonstrar o quão está o ser humano afastado daquela condição santa exigida pela Lei de Deus. O quanto a sua vida é oposta à mesma. E sem a graça do evangelho operando em sua vida o homem está irremediavelmente perdido na referida condição.
A propósito, Jesus definiu como sendo seus amigos, somente aqueles que guardam os Seus mandamentos. E a Bíblia nos ensina que amando o mundo, os prazeres carnais, o dinheiro e as riquezas terrenas, nos constituímos a nós mesmos inimigos de Deus.
Vemos portanto, a quantas condições de provocação da justiça, da santidade, da longanimidade e da comunhão com Deus estão sujeitos até mesmo os cristãos que não vivem segundo a norma bíblica, por não mortificarem a carne e andarem em novidade de vida no Espírito.
Já não são inimigos declarados por causa da cruz, mas vivem como se fossem inimigos da verdade da Palavra que é o único meio pelo qual podem ser santificados pela operação do Espírito Santo, quando deixam de amar ao Senhor guardando os Seus mandamentos, porque estão amando o mundo.
Afinal, a quem Deus enviará para abençoar a outros, ou quem será enviado a nós para ser abençoado, quando nós mesmos somos necessitados de sermos corrigidos e aperfeiçoados naquelas coisas mínimas que nos purificariam dos pesos que nos fascinam e dos pecados que nos assediam tão de perto?
Primeiro removemos a trave do nosso olho e depois estamos habilitados a tirar o cisco do olho do nosso irmão.
No segundo capitulo de Romanos estão contemplados aqueles que sequer foram lavados pela graça de Jesus, e que portanto, permanecem nas trevas do pecado que os escraviza, e os leva a serem e a se comportarem de maneira contrária à Lei de Deus.
Se a condição de toda pessoa é a de estar naturalmente inclinada ao pecado, então, qualquer um que julga o seu próximo e se compara a ele, pensando que está justificado pelo simples fato de ser religioso, é indesculpável e condena a si mesmo, conforme o apóstolo afirma logo no início deste segundo capítulo.
Meros ritos, cerimônias e tradições religiosas não são eficazes para vencer o poder do pecado que opera no íntimo de cada pessoa.
Deus requer conversão, porque sem esta, não é possível atender à demanda da sua justiça, que não faz distinção de pessoas, condição de nascimento, ou religião.
É somente por um coração convertido, circuncidado pelo despojamento da carne, que se pode estar habilitado a viver de modo que seja condizente com a justiça de Deus, tanto no que se refere a uma sadia moralidade bíblica, como também na expressão de culto, serviço e adoração a Deus, conforme lhe são devidos e instituídos em Sua Palavra.
E sem Cristo na vida, habitando e operando em nosso coração, isto não é possível.
Daí Paulo ter afirmado nos versos 9 e 10:
“9 Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;
10 Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;”.
Então ao se falar na graça, na fé, na justiça do evangelho que são recebidas de Cristo, e que estão em Cristo, fala-se ao mesmo tempo de uma operação real na vida do cristão, convertendo-o das trevas para a luz, e da prática do mal para a prática da justiça evangélica.
A pessoa que se converter realmente, será habilitada a amar a Palavra de Deus não somente para ouvi-la mas para praticá-la.
Ela será capacitada pela graça a amar a Deus e a seus irmãos em Cristo, e a buscar viver em unidade espiritual com Deus e com seus irmãos na fé, porque tem agora a habitação do Espírito Santo, conforme Deus prometeu que o daria a todo que fosse feito discípulo de Cristo.
Assim não é pela sua bondade e afeto naturais que o homem é livrado da condenação futura, porque todos são pecadores destituídos da glória de Deus, e necessitam serem justificados por Cristo, e serem regenerados e santificados pelo Espírito Santo, de maneira que não é a própria justiça da pessoa que a salvará, mas a justiça de Cristo que ela encontrou no evangelho.
E todos os que forem transformados pela graça do evangelho, viverão eternamente, porque buscarão andar na prática da justiça que é ensinada na Bíblia, especialmente no evangelho, e serão perfeitos no porvir, conforme a promessa e esperança do evangelho. Somos salvos na esperança do que seremos, da perfeição em santidade pela qual aspiramos e lutamos enquanto neste mundo.
Por isso o apóstolo disse o seguinte nos versos 6 a 8:
“6 O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
7 A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
8 Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;”
A desobediência à verdade aqui referida, é sobretudo uma rebelião contra a verdade do evangelho que é Cristo.
A resistência a Ele e a consequente rejeição ao evangelho é o que resulta em juízo divino, porque sem isto, ninguém está capacitado a viver do modo que é exigido pela justiça divina, sendo habilitado a caminhar pela senda de obediência aos mandamentos do Senhor.
Jesus falou claramente sobre a necessidade de se nascer de novo para se entrar no reino dos céus.
Por isso foi logo ao ponto com Nicodemos lhe dizendo que não era o fato de ser um religioso sincero que lhe garantia o acesso ao reino de Deus, mas sim, caso tivesse uma experiência real de novo nascimento do Espírito Santo.
Deus não faz distinção entre judeus e gentios, porque não faz acepção de pessoas.
Os judeus não tinham portanto nada do que se gloriar em relação aos gentios, porque tanto estes que não estiveram debaixo da Lei de Moisés, quanto os judeus que estiveram debaixo da Lei, caso vivessem no pecado, pereceriam igual e eternamente, se não fossem justificados pela fé no evangelho de Cristo.
Assim, neste ponto, o judeu não se encontrava em vantagem em relação aos gentios quanto à justiça do evangelho, e nem os gentios em vantagem em relação aos judeus, porque tanto um quanto outro são justificados pela graça, por meio da fé em Cristo.
Não tem nenhum valor a mera ortodoxia do judeu na defesa da Lei, porque não lhe ajudaria em nada quanto à salvação segundo o evangelho, pois não é por se ter a Lei e se gloriar em Deus, e saber a vontade de Deus e aprovar o que é prescrito na Sua Palavra, ainda que seja um mestre da Lei, caso não se pratique aquilo que se defende, como Paulo diz nos versos 17 a 24.
Os que não conhecem a Lei escrita revelada por Deus também serão condenados caso não tenham sido justificados pela graça, uma vez que há uma lei escrita em seus corações, em suas consciências, ali colocada por Deus com o propósito de ensinar ao homem qual é o caminho pelo qual deve andar.
Além disso, todos os homens estão debaixo da Lei original de Deus, do pacto de obras que fizera com toda a humanidade através de Adão, pois foi ordenado ao homem que seja perfeito em todos os sentidos (justiça, santidade, etc) diante dEle. Esta é a Lei régia à qual se refere Tiago (2.8), resumindo-a no amor perfeito devido ao próximo. É a Lei do Rei. Do criador do homem e Juiz do universo. De Deus que fez o homem para amar e ser amado em perfeição de obediência aos Seus mandamentos. Uma vez quebrada a Lei, o homem se torna culpado e condenável a um juízo eterno.
Todos pecaram neste sentido. Todos quebraram a Lei régia de Deus e por isso serão condenados. Condenação esta da qual podemos nos livrar somente por meio da expiação e redenção do sangue de Jesus. (Veja mais detalhes nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/2013/09/o-que-e-estar-debaixo-da-graca-e-nao-da.html
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/search?q=como+a+miseric%C3%B3rdia+triunfa+sobre+o+ju%C3%ADzo )
Então, para aqueles que são salvos da condenação não há outro caminho senão o de viver pela justiça de Cristo, na prática do bem.
Assim, não é bastante conhecer o bem; falar bem, professar o bem; prometer o bem, porque é necessário acima de tudo fazer o bem.
E segundo o apóstolo para praticar o bem conforme ele é definido por Cristo, é necessário viver na fé do evangelho, porque é por este meio que podemos comprovar para nós mesmos que fomos de fato salvos pela graça de Jesus.
Pr Silvio Dutra