Uma melhor compreensão da verdadeira natureza da Igreja, tem possibilitado em nossos dias um grande aumento e retorno ao modelo de igrejas orgânicas (em lares).
Igreja nos lares não se trata de congregações dentro de uma igreja mãe.
Não é o que se chamou no passado de “ecclesiolae in ecclesia”, como a defendeu por algum tempo o próprio Lutero, no afã de reunir os crentes espirituais separadamente dos carnais e dos fracos na fé, pertencentes à mesma congregação.
Esta iniciativa não tem apoio bíblico porque os fortes devem suportar os fracos e os espirituais devem ajudar seus irmãos carnais a fazerem progresso em santificação.
Então, quando se fala em igrejas nos lares somos remetidos à formação da primeira igreja genuinamente congregacional, por Henry Jacob, em torno de 1605.
Diz-se congregacional porque ele e seus seguidores formaram congregações livres e independentes.
Não aceitavam a interferência de bispados, de denominações, etc.
Assim, quando igrejas ditas congregacionais formam juntas e se reúnem numa denominação debaixo da direção de um presidente geral, já não se pode dizer das mesmas que sejam igrejas genuinamente congregacionais, respaldadas no princípio geral de independência e liberdade, tal como fora vivido por Henry Jacob.
Um dos principais motivos de as Igrejas Protestantes formarem denominações, é a preocupação de não serem atacadas pelo Catolicismo Romano, de constituírem um rebanho dividido, conforme é costumeiro afirmarem.
Ora! Que modelo de unidade espiritual perfeita em amor, e baseada na verdade e justiça evangélicas, há em Roma?
Não há em Roma, como em qualquer outro organismo denominacional de caráter institucional, formado por uma dita e utópica comunhão em doutrina, fé e amor.
Portanto, este tipo de argumento de reunião de igrejas locais, em prol de uma alega unidade, é na realidade uma grande cilada para que as igrejas que deveriam ser livres e independentes se esforcem para ser como a própria Igreja Romana.
Unidade da Igreja não é de caráter de subordinação a governos institucionais, mas unidade na fé, no amor (ágape) e no Espírito Santo, de maneira que todo verdadeiro crente se sente em unidade com todos aqueles que são de fato nascidos de novo do Espírito Santo, sem ter que estar necessariamente subordinado a bispados, prelados etc.
Deste modo, a unidade do rebanho de Cristo não é de caráter de subordinação ou mesmo de aliança entre congregações.
Não há nada que justifique a associação de igrejas como argumento plausível em prol da manutenção de uma alegada unidade.
Isto é uma quimera, uma utopia, um desejo que jamais será realizado enquanto estivermos neste mundo, pois debaixo de qualquer modelo de governo humano, sempre será achado o pecador.
De modo que não se deve colocar sequer em favor da defesa desta ou daquela igreja, desta ou daquela denominação, seja protestante, católico romana, evangélica, pentecostal, neo-pentecostal, ou seja qual for.
Deve-se sim, defender, unicamente a verdade do evangelho de Cristo, conforme ensinado pelos profetas e apóstolos na Bíblia.
Demonstração de força pela reunião de muitos?
Cristo não necessita da força do homem, porque nada se faz no reino de Deus pela força do homem, mas pelo Espírito Santo.
Iludem-se portanto aqueles que pensam não estar quebrando a unidade da Igreja por não se separarem da denominação à qual pertençam.
Afinal não nos convertemos às denominações mas a Cristo!
Além disso, não devemos considerar também o fato de que as demais denominações são formadas também por igrejas de Cristo?
Como seria possível então uma unidade promovida por subordinação, associação e alianças entre diversas congregações das diferentes denominações existentes?
Deus não pode se agradar de uma unidade aparente e disfarçada, senão somente de uma unidade prática e real entre os membros de cada congregação, e de espírito em relação às demais igrejas de Cristo.
É preciso pois ter muito cuidado com argumentos sutis que nos prendam a laços de compromissos com homens, que impeçam um real compromisso com Deus.
O nosso compromisso com os homens deve sempre ser passado sob o crivo do nosso compromisso com Deus, se pretendermos continuar sendo fiéis à verdade.
Devemos nos lembrar sempre que a natureza da unidade referida pelo apóstolo Paulo no quarto capitulo de Efésios é unidade do Espírito.
A base da unidade cristã está no coração ou espírito, e não na mente, em formas de pensamentos ou de adoração.
Diz-se que é unidade do Espírito Santo, porque é forjada por Ele. É um fruto do Espírito.
Por isso se diz que devemos nos esforçar para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3).
A paz é um vinculo, um laço, porque é o que nos une aos nossos demais irmãos em Cristo, e nos torna amigáveis a eles.
Veja que apesar de serem muitas as congregações de Cristo, sejam elas independentes ou não, os motivos para promoção da unidade Cristã de acordo com a Bíblia são os seguintes:
“4 Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;
5 um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.” (Ef 4.4-6)
Se pertencemos a Cristo, nós somos membros de um só Corpo, ligados pelo mesmo Espírito, e assim nos tornamos um, apesar de sermos muitos.
Todos os crentes são chamados à mesma esperança da vida eterna.
Há somente um Cristo no qual todos esperam, e a fé que salva os crentes é a mesma fé comum baseada também numa graça comum que lhes é concedida por um único Deus Pai.
Esta mesma fé é também a única doutrina verdadeira que tem por fundamento os apóstolos e os profetas.
Pr Silvio Dutra