Rute 3.1-13
No texto lido nós temos um relato que põe em evidência mais uma característica dos heróis de Deus no livro de Rute.
Talvez você esteja aí apensar: “Mas aqui temos apenas um diálogo entre uma sogra e uma nora e posteriormente outro diálogo entre homem e uma mulher”. Não há nada aqui que caracterize um herói da fé! Nada extraordinário, nenhum milagre registrado, nenhum evento sobrenatural, ou seja, nada que indique que um herói de Deus está em cena.
De fato, queridos, não há nesse texto nenhum relato de ressurreição de mortos, de multiplicação de azeite na botija, de machado flutuando sobre as águas, de visões e revelações de anjos, de garoto enfrentando leão, urso e gigante, de um comandante que com apenas 300 soldados venceu um exército. De fato, esse texto relata apenas um diálogo entre Noemi e Rute, e entre Rute e Boaz.
No entanto, se olharmos com mais atenção veremos que nesse texto heróis de Deus estão em cena.
Já dissemos aqui que no livro de Rute heróis de Deus são pessoas simples e comuns que vivenciam tragédias, sofrem os efeitos psicoemocionais das tragédias, mas não abrem mão da sua fé.
Dissemos também que os heróis de Deus são pessoas simples e comuns que servem a Deus por ser Ele Deus, e nada mais.
Afirmamos ainda que os heróis de Deus são pessoas simples e comuns que estão dispostas a agirem além do esperado, além do que foi prescrito, a fazerem o inesperado, o não óbvio, a surpreenderem nos seus relacionamentos conforme a proposta de Jesus.
Mas, com base no texto que lemos, queremos dizer que, no livro de Rute os heróis da fé…
1. São pessoas simples e comuns que buscam o justo e o correto mesmo diante da possibilidade de não obterem o desejado, o almejado, o seu sonho de consumo.
No cap. 2.23 somos informados que Rute colheu no campo de Boaz junto com suas servas até que a colheita da cevada e do trigo se acabou.
Era costume em Israel, no final da colheita realizar um festejo, uma celebração.
Então, orientada por sua sogra, Rute tomou um banho, ungiu-se, vestiu seu melhor vestido e foi participar na festa, tendo o cuidado de não ser reconhecida por Boaz.
Seguindo as orientações de sua sogra observou o lugar onde Boaz se deitou, veio de mansinho e deitou-se aos seus pés.
Acordando pela meia-noite, Boaz percebeu que tinha uma mulher deitada aos seus pés. Mas, devido à escuridão não a reconheceu. Aí perguntou: Quem és tu?
Rute se identifica, lança uma proposta de casamento e lembra a Boaz que ele é o resgatador/o remidor; aquele que pela lei e pelos costumes de Israel tem o dever de casar-se com ela e suscitar descendência a Elimeleque, falecido esposo de Noemi, e ao falecido esposo dela, filho de Elimeleque.
Antes de dar uma resposta se assumiria ou não o compromisso de casar-se com Rute, se cumpriria ou não o seu dever de resgatador/remidor, Boaz elogia, louva e exalta a pessoa de Rute pela sua integridade, honestidade e fidelidade às obrigações familiares (v.10).
Rute, uma viúva relativamente nova, bem que poderia ter seguido os seus desejos e buscado prazeres com homens jovens disponíveis naquele “festão”. Mas não o fez, e por isso, foi louvada.
Boaz prossegue nos seus elogios e dá a Rute o mais nobre reconhecimento que uma mulher pode receber. Ele revela a Rute que ela tinha uma boa fama diante da sociedade Israelita; todos comentavam acerca de suas virtudes; todo o seu povo sabia que ela era uma mulher virtuosa.
Amados nos tempos bíblicos (hoje nem tanto), o ser chamada de “mulher virtuosa” era o mais alto reconhecimento que uma mulher podia receber.
A mulher virtuosa era tão importante para a cultura dos tempos bíblicos que existem no Antigo Testamento 21 versículos que exaltam as suas qualidades.
Na introdução desses versículos, está escrito: “Mulher virtuosa, quem a achará? o seu valor excede o de finas jóias”. Pv 31.10
De sorte que, podemos afirmar sem nenhuma dúvida: Boaz estava diante de um “excelente partido”, de uma “menina de ouro”, de uma “jóia rara”.
Pois casar-se com uma mulher virtuosa era e é sonho de consumo de qualquer homem sério.
Adolescentes e jovens solteiras, prestem a atenção! Para “ficar” e tirar apenas uma “casquinha” os rapazes optam pelas mais “fáceis”, pelas de “mente vazia”, pelas mais “atiradinhas”, pelas que se vestem de maneira “sensual e apelativa”, pelas que querem apenas “usufruir o momento”!
Mas quando “esses caras” crescem, amadurecem, tornam-se homens sérios, se estabilizam e resolvem se casar, vocês sabem quem eles vão procurar? Aquelas que não aceitaram apenas “ficar”, aquelas que não permitiram que eles tirassem uma “casquinha”, aquelas que eram mais “difíceis”, aquelas que pensam de forma mais madura sobre a vida, aquelas que se vestem de forma bonita, atual, porém sem sensualidade; porque agora eles querem uma esposa que seja dele e em quem ele possa confiar. Em outras palavras, para se casar “esses caras” querem uma “mulher virtuosa”. Não se enganem! Não se deixem enganar!
Aqui Boaz estava diante de uma mulher virtuosa! Ele não poderia perder aquela oportunidade! Deveria ele mesmo acertar alguns detalhes para o dia seguinte e providenciar imediatamente tudo para casar-se com Rute.
Mas, vejamos o que ele diz no v.12: De fato, eu sou resgatador; casar-se com você e suscitar descendência ao seu marido, é obrigação minha, é um dever meu… porém, … mas, … todavia, … não posso resolver tudo aqui e agora. Existe outro resgatador mais chegado que eu, e pela lei, ele tem prioridade de proteger você e Noemi; ele tem prioridade de casar-se com você. O justo e o correto é consultá-lo, é dar a ele a primazia, é ouvirmos o que ele tem a dizer e o que fará.
Amados diante de um partido tão excelente quanto Rute, Boaz poderia ter resolvido tudo ali mesmo, na calada da noite, por debaixo dos panos; a final de contas ele não foi procurá-la; ele foi procurado por ela.
Ele poderia ter pensado: Não posso correr o risco de perder uma oportunidade dessa! Afinal, não é todo dia, nem em qualquer esquina que se acha uma mulher virtuosa como esta.
No entanto, “Boaz não fez nenhuma manobra nem lançou mão de nenhum artifício para buscar seus próprios interesses. Boaz era um homem de caráter”. (Hernandes Dias Lopes)
Boaz preferiu correr o risco de perder Rute, mas fazer o justo e o correto; preferiu correr o risco de perder o desejado, o “sonho de consumo” de qualquer homem sério, mas poder dormir com a consciência tranquila em saber que agiu honestamente; optou por correr o risco de perder “o excelente partido” que era Rute, mas poder andar com a cabeça erguida nas ruas de Belém pela sua justiça e retidão diante da sociedade.
Embora tivesse interessado em casar-se com a virtuosa Rute, Boaz não criou mecanismos ilícitos; não buscou meios ilegais; não tentou violar a lei; não correu atrás de “jeitinhos” e “arrumadinhos” para não correr riscos, para não perder aquela grande oportunidade.
Essa sua atitude o coloca na galeria dos heróis da fé. Porque no livro de Rute os heróis fé são pessoas simples e comuns que buscam o justo e o correto mesmo diante da possibilidade de não obter o desejado, o almejado, o seu sonho de consumo.
Amados, os heróis de Deus não são forjados através de exibições extraordinárias nem através de demonstrações espetaculares do poder de Deus. Mas, sim, são forjados nas fornalhas da vida, nos desertos para os quais o seu Deus os conduz, no trilhar os caminhos propostos por Ele, no trilhar os caminhos da justiça e da retidão, mesmo que isso implique na possibilidade de não alcançar e de não obter o desejado, o almejado, o seu sonho de consumo.
Em nossa jornada neste mundo todos nós almejamos e desejamos algumas coisas; todos nós temos o nosso “sonho de consumo”. Alguns almejam e sonham coisas grandes; outros têm anseios e sonhos mais modestos. É preciso que se diga que não há nada de pecaminoso nisso! Deus nos permite sonhar, nutrir anseios, fazer grandes planos.
Alguns almejam crescer financeira e profissionalmente; outros almejam terminar uma faculdade, fazer uma pós-graduação, se especializar na sua área; alguns querem apenas ter um emprego estável, casar-se, ter uma casa e constituir uma família; outros almejam apenas que se abra uma porta de emprego para que tenham como se manter dignamente.
Sonhar, nutrir anseios, almejar coisas, planejar a vida, é saudável, faz bem!
Mas, é na busca dessas coisas, é na corrida pela realização dos sonhos, é na luta para se alcançar e se obter o desejado, o nosso sonho de consumo que se forja um herói da fé!
Um herói da fé não busca crescer profissional e financeiramente colocando em risco a saúde espiritual e emocional de sua família; não o faz derrubando concorrentes diretos, explorando e sendo injustos com outros.
Um herói da fé não busca se graduar e pós graduar baixando trabalhos prontos na internet e comprando monografias, dissertações ou teses, estampando na capa o seu nome como se fosse o autor.
Um herói da fé não busca estabilidade financeira sendo conivente com falcatruas, vendendo a alma para se manter no emprego.
Um herói da fé não corre atrás do seu “sonho de consumo” passando por cima de princípios e valores cristãos.
Um herói da fé não busca ostentar bens móveis ou imóveis adquiridos às custas da exploração de outros.
Um herói da fé é aquele que mesmo diante da possibilidade de não obter o desejado e o almejado, busca o que é justo, correto e honesto, aquilo que glorifica a Deus. Isso também é ser um herói da fé!
Pr. Paulo César Nascimento