A Necessidade e o Modo de se Pregar o Evangelho
Multipliquem-se os modos e métodos de evangelização, mas a mensagem do evangelho deve ser sempre a mesma, bem como o grande objetivo final da pregação e ensino do evangelho deve ser sempre o mesmo, a saber, produzir a salvação e edificação de almas na verdade.
Foi com este propósito em vista que o apóstolo Paulo escreveu o texto que lemos no décimo capítulo de Romanos.
Como é somente pelo anúncio do evangelho que pode ser tornada conhecida a justiça de Cristo que está sendo oferecida gratuitamente aos pecadores, justiça esta que é decorrente exclusivamente da graça, mediante a fé, conforme ele havia discorrido abundantemente sobre ela nos capítulos anteriores de Romanos, então ele se aplica agora em demonstrar que há então necessidade de tornar esta justiça conhecida através da proclamação do evangelho.
E a própria fé, por meio da qual somos salvos, é gerada em nós por ouvirmos a mensagem do evangelho – do genuíno evangelho de Cristo, conforme ele foi explicado por Paulo na carta aos Romanos.
Crer no evangelho é crer na mensagem que Jesus veio a este mundo para que pudesse destruir o pecado e as obras do diabo em nossas vidas; para vivermos por meio da Sua própria vida, em verdadeira santificação, despojando-nos continuamente do nosso velho homem, que recebeu a sentença de morte quando, aos olhos de Deus, morremos juntamente com Cristo na cruz, para que vivêssemos em novidade de vida espiritual nos revestindo progressivamente das virtudes da pessoa do próprio Cristo, pelo crescimento das graças implantadas na nossa nova natureza recebida na regeneração, uma vez tendo sido justificados para sempre pela fé nEle.
O que fica aquém desta mensagem, pode ser tudo, menos o evangelho que Cristo veio anunciar, pois este aponta sobretudo para a necessidade de nos arrependermos do pecado para se obter a vida santificada que existe somente na nossa união com Ele.
Esta é a mensagem da qual os cristãos estão encarregados por Deus de anunciar ao mundo inteiro, sem fazer acepção de pessoas, porque o evangelho em si, significa uma boa nova de grande alegria, e tem este caráter porque não se trata de uma justiça que é requerida por Deus de nós por meio dos nossos méritos, esforços isolados e boas obras, para que sejamos salvos, mas uma justiça que está sendo inteiramente oferecida – Cristo, Senhor Justiça Nossa, por meio de quem somos justificados, regenerados e santificados, com vistas à nossa glorificação futura.
Até mesmo as nossas boas obras que devem seguir a salvação pela graça mediante a fé, e que são consequência da mesma, devem também ser feitas em Cristo, por Cristo e para Cristo.
Tendo falado nos capítulos anteriores sobre o significado propriamente dito do evangelho, Paulo vai falar agora neste capítulo sobre o modo de crer no evangelho e de pregá-lo.
Isto deve ser feito de forma positiva, a saber, expondo no poder do Espírito Santo os fatos relativos à obra de Cristo, porque são realidades que se cumpriram para que agora creiamos nelas, e para que por meio delas possamos ser salvos por Deus.
Sem a pregação da verdade não há nenhuma fé, porque aprouve a Deus salvar os que creem por meio da loucura da pregação.
Diz-se loucura, não porque seja algo insensato, mas porque é reputado desta forma pela maioria dos homens, que julgam uma loucura a ideia de o próprio Deus ter encarnado num corpo humano e ter morrido na cruz na pessoa de Seu Filho, carregando sobre Si os nossos pecados, e estar agora ordenando aos homens em todos os lugares que se arrependam de seus pecados e carreguem suas próprias cruzes, para a mortificação do ego carnal, negando-se a si mesmos, para poderem ser verdadeiros discípulos de Jesus.
Uma salvação por obras, baseada em méritos humanos, onde as pessoas se considerem capacitadas em si mesmas para a salvação, é rejeitada por Deus, pois aqueles que se julgam indignos a seus próprios olhos, e quão pobres são espiritualmente, e que se arrependem são os que acham favor diante dEle.
Deus não escolheu os que são sábios, e elevados segundo o mundo, mas escolheu os que são fracos e desprezíveis para o mundo (I Cor 2).
Então, a salvação, o evangelho e suas ordenanças para que o homem se reconheça pecador e que se humilhe diante de Deus, são considerados uma loucura para os que amam o mundo.
Veja o caso dos judeus, para os quais a ideia da morte de Deus numa cruz era e ainda é um verdadeiro escândalo, porque muitos deles esperam até hoje um Messias guerreiro, poderoso, que humilhe e coloque o mundo debaixo dos seus pés.
É simplesmente impossível conhecer a Cristo enquanto se abriga tal tipo de vanglória no pensamento, uma vez que Jesus tem ovelhas em vários apriscos, em todo o mundo, e não somente em Israel.
É impossível conhecer a Cristo quando se tenta agradar a Deus por meio da justiça própria.
Os judeus eram zelosos pelo nome do Deus da Bíblia, mas, segundo o apóstolo sem nenhum entendimento da revelação do evangelho, porque os seus olhos estavam fechados, porque não tinham a iluminação do Espírito Santo para entenderem o modo de salvação que é pela graça, e não pelas obras da lei, mediante a própria justiça do homem; e que o evangelho estava destinado ao mundo inteiro e não somente a eles.
Israel havia sido eleito como nação para que o evangelho fosse pregado por meio deles a todas as nações da Terra, pois se disse a Abraão, o patriarca deles, que no Seu descendente que é Cristo, seriam abençoadas todas as nações.
Assim, Deus não nos salva por causa da nossa condição pessoal ou nacional, ou da nossa própria justiça, mas por causa da justiça de Cristo que nos é imputada por graça e por fé.
A lei mesma tem por finalidade principal conduzir os homens à justiça de Jesus, por reconhecerem a impossibilidade de salvarem a si mesmos com a prática de suas obras, porque por melhores que elas sejam, eles continuam sendo servos do pecado.
Há de fato uma justiça que é pela lei, para a salvação, a qual somente Jesus pôde atender em Seu ministério terreno, porque cumpriu a lei perfeitamente.
Nenhum homem tem tal capacidade e poder, por causa do pecado que habita em sua natureza terrena.
Então é um caminho impossível o de alguém tentar ser justificado pela justiça que é pela lei, do mesmo modo como os judeus continuam fazendo até hoje, e não somente eles, como todas as pessoas que estão debaixo de um sistema religioso que ensina, contra o ensino bíblico, as obras como meio de salvação.
Por isso Deus salva não pela justiça que é segundo a lei, mas pela justiça que é segundo a fé, isto é, que nos vem por causa da nossa fé em Cristo, de que é Ele quem nos salva, independentemente dos nossos méritos e obras, porque não há quem possa cumprir a lei perfeitamente todos os dias da sua vida, e mudar por seu próprio poder a sua natureza terrena pecaminosa.
Assim, a justiça que é pela fé não indaga sobre quem irá para o céu; ou quem descerá ao abismo para que possa ser salvo.
Não há tal necessidade ou dúvida, porque Cristo já morreu e subiu ao céu de onde intercede por nós.
Ninguém achará salvação também no abismo, isto é, na morte, porque é aqui neste mundo o lugar onde somos salvos.
Jesus não subirá dentre os mortos para salvar alguém que desceu à sepultura.
O lugar de ser salvo, é aqui, e o momento é na presente dispensação da graça, que é designada como o dia que se chama Hoje, tão logo ouçamos a voz do Espírito em nosso coração, chamando-nos ao arrependimento e conversão.
Então não há necessidade de se pensar em buscar salvação no céu ou no abismo, porque a palavra que nos salva está junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, quando confessamos a Jesus como Senhor de nossas vidas.
É confessando a Jesus como Senhor com a nossa boca, crendo no nosso coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos para a nossa justificação, que somos salvos pelo poder da Sua graça.
A boca simplesmente faz a confissão da experiência que ocorreu no espírito, isto é, no coração.
E este modo de salvar usado por Deus é tanto para judeus quanto para gregos, porque Ele não faz acepção de pessoas, e é rico para com todos os que O invocam; porque tem prometido salvar a todo aquele que invocar o Seu nome.
Tendo falado sobre o modo de crer no evangelho, o apóstolo falou a partir do verso 14 sobre o modo como deve ser a sua pregação.
Primeiro ele enfatiza, que as pessoas que ouvirão o evangelho e crerão nele, são aquelas que estiverem debaixo de uma verdadeira pregação da verdade do evangelho.
Isto porque há muitos que pregam muitas coisas mas não o evangelho.
Muitos falam coisas acerca do evangelho, mas não o evangelho propriamente dito.
O evangelho é como a semente da parábola do grão de mostarda.
Somente dele pode germinar a vida eterna.
Então não haverá salvação pela pregação de qualquer outra palavra, senão a do próprio evangelho.
Pregar obras como meio de salvação como faz o judaísmo e muitas outras religiões, não é pregar o evangelho.
Pregar prosperidade mundana como sendo o objetivo de Deus para as nossas vidas, não é pregar o evangelho.
Um outro ponto importante sobre o modo de pregar o evangelho, é que aqueles que o pregam devem ser enviados por Deus a fazê-lo.
E todo aquele que Deus enviar nesta missão será antes preparado por Ele, tanto quanto ao conhecimento da mensagem da cruz, quanto a experimentar a cruz em sua própria vida; porque somente aqueles que estão crucificados verdadeiramente podem pregar a mensagem da cruz.
Deve haver portanto uma comissão divina para cada pessoa que é levantada como pregador.
Outro ponto que é destacado por Paulo no verso 15 deste décimo capítulo de Romanos, em relação à pregação, é aquele que faz referência aos pés dos que pregam, e se diz deles que são formosos.
Isto indica, que servir ao Senhor na pregação da Palavra implicará em movimento para ir aonde quer que Ele nos envie.
Será exigido de nós prontidão para caminhar, para avançar, para conquistar almas para Cristo.
Então a fé é pelo ouvir a pregação, e este ouvir deve ser obrigatoriamente da Palavra de Deus, e não de qualquer outra palavra da imaginação, ciência ou artifício dos homens.
A mensagem que devemos pregar é uma revelação que nos veio diretamente do céu, então devemos cuidar para não nos iludirmos pensando que pregamos o evangelho enquanto falamos somente de coisas naturais e de realidades que pertencem a este mundo.
Pr Silvio Dutra