“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)
Esta foi a principal ordem dada por Jesus à Igreja.
Pregar o evangelho, ou seja, anunciar as boas novas da salvação a todas as pessoas do mundo, em todas as épocas, até que Ele venha.
A ordem dada foi bem clara e explícita, pois a palavra evangelho, oriunda do grego, significa literalmente mensagem, anúncio de coisas boas.
Assim, a simples pregação da Lei e das penas da Lei divina, e as ameaças e terrores da Lei para aqueles que não obedecem a Deus, não é ainda a pregação do Evangelho, porque isto, ou seja a condenação do pecador não é nenhuma boa notícia.
E ainda que a Lei do Velho Testamento tenha sido dada à nação de Israel no período da Antiga Aliança, dela se aprende por princípio, que Deus de fato julga e penaliza o pecado, aonde quer que ele se encontre, e assim podemos concluir que haverá de fato um grande juízo final, no qual todos os homens terão que prestar contas ao Senhor.
Todavia, mesmo sabendo que não pregamos o evangelho, quando pregamos o juízo, e a Lei divina, isto se faz necessário para o trabalho de convencimento do pecado pelo Espírito, para que seja produzido o devido arrependimento para a recepção do evangelho com a sua oferta de salvação por meio da fé em Jesus Cristo.
O evangelho é o único bisturi espiritual que pode extirpar o câncer do pecado.
Não se deve portanto, por uma alegada compaixão, esconder das pessoas que todos são cancerosos espirituais aos olhos de Deus, que por fim lhes conduzirá à morte espiritual eterna, caso não sejam operados pelo bisturi do evangelho e tratados com a quimioterapia do céu.
Ainda que numa comparação grosseira, imaginemos alguém querendo fazer vistas grossas para uma enfermidade física, por temor de que seja um câncer. E nisto poderá ser ajudado por outras pessoas que pensem estarem lhe fazendo um bem escondendo o diagnóstico da citada doença.
Esta pessoa brevemente virá a falecer.
Agora, caso encarasse de frente a sua realidade e se submetesse ao devido tratamento, é bem certo que teria grandes chances de vencer a morte.
O mesmo se dá com o tratamento do evangelho.
Se o homem, tentar ser compassivo para consigo mesmo, tentando ignorar o câncer do pecado, não poderá ser tratado pela cura que está disponível para ele somente no evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso reconhecer a nossa doença espiritual do pecado para que possamos procurar o grande médico das almas para sermos curados por Ele.
É por isso que, quando em Lc 2.10, o anjo anunciou aos pastores: “eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor.”, ficam em destaque pelo menos duas grandes verdades:
1ª – A vinda de Jesus, o Senhor, ao mundo como Salvador é uma boa nova de grande alegria. E boa nova, boa notícia, é, voltamos a repetir, o significado literal da palavra evangelho no grego. Uma boa notícia é algo que traz alegria, como destacado pelo anjo em sua anunciação; e no caso, não se trata de uma alegria qualquer que está associada ao evangelho (boa nova), mas uma “grande alegria”.
O fato de aqueles que não crêem no evangelho, serem condenados eternamente no inferno, não é a boa nova do evangelho que é de grande alegria, mas a triste verdade de que qualquer pessoa, sem Cristo, está morta em seus pecados por causa do pecado original de Adão.
E a grande alegria do evangelho é exatamente esta boa notícia de que em Cristo há salvação desta condição de morte espiritual por causa do pecado de Adão.
Assim, a condenação eterna faz parte da verdade da Palavra de Deus quanto ao homem no seu estado pecaminoso, mas não do evangelho, no seu caráter de boa nova relativa ao livramento da referida condição.
2ª – A segunda grande verdade na anunciação do anjo, é que esta boa nova é para todo o povo, isto é, não que todos serão salvos, mas que a salvação em Cristo está sendo oferecida por Deus a todas as pessoas.
O evangelho é para ser anunciado a todos e não para alguns.
Todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo será salvo por dar crédito a esta boa nova e recepcioná-la em seu coração como verdade, pedindo a Cristo simplesmente pela fé nEle, que o perdoe dos seus pecados e o salve da condenação eterna.
A condenação eterna é portanto conseqüente da rejeição desta boa nova, que é a única forma do pecador se livrar da perdição eterna e se tornar filho de Deus.
O evangelho deve ser pregado portanto com o foco na missão de Cristo, consoante com este evangelho, que é a de salvar e não de condenar o mundo.
O pecado, as conseqüências do pecado devem também ser pregadas não como parte do evangelho, mas como alerta quanto ao que sucederá àqueles que rejeitarem a salvação que está disponível a todos em Cristo Jesus.
Cristo veio ao mundo para salvar os perdidos, e ele salva de fato a todo e qualquer pecador que se arrepende e crê nEle.
Graças a Deus pelo seu plano de salvação, pois sem que eu nada fizesse herdei de Adão o dom do pecado e da morte, mas também sem nada fazer, recebi pela graça, mediante a fé, como co-herdeiro com Cristo, o dom da santidade, da vida, da justiça.
E realmente é maravilhosa a graça de Jesus que o levou a experimentar o sofrimento, a injúria, a morte, por amor de mim pecador.
Não foi por nenhum pecado nEle mesmo que Ele sofreu e morreu, mas por ter escolhido livremente se identificar com os pecadores, experimentando a morte no lugar deles, a morte que eles mereciam, a morte que era deles, para que pudessem ter a dívida dos seus pecados perdoada, e pudessem participar da Sua própria vida divina.
Assim, há pecado no desobediente Adão, mas há justiça no obediente Cristo.
Em Adão há condenação e morte, mas em Cristo há salvação e vida.
Há morte no mundo, por causa de Adão, mas também há opção de vida em Cristo Jesus.
Há juízo para condenação no mundo, por causa de Adão, mas também há graça e livramento da condenação, em Cristo.
E há muito mais suficiência de graça, por ser eterna e rica porque procede de Deus, do que há pecado, porque procede do homem e está limitado ao tempo, e está destinado a ser inteiramente destruído por Deus.
Por isso se diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça.
Se recebemos o pecado como um dom de Adão, temos recebido também como um dom de Cristo a Sua justiça, para que não sejamos mais servos do pecado, mas servos da justiça.
Cristo libertou de fato o crente da escravidão do pecado pela sua fé nEle.
E crer nEle para a salvação é crer que a temos por causa da Sua morte e ressurreição no nosso lugar.
Ele morreu por nós para que pudéssemos morrer para o pecado e para a condenação da lei.
E Ele ressuscitou dos mortos para que possamos também ressuscitar dentre os mortos.
Pela fé somos unidos a Ele tanto no que se refere à Sua morte, quanto à Sua ressurreição e vida.
Fomos livrados do pecado para que pudéssemos ser feitos servos de Deus, da justiça de Deus.
Romanos 6.17,20 ensina claramente que o crente já não é mais escravo do pecado, consoante o ensino de Jesus sobre esta verdade em João 8.34-36.
Em razão da libertação da escravidão do pecado para sempre; o crente foi feito também simultaneamente, servo da justiça para sempre, conforme se afirma em Romanos 6.18.
É por isso que agora, tendo sido feito um servo da justiça, que o crente se preocupa permanentemente sobre o modo de vida que agrada a Deus.
Eles sentem as dores e as consequências da quebra da comunhão com Deus quando pecam, porque já não são mais escravos do pecado, e sim da justiça.
É por isso que são convocados a servirem agora o seu novo senhor chamado justiça (Romanos 6.19).
O pecado não tem realmente mais domínio absoluto sobre a vida do crente porque ele foi libertado da escravidão ao pecado por Cristo. O crente não precisa necessariamente ficar sujeito aos comandos do pecado que opera na sua carne ordenando-lhe que desobedeça aos mandamentos de Deus, que se rebele, que minta, furte, cobice, adultere, odeie, não ore, não ame, que se deprima, que fique ressentido, ansioso etc, porque o pecado já não é mais o seu senhor, como era antes de ter sido libertado dele por Cristo.
Pois que morreu também para o pecado quando morreu juntamente com Cristo. E pela Sua graça é impelido agora a praticar a justiça do Reino de Deus. A justiça de Cristo que lhe ordena que ore, confie, espere, obedeça, suporte, seja sincero, verdadeiro, honesto, fiel, que ame, seja manso, tenha domínio próprio, descanse em Deus, não fique turbado, ansioso, magoado, ressentido, antes que perdoe, assim como Deus o perdoou em Cristo.
O crente foi livrado portanto de um cativeiro, para outro cativeiro. Do cativeiro do pecado, para o cativeiro da justiça.
E ser servo da justiça é ser verdadeiramente livre. Porque é nesta condição que pode agora, e poderá perfeitamente no porvir, fazer toda a vontade de Deus. E fazer esta vontade é ter o poder para fazer aquilo que é bom e aprovado. É nisto que consiste a verdadeira liberdade. A de ser e fazer aquilo que foi planejado por Deus para que sejamos e façamos.
Isto é: ser homem, ser filho de Deus, na verdadeira acepção da palavra. Cristo conquistou esta liberdade para os filhos de Adão caídos e cativos no pecado, pela identificação deles, pela fé, com a Sua morte, ressurreição e vida. Libertados agora do pecado, são verdadeiramente livres para poderem fazer a vontade de Deus.
Daí se dizer em Romanos 6.14 que: “o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça.”.
Vemos assim quão imperioso e necessário é que cumpramos a ordem de nosso Senhor de pregarmos o evangelho a todos em todo o mundo, porque não há nada mais importante do que isso, que seja digno do interesse e aceitação por todos os homens de boa vontade.
Pr Silvio Dutra