Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Thomas Manton, baseadas no Salmo 119.3, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.
“Eles não praticam iniquidade, mas andam nos seus caminhos” – (Salmo 119.3)
O salmista continua ainda a descrição de um homem bem-aventurado. Nos dois primeiros versículos, a santidade (que é o caminho para a evidência da bem-aventurança) é considerada em relação ao sujeito e ao objeto da mesmo, a vida e o coração do homem. A vida do homem: “Bem-aventurados os retos em seus caminhos.” O coração do homem: “eles buscam com todo o coração.”
Agora, a santidade é considerada, em suas partes, de forma negativa e positiva. As duas partes da santidade são: 1 – abster-se do pecado e 2 – aplicar-se para agradar a Deus. Você tem ambas neste versículo: “Eles não praticam iniquidade, mas andam nos seus caminhos.”
Primeiro, você tem o homem bem-aventurado descrito negativamente, eles não praticam iniquidade. Ao ouvir estas palavras, ocorre uma dúvida, como pode então alguém ser bem-aventurado? porque “não há homem que viva e não peque”, Ec 7.20, e Tg 3.2: “Tropeçamos em muitas coisas”. Negá-lo, é uma mentira evidente contra a verdade, e contra a nossa. experiência.
“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”, 1 João 1.8. A expressão pode ser mal interpretada por um lado, afirmando-se a impecabilidade e perfeição dos santos. Por outro lado, pode ser mal interpretada por pessoas de uma consciência fraca e tenra, para o impedimento de seu consolo e regozijo em Deus. Quando ouvem que é este o caráter de um homem abençoado, “eles não praticam iniquidade,” eles concluem contra a sua própria regeneração, como sendo a causa de suas falhas diárias.
Para evitar estas dificuldades, perguntarei:
1. O que é praticar a iniquidade?
2. Quem são as pessoas entre os filhos dos homens das quais pode ser dito que não praticam a iniquidade?
Em primeiro lugar o que é praticar iniquidade? Se fizermos disto o nosso comércio e prática para continuar em desobediência intencional. Pecar é uma coisa, mas fazer do pecado nosso trabalho é outra: 1 João 3.9, “Aquele que é nascido de Deus não comete pecado;” ele não faz do pecado o seu trabalho, e Mat 7.23, “Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” Esse é o caráter dos obreiros reprováveis da perversidade. Então temos João 8.34, “todo aquele que comete pecado é servo do pecado.”
O pecado é o seu comércio constante: Sl 139.24, “Veja se há algum caminho mau em mim.” Ninguém está absolutamente livre do pecado, mas não é o seu comércio, a sua maneira, o seu trabalho. Quando um homem faz a sua aplicação de mente e negócio seguir um curso de pecado, então é dito dele ser praticante da iniquidade.
Em segundo lugar, quem são aqueles dos quais é dito que não praticam iniquidade segundo Deus, embora eles falhem, muitas vezes por fraqueza da carne e por causa da violência da tentação? Resposta:
1. Todos que são renovados pela graça, e reconciliados com Deus, por meio de Jesus Cristo; a estes Deus não imputa qualquer pecado para a condenação, e a seu ver não praticam iniquidade. Isto é notável em 1 Reis 14.8. Diz-se de Davi que “Ele guardou os meus mandamentos e me seguiu de todo o coração, e fez somente o que era reto aos meus olhos.” Como pode ser isso? Podemos delinear Davi por suas falhas, elas estão registradas em toda a palavra, mas aqui um véu é aplicado sobre elas, Deus não as colocou em sua conta. Há um motivo duplo porque suas falhas não foram estabelecidas em sua conta.
Em parte, por causa de seu estado geral; pois elas estão em Cristo, tomadas em favor através dele, e “não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo.” Rom 8.1; por isso os erros e omissões particulares não alteraram sua condição. O que não deve ser entendido como se um homem não devesse se humilhar, e pedir perdão a Deus por suas fraquezas, não, porque, então, eles praticariam iniquidades, e elas serão postas em registro contra eles.
Isto foi a fantasia grosseira dos Valentinianos, que afirmavam que não se contaminavam com o pecado que praticavam; embora, pessoas obscenas, ainda assim eles eram a seu ver como o ouro na poeira. Não, não, nós devemos recuperar a nós mesmos através do arrependimento, para obter o favor de Deus. Quando Davi se humilhou e se arrependeu, então Natã disse, 2 Sam 12.13: “O Senhor perdoou o teu pecado.”
Em parte, também, porque sua inclinação habitual é fazer o contrário. Puseram-se a cumprir a vontade de Deus, para buscar e servir ao Senhor, embora eles estejam com muitas fraquezas. Um homem mau peca com deliberação e prazer, sua inclinação é para fazer o mal, ele faz provisão para as concupiscências. Rom 13.12, e as serve por uma sujeição voluntária, Tito 3.3. Mas aqueles que são renovados pela graça, não são devedores à carne; eles tomaram outra dívida e obrigações com eles, que é o servir ao Senhor, Rom 8.12.
Em parte, também, porque o curso e o modo geral é fazer o contrário - tudo funciona de acordo com a sua forma; a ação constante de uma natureza estão de acordo com o seu tipo. Assim, a nova criatura, as suas operações constantes estão de acordo com a graça. Um homem é conhecido por seu costume, e no curso de seus esforços, o que é o seu negócio. Se um homem constantemente, com facilidade, é levado muitas vezes ao pecado, ele descobre um hábito de alma, o temperamento de seu coração.
Os prados podem ser atravessados, mas o chão do pântano é alagado com o retorno de cada maré. Um filho de Deus pode ser levado a agir de forma contrária à inclinação da nova natureza; mas quando os homens são afundados e são vencidos com o retorno de cada tentação, e apostatam, isto evidencia o hábito do pecado.
E em parte, porque o pecado nunca leva à derrota facilmente, mas com alguns desgostos e resistências da nova natureza. Os filhos de Deus fazem o seu negócio evitar todo pecado, observando, orando, e os mortificando: Sl 39.1, “eu disse, eu vou tomar cuidado com os meus caminhos, para que eu não peque com a minha língua.” E então há uma resistência ao pecado. Deus tem plantado graças em seus corações; o temor de Sua majestade, que opera a resistência, e, portanto, não há uma provisão completa do que eles fazem.
Esta resistência, por vezes, é mais forte; então a tentação é vencida: “Como eu posso fazer esta maldade e pecar contra Deus?” Gên 39.9. Às vezes é mais fraca, e, então, é vencida pelo pecado, embora contra a vontade de um homem santo: Rom 7.15,18: “O mal que eu odeio, esse eu faço”. Isto é o mal que eles odeiam; eles protestam contra isso, pois eles são como homens que estão oprimidos pelo poder do inimigo. E então há um remorso depois do pecado: “O coração de Davi o acusou.” Lhes entristece e envergonha terem praticado o mal. Há ternura na nova natureza; Pedro pecou abominavelmente, mas ele saiu e chorou amargamente.
Bem, então, o ponto é este:
Doct. 1 Aqueles que são e serão bem-aventurados são os que fazem o seu negócio evitar todo o pecado.
Posso ilustrar isso por estas razões:
1. Certamente eles serão abençoados, porque eles cuidam para remover aquilo que excita contendas e disputas, o muro de separação entre Deus e eles. É o pecado que separa: Isa 59.2: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus.” Foi isso que lançou os anjos do céu, quando eles pecaram, Deus já não poderia suportar a sua companhia. Isto lançou Adão para fora do paraíso. Isto é o que impede os homens de terem comunhão com Deus.
2. Estes estão se preparando para o gozo de suas grandes esperanças: Col 1.12: “Quem nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz,” I João 3.3: “Aquele que tem esta esperança purifica-se, assim como ele é puro.”
Quando Ester foi escolhida para ser a noiva e esposa daquele grande rei, teve seus meses de purificação. O tempo que passamos no mundo são os meses de nossa purificação; isto é o que eles têm em mente como sendo o seu negócio, eles estão se preparando para a felicidade eterna. Eles se lembram de que são pequenos para aparecer diante do grande Deus, portanto, devem ser preparados.
José lavou as suas vestes quando ele estava para ir diante de Faraó.
Eles têm essa esperança de que verão a Deus como ele é, e que devem ser como ele, e ele vai aparecer para o seu conforto, por isso eles estão se preparando mais e mais.
3. Neles se inicia a verdadeira felicidade. Há graus na bem-aventurança – os anjos que nunca pecaram, os santos glorificados que pecaram, mas que não pecam mais; os santos sobre a terra, nos quais o pecado não reina; por isso é aqui que a felicidade deles começa. Como o pecado é tirado, por isso a nossa felicidade aumenta; primeiro Deus começa conosco com a justificação; ele tira o poder condenatório que está no pecado; e na santificação o trabalho prossegue, para que o pecado não reine posteriormente, portanto, estes começaram a sua felicidade, e eles se apressam em sua direção em ritmo acelerado.
Aplicação 1.
Para julgamento e análise, se podemos ser contados entre os homens bem-aventurados, sim ou não. Há alguns que pensam, porque os filhos de Deus estão sujeitos a tantas falhas, e havendo tantas artimanhas e males no coração do homem, que não pode haver um julgamento sobre o caso entre os pecados do regenerado e do não regenerado. Mas, certamente, há uma diferença entre o pecado de um, e o do outro, e essa diferença pode ser discernida: 1 João 3.9, “Todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando.” Agora observe no verso 10: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo.” Isto é o que distingue os filhos de Deus dos filhos do diabo. Bem, então, como devemos gerir esta descoberta, para que possamos ser capazes de julgar nossos próprios estados?
Primeiro, vamos considerar como o pecado pode estar em um homem abençoado, em um filho de Deus.
1. Eles têm uma natureza corrupta, eles têm pecado em si, bem como as demais pessoas, isto é enfim a sua miséria: Rom 7.24, “Miserável homem que sou”, diz o santo apóstolo. O pecado, embora seja dejectum – derrubado em relação à regência, mas não é ejectum – expulso em relação à inerência; sua natureza corrupta permanece nele. Alguém comparou isto a uma figueira selvagem, ou hera em uma parede; corte o caule, os galhos, ramos, mas ainda haverá algo que estará brotando novamente até cobrir a parede. Assim é o pecado que habita em nós, apesar de nós orarmos, nos esforçarmos, e cortar as brotações aqui e ali, mas até que ele seja arrancado totalmente depois da nossa morte, ele permanece conosco.
2. Eles têm suas falhas e fraquezas diárias: Ec 7.20, “Não não, não há um homem justo sobre a terra, que faça o bem, e que nunca peque.” Aqueles que, por seu estado geral, são homens justos e virtuosos, ainda carregam certos pecados dos quais não podem se livrar, e que são inevitáveis, como pecados de ignorância e, leviandade, dos quais não seremos livrados enquanto estivermos neste estado imperfeito. Assim também imperfeições de dever, pois não podemos servir a Deus com aquele elevado grau de reverência, alegria e perfeição que Ele requer. Há fraquezas inevitáveis que são de fato perdoadas.
3. Eles podem ser culpados de alguns pecados que por falta de vigilância poderiam ser evitados, como os pensamentos vãos, ociosos, discursos apaixonados, e muitas ações carnais. É possível que estes possam ser evitados pelas assistências comuns da graça, e se mantivermos uma estrita vigilância sobre nossos próprios corações. Mas, neste caso, os filhos de Deus podem ser vencidos e subjugados pela rapidez ou violência da tentação: Gál 6.1: “Se um homem for surpreendido nalguma falta, o tal” etc; Tg 1.14, “’Todo homem é tentado quando é atraído e seduzido pela sua própria concupiscência”.
4. Eles pode então cair abominavelmente, como Noé por excesso de bebida; Ló por incesto; Davi por adultério; Pedro por negação. Falhas e fraquezas que não são determinadas pela pequenez ou grandeza do ato, mas por outras circunstâncias concomitantes. Não pela pequenez do ato. Permitir-se afeto para os pequenos pecados é mortal e condenável: aquele que é infiel no pouco será infiel no muito. Cristãos, onde as tentações são fracas e impotentes, e de uma ligeira importância, elas podem ser mais facilmente refutadas, de modo que nossa rebelião a Deus por pequenos pecados pode ser maior. Um homem pode ter grandes afetos aos pequenos pecados; assim, isto pode se revelar uma iniquidade, um pecado abominável.
Por outro lado, grandes pecados podem ser fraquezas, como o incesto de Ló, o adultério de Davi, quando não é feito com pleno consentimento da alma, quando seus corações não estão totalmente carregados com elas. Iniquidades são determinadas pela sua forma: Judas 15, “para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.”, quando, com pleno consentimento da vontade, e quando isto é o curso de um ódio e desprezo habitual de Deus.
5. Um filho de Deus pode ter alguns males particulares, que podem ser chamados pecados predominantes (não com respeito à graça, que é impossível, que um homem seja renovado e tenha esses pecados que resistem à graça); mas deles se pode dizer que têm um predomínio em comparação com outros pecados; ele pode ter alguma inclinação especial para alguns males acima de outros.
Davi teve a sua iniquidade, Sl 18.23. Veja, como os santos têm graças particulares; Abraão era eminente na fé, Timóteo na sobriedade, Moisés, na mansidão, etc. Então eles têm suas corrupções particulares que são mais adequadas ao seu temperamento e curso da vida. Pedro parece estar inclinado a tergiversação, e à hesitação em um tempo de angústia. Vamos encontrá-lo muitas vezes tropeçando nesse tipo de pecado; na negação de seu mestre, novamente, em Gál 2. 12, é dito que ele dissimulou por causa dos judeus, pois Paulo lhe resistiu na cara, porque era repreensível. É evidente, por experiência, que há corrupções particulares para as quais os filhos de Deus estão mais inclinados: isto aparece pelo grande poder e influência que elas têm para comandar outros males a serem praticados, pela sua inclinação para elas.
Em segundo lugar, quando a graça traz isto à lume, onde reside a diferença?
1. No fato de que eles não podem cair naquelas iniquidades em que há uma absoluta contrariedade à graça, como o ódio a Deus e a apostasia total, de modo que não podem pecar o pecado que é para a morte, 1 João 5.16.
2. No fato de que eles não pecam com todo o coração: Sl 119.176, “eu tenho andado desgarrado como ovelha perdida; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos.” Havia um pouco de Deus no coração, quando ele estava consciente de si mesmo de andar desgarrado, e Davi diz em outro lugar: “Eu não me apartei perversamente dos teus preceitos.”. Quando eles pecam, é com a antipatia e a relutância da nova natureza; isto é mais um estupro do que um consentimento. Bernard diz: “Um filho de Deus sofre pecado mais do que pratica, e o seu coração protesta contra isto.”
3. Isto não é o curso deles; não constante, fácil e frequente. Recaídas em pecados grosseiros, afirmam uma aversão habitual a Deus, pois o hábito é determinado pela constância e uniformidade dos atos; portanto, isto sucede de vez em quando debaixo de alguma grande tentação. Há pecado, e há uma forma de pecar: Sl 139.24, “Sonda-me e vê se há alguma forma de maldade em mim”.
4. Quando eles caem, não descansam no pecado: “Será que eles caem, e não se levantarão?” Jer 8.4. Eles podem cair na terra, mas eles não repousam e não chafurdam como porcos na lama. Uma fonte pode ser enlameada, mas trabalha para ficar limpar de novo. A agulha que foi tocada com a magnetita pode ficar desconcertada, mas nunca pára até que ela aponte para o Norte novamente. Os filhos de Deus têm suas falhas, mas buscam o seu perdão, correm para o seu advogado, 1 João 2.1, humilham-se diante de Deus.
5. Suas quedas são santificadas. Quando eles têm ardido sob o pecado, eles crescem mais vigilantes. Um filho de Deus pode ter a pior na batalha, mas não na guerra. Algumas vezes a parte carnal pode conseguir a vitória, e eles podem cair, mas não numa queda final, mas veja a questão: Sl 51.6 : “No oculto me fazes conhecer a sabedoria.” Davi pecou contra o Senhor, mas aprendeu a sabedoria, nunca confiar num coração impertinente, mas achou-se no fim, melhor.
6. A Graça é descoberta pelos esforços constantes que eles fazem contra o pecado. Qual é o curso constante de um cristão? Eles gemem sob os resquícios do pecado, que é o seu fardo, que eles têm uma natureza tão má, Rom 7.24. Eles voam para a graça de Deus em Cristo para receberem perdão diariamente, 1 João 1.9. Eles estão sempre lavando suas vestes no sangue do Cordeiro, Apo 7, e todos os dias estão se limpando da imundícia que contraem pelo pecado: João 13.10, “Aquele que está lavado, não necessita lavar senão os pés.” Um homem que veio de uma viagem, num país onde havia o costume de se andar descalço, quando chegou em casa, teve que lavar seus pés.
Assim, um homem que se reconcilia com Deus, ainda que tenha tomado um banho, na fonte que Deus abriu para lavar a impureza, deve ainda, todos os dias, lavar seus pés, limpando-se pelo sangue de Cristo, cada vez mais, porque ele contraiu uma nova contaminação. Então, usará todos os esforços contra isto, Col 3.5; com a oração, esforçando-se, vigiando, mortificando as disposições da carne. Eles não vivem voluntariamente e sem oposição debaixo do pecado e da sua tirania escravizante. A bendita e habitual inclinação deles é fazer o contrário, por isso que se diz que não praticam iniquidade, ao passo que aqueles que são imprudentes e descuidados de sua alma, do pecado e que nunca o colocam para fora do coração, são os obreiros da iniquidade.
Aplicação 2. Se este é o caráter de um homem abençoado, fazer disto o nosso negócio para evitar o pecado, então aqui está o cuidado para o povo de Deus:
1. Ter cuidado com todo o pecado.
2. Ser muito cauteloso contra os pecados graves, cometidos contra a luz da consciência.
3. Tomar cuidado com a continuação no pecado.
Em primeiro lugar, para ter cuidado com todo o pecado. Quanto mais você tem a marca de um homem abençoado: 1 João 2.1, “estas coisas vos escrevo, para que não pequeis.” Apesar de você ter sido perdoado e purificado pelo sangue de Cristo, de você ter um advogado, todavia, não peque. Agora os motivos para manter esse cuidado são tomados a partir de Deus, de nós mesmos, e a partir da natureza do pecado.
1. De Deus. Não pecar. Por quê? Porque é uma ofensa a Deus. Considere como o pecado é contrário a todas as pessoas da Trindade. A Deus, o Pai, como um legislador, sendo um desprezo de sua autoridade, 1 João 3.4. O pecado é ἀνομίαν, “a transgressão da lei”, ou seja, um ato de deslealdade e rebelião contra a coroa do céu. A desconsideração para com a lei divina. O pecado aberto como ele foi proclamado como sendo rebelião e guerra contra Deus; e o pecado privado é uma conspiração contra Ele.
Todas as criaturas têm uma lei: Sl 148.6, “puseste-lhes um limite, além do qual não podem passar.” E elas são menos exorbitantes em seus movimentos do que nós. Pecar é uma maior violação da lei da natureza para o homem do que para o mar que ultrapassa os seus limites. As criaturas não têm sentido e razão, mas elas não passam além da lei que Deus definiu para elas. Isto deveria prevalecer com a nova criatura em Cristo Jesus, especialmente, com aqueles cujos corações Deus tem adequado à lei, de modo que eles oferecem uma violência à sua própria consciência.
Tenham cuidado para não entrar em conflito com Deus, desprezando a sua autoridade. Qualquer pecado leve que é cometido a lei o proíbe: 2 Sam 12.9, “Por isso tu desprezas os seus mandamentos?” Deus vela muito sobre a sua lei, e um til não passará dela, – e você a despreza, vai torná-la sem efeito, quando você ceder ao pecado. Além disto é um abuso do seu amor: 1 João 3.1, “Vede que grande amor o Pai nos mostrou,” vocês são filhos de Deus, e serão descuidados com o seu amor? Seus pecados são como a traição de Absalão contra seu pai.
Os recabitas são elogiados por terem obedecido à ordem de seu pai, Jer 35. O pai deles estava morto, mas o nosso está vivo; vocês serão filhos renunciando a Deus e tomando partido do diabo, e cometendo pecado, – vocês a quem o Pai mostrou tanto amor a ponto de lhes chamar de seus filhos? Então isto é um erro contra Jesus Cristo – ao seu mérito, ao seu exemplo. Ao seu mérito. Cristo veio para tirar o pecado, e você vai ligar os cabos mais rapidamente do que Cristo veio para soltar? Então você irá derrotar o propósito de sua morte, e colocar o seu Redentor exposto à vergonha.
Você procura anular a grande finalidade para a qual Cristo veio, que foi para remover o pecado. E, além disso, você deprecia o valor do preço que ele pagou, porque você faz do sangue de Cristo uma coisa barata, quando despreza a graça e a santidade, ao não fazer nada daquilo que Lhe custou tão caro, e você diminui a grandeza dos Seus sofrimentos.
E isto é um erro contra o seu padrão. Você deve ser “puro como Cristo é puro”, 1 João 3.3, e veja 3.7, ser “justo como ele é justo.” Você deve descobrir a pessoa santa que Cristo foi, por uma conformidade a ele em sua conversação. Agora, você vai desonrá-lo? Que Cristo estranho você pregará para o mundo, quando seu nome está sobre você – você dará lugar para ao pecado e à insensatez? E é um erro contra Deus, o Espírito Santo, para tristeza dele. Seu grande e primeiro trabalho foi nos lavar do pecado, Tito 3.5.
Você se esquece que este trabalho foi feito no seu coração, quando retorna ao pecado novamente, e que você “tem sido purgado de seus antigos pecados”, 2 Pedro 1.9, e a habitação permanente do Espírito no coração é para verificar as concupiscências da carne, e para prevenir os atos pecaminosos. “Se, pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” Rom 8.13.
2. Por um argumento tirado de nós mesmos, isto é muito inadequado para você. Nos professamos regenerados e nascidos de Deus: 1 João 3.9, “Aquele que é nascido de Deus não peca.” Isto não é somente contrário ao seu dever, mas à sua nova natureza, porque você é uma nova criatura. Seria monstruoso o ovo de uma criatura trazer uma ninhada de outro tipo. Isto é uma produção não natural, a saber, a de uma nova criatura pecar, por isso para vocês que são nascidos de Deus, isto é incomum e inadequado. Não desonre o seu nascimento do alto.
3. Considere a natureza do pecado; se você lhe der lugar, ele irá invadir ainda mais. Os pecados roubam no trono insensivelmente, e ficando acostumados a eles em nós por muito tempo, nós não podemos facilmente sacudir o jugo ou nos livrar de sua tirania. Eles vão de pouco a pouco, e ganham força por atos multiplicados. Portanto, devemos ter muito cuidado para evitar todo o pecado.
A segunda parte do cuidado é, cuidado com os pecados graves, cometidos contra a luz e a consciência. Quando somos tentados a pecar, digamos com José: Gênesis 39.9, “’Como posso fazer essa maldade e pecar contra Deus?” Há maior deliberação e vontade em qualquer ação, o pecado é a mais suja. Considere, pecados imundos são uma mancha que vai ficar muito tempo em nós. Veja 1 Reis 15.5, “Davi andou em todos os caminhos do Senhor, e não se desviou de tudo o que lhe ordenou em todos os dias da sua vida, a não ser no caso de Urias, o hitita”.
Ora, havia muitas outras coisas na qual Davi falhou; você lê sobre sua timidez e desconfiança em Deus: “eu vou perecer um dia pela mão de Saul.” Lemos de sua dissimulação, fingindo-se de louco na companhia dos filisteus. Lemos sobre a sua injustiça para com Mefibosete, sua afeição exagerada por Absalão, sua indulgência para com Amon. Lemos sobre o seu censo do povo, e, desobediência a Deus, que custou a vida de milhares de pessoas instantaneamente, e todas elas são grandes falhas, mas estas foram facilmente lavadas, mas o caso de Urias, deixou uma cicatriz e uma mancha que não foi facilmente lavada.
Em terceiro lugar, cuidado com a continuação no pecado. Como podemos continuar no pecado? Em que sentido? Há três coisas que eu vejo no pecado – Falta, culpa e mancha.
1. A falta é continuada quando os atos inerentes a ela se repetem, quando caímos no mesmo pecado de novo e de novo. Recaídas são muito perigosas, como um osso quebrado, muitas vezes no mesmo lugar, você está em perigo disso, antes da brecha ser bem feita entre Deus e você, como Ló duplicando o seu incesto: aventurar-se uma vez e, novamente, é muito perigoso.
2. A culpa acompanhará um homem até que haja o arrependimento sério e solene, até que se processe o perdão em nome de Cristo.
3. Existe a mácula, a mancha, pela qual os escolásticos entendem uma inclinação para pecar novamente, a má influência do pecado perseverando até usarmos esforços sérios para mortificar a raiz dele. Quando temos sido derrotados por qualquer desejo, esta luxúria deve ser mortificada. Por exemplo, Jonas se arrependeu de abandonar a sua chamada, quando ele foi lançado no ventre da baleia, mas o pecado apareceu de novo, porque ele não mortificou a raiz, que era o seu orgulho. Então, não é o suficiente lamentar o pecado, mas devemos lancetar a ferida, e descobrir a raiz e o cerne da questão antes, e então tudo ficará bem.
Um homem pode se arrepender da erupção do pecado, o primeiro ato, mas a inclinação para o pecado, novamente, não é retirada. Juízes 16.2. Sansão amou uma mulher de Gaza, e ela lhe havia traído, mas pela remoção dos portões da cidade, ele salvou a sua vida: possivelmente sobre aquela experiência ele deve ter se arrependido de sua loucura e amor desordenado por aquela mulher. Mas, ai! a raiz do pecado permaneceu: por isso ele se apaixonou por outra mulher, Dalila.
Portanto, para que você fizesse o que é seu dever, você deveria olhar para a culpa, para que a mesma não seja renovada, para que não seja continuada por omissão de arrependimento; e para que também a mancha não fique sobre você, por não procurar a raiz da fraqueza, a causa do pecado pela qual temos sido derrotados. Assim, para a primeira parte do texto, “eles não praticam iniquidade.”
A segunda parte do texto é, “eles andam em seus caminhos.” Esta é a parte positiva, não somente evitando o pecado, mas a prática da santidade, está implícita. Observe;
Doct. 2. Não é suficiente apenas evitar o mal, mas temos que praticar o bem.
“Eles não praticam iniquidade,” então “eles andam nos seus caminhos.” Por quê?
1. A lei de Deus é positiva, bem como negativa. Em cada comando existem preceitos e proibições, para que possamos ter a Deus, bem como renunciar ao diabo, e manter comunhão com Ele, assim como evitar a nossa própria miséria: Amós 5.15, “Aborrecei o mal, e amai o bem”, Rom 12.9, “Aborrecei o mal, apegando-se ao que é bom.”
2. As misericórdias de Deus são positivas, bem como privativas. Nossa obediência deve corresponder às misericórdias de Deus. Agora, Deus não somente nos livra do inferno, com também nos chama para a glória. João 3.16: O fim da vinda de Cristo é que “não pereçamos” (é a parte privativa), mas “para que tenham a vida eterna” (é a parte positiva). Na aliança Deus se comprometeu em ser “um sol e um escudo”, Sl 84.11, não somente um sol, que é a fonte da vida e da vegetação e bênçãos, mas um escudo para nos defender do perigo no mundo, por isso a nossa obediência deve ser positiva, bem como privativa.
Aplicação. Isto reprova aqueles que descansam em negativas. Como foi dito do imperador, que não foi tão vicioso quanto virtuoso. Muitos têm toda a sua religião executada em cima de negativas: Lucas 17.11: “Eu não sou como este publicano.” Esse solo nada é, embora não produza espinhos e abrolhos, se não produzir boas colheitas. Não somente o servo rebelde é lançado no inferno, o qual bateu no seu conservo, que comeu e bebeu com o bêbado, mas o servo ocioso, que enterrou o seu talento. Meroz é amaldiçoado, não porque se opôs a lutar, mas por não ajudar – Juízes 5.23.
O rico não tirou a comida de Lázaro, mas ele não lhe deu de suas migalhas. Muitos dirão, não servi nenhum outro deus; Ai! mas amou, reverenciou e obedeceu ao Deus verdadeiro? No segundo mandamento, eu abomino ídolos, mas tem prazer nas ordenanças? Eu não juro e não nego o nome de Deus por maldições; ai! mas glorificas a Deus e o honra? Eu não violo o sábado; mas tu o santificas? Tu não fazes coisas erradas com teus pais, mas os reverencia? E tu que não és assassino, fazes o bem a teu próximo? Tu não és adúltero, mas és sóbrio e temperado de modo santo em todas as coisas? Geralmente os homens cortam metade da sua conta, como o mordomo infiel da parábola. Nós não pensamos nos pecados de omissão.
Se não estamos bêbados, se não somos adúlteros, e pessoas profanas, nós não pensamos o que significa não ser omisso com relação a Deus, e falta de reverência à sua santa majestade; para deleitar-se nEle e nos Seus caminhos.
Em último lugar, tome conhecimento do conceito, pelo qual os preceitos de Deus são expressos, aqui eles são chamados de caminhos, “que anda nos seus caminhos” – Como é isto? – não como ele nos deu um exemplo, para ser santo como ele é santo, e justo assim como ele é justo, mas seus caminhos são os seus preceitos. Por que eles são os seus caminhos? Porque eles são designados por Deus, e prescritos por ele.
Que mostra o mal de deserção e extravio dele. Porque isto é um desprezo de Deus e da sua autoridade e sabedoria. O grande e sábio Deus, tem descoberto um caminho para que a criatura caminhe nele, para que possa alcançar a verdadeira felicidade; e estaríamos ainda andando em atalhos? Isto é um desprezo de sua bondade: “Ele te declarou, O homem, o que é bom,” como andar passo a passo. Então, eles são os caminhos de Deus, pois eles levam ao prazer dEle.
A partir daí podemos aprender que muitos que desejam estar onde ele está, não entrarão ali, porque eles não andam no caminho que conduz a Ele. Um homem nunca pode chegar a um lugar, caso não vá pelo caminho que vai levá-lo para lá: assim nunca chegarão à alegria de Deus numa condição abençoada, aqueles que não tomaram o caminho do Senhor para a bem-aventurança, que não seguem o curso que Deus tem prescrito para eles na sua palavra.