Dentro do neo pentecostalismo, e infelizmente dentro de muitas igrejas tradicionais e pentecostais históricas, tem crescido a ideia de que “há poder em nossas palavras”, num contexto místico/espiritual. Neste texto, vamos analisar esta doutrina falaciosa e mostrar sua origem. Deixo claro, que falo aqui de “poder espiritual” ou místico, algo “sobrenatural”, pois obviamente nossas palavras têm efeito (psicológico, no ânimo…) em outras pessoas.
Mas antes disso vamos definir em qual meio surgiu essa doutrina. Ela faz parte das doutrinas dentro do Movimento do Pensamento Positivo ou “confissão positiva”. A confissão positiva, de certa forma, uma miscigenação do pensamento positivo, que vemos habitualmente na sociedade, com a bíblia. Ela faz com que o simples fato de confessar positivamente o que se crê faz com que o desejo confessado aconteça.
A “confissão positiva” é parte da “teologia da prosperidade”, tão divulgada e recebida pela Igreja brasileira. Foi criada por Kenneth E. Hagin, o principal expositor desta doutrina. Ele diz que recebeu a fórmula da fé diretamente de Jesus, e mandou escrever de 1 a 4 esta “fórmula”. Com ela, diz, pode-se conseguir tudo. A “formula” é:
“Diga a coisa”, positiva ou negativamente, tudo depende do indivíduo.
“Faça a coisa”, o que nós fazemos irá determinar a nossa vitória.
“Receba a coisa”, a fé irá dinamizar a ação e Deus tem que responder, pois está preso a “leis espirituais”.
“Conte a coisa”, para que outras pessoas possam crer. Deve-se usar palavras como: decretar, exigir, reivindicar, declarar, determinar, e não se pode pedir “se for da tua vontade”, pois isso destrói a fé.
É dessa vertente “teológica” que surgiram os jargões “Tá amarrado” ou “Tá decretado” que tanto ouvimos costumeiramente em meios evangélicos.
“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”.
Sem duvida alguma este é o versículo mais usado pelos neo pentecostais para defender essa doutrina. Provérbios 18:21 explica que devemos ter o cuidado de que nossas palavras não venham a nos trazer situações embaraçosas. Temos que saber como dizer as coisas, pois certamente colheremos situações que são causadas por nós mesmos.
Basta observar os versículos anteriores, e veremos que o autor sagrado não estava se referindo ao suposto e determinante poder de vida ou morte das palavras humanas: “O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como ferrolhos de um palácio. Do fruto da boca de cada um se fartará o seu ventre; dos renovos dos seus lábios se fartará” (Pv 18.19,20). Simples assim. Não há nenhuma implicação sobrenatural no texto.
Temos que ter em mente que crer nesta doutrina traz implicações preocupantes que comprovam a periculosidade desta doutrina para os cristãos menos desavisados. Essa maldita “confissão positiva” ataca alguns pontos centrais da fé cristã. Como a Soberania de Deus. Deus não depende das palavras dos homens para agir. Deus é sempre será Soberano.
É antropocêntrica, enquanto vemos que de Gêneses a apocalipse o Bíblia enaltece o salvador, essa doutrina defende o poder do homem, mira e centra o evangelho no ser humano e no seu “poder”, não em Cristo. Ela também deteriora o poder das escrituras, a única palavra que tem poder é a palavra de Deus escrita em seu livro. Sola Scriptura!!!
Porém vale aqui uma ressalva. A Bíblia não se cala quanto ao modo de nos portarmos com as palavras. Ela nos diz que não devemos usar de baixo calão, que nossas palavras devem edificar e transmitir graça aos que ouvem: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Ef 4:29). Ela também diz que nossas palavras devem ser equilibradas e sensatas: “Tenham uma conversa agradável e sensata, pois assim vocês terão a resposta certa para todo o mundo.” (Cl 4:6 ).
Querido irmão, se quer fazer uma “confissão positiva” confesse que Jesus Cristo é o Senhor da sua vida!
Texto de apoio:
http://cirozibordi.blogspot.com.br/2009/12/ha-poder-de-vida-e-de-morte-em-nossa.html