Os dados estatísticos revelam a situação de opressão, discriminação e sujeição a que são submetidas as mulheres em nossa sociedade. Segundo a ONU 70% delas já foram ou serão vítimas de algum tipo de violência; recebem salários cerca de 20 a 30% inferior aos homens mesmo tendo as mesmas qualificações e exercendo as mesmas funções; tem uma participação minoritária nas funções de governo e comando público, que mal chega a 17%; isso só para citar alguns dados, e sem nos referir à situação em que vivem as mulheres sob o regime islâmico, dentre outros.
O propósito de Deus
A Bíblia registra em Gênesis 1: 27-28 e 2:24 que o propósito de Deus, desde o princípio, é que o domínio (o governo) sobre toda a Criação fosse exercido pelo homem e pela mulher, e que ambos fossem uma unidade, uma só carne diante de Deus. Nunca foi propósito de Deus que o gênero masculino governasse sobre o gênero feminino.
O pecado trouxe a maldição da sujeição da mulher ao homem (Gen. 3:16), pois o pecado gerou a quebra da unidade entre homem e mulher, quando Adão culpou Eva por sua própria desobediência, assim como gerou a quebra da unidade entre o ser humano e a natureza, quando Eva culpou a serpente pela sua própria desobediência (Gen. 3:12-13). Num ambiente de acusações mútuas não haveria mais possibilidade de unidade, de perfeição, de integração.
Mas o próprio Deus anunciou sua intenção de restaurar todas as coisas aos seus propósitos eternos, anunciando que do ventre da própria mulher nasceria aquele que haveria de atingir a capacidade de governo (cabeça) da serpente (Gên. 3:15). Ali foi estabelecida uma inimizade entre satanás e o gênero feminino que explica (mas não justifica) tanta opressão, tanta violência, tanta aversão ao gênero feminino que gerou enfermidades na alma de tantas gerações, tantas civilizações e muitos povos e sociedades, como a misoginia, o homossexualismo e “reificação” da mulher em objeto de satisfação sexual.
O Ministério da Restauração
O Ministério de Jesus, anunciado por Deus desde o momento da queda do primeiro Adão, é um ministério de restauração e reconciliação de todas as coisas com Deus, realizando o propósito do Criador para a criação (Colossenses 1:19-20).
Jesus é o cabeça do corpo, que é a Igreja (Colossenses 1:18 e Efésios 1:22-23) e cabe ao Corpo realizar a obra de Cristo, que é a obra da restauração dos propósitos do Criador para a criação (Mateus 28:18-20 e I Coríntios 12:12-13).
A inferioridade da mulher na Igreja
O apóstolo Paulo anunciou um princípio espiritual em Gálatas 3:28, afirmando que homem e mulher são um em Cristo Jesus. Isso está perfeitamente de acordo com o ato da criação, quando a Palavra diz que “homem e mulher, os criou à sua imagem e semelhança” (Gênesis 1:27). Ou seja, diante de Deus homem e mulher são iguais, não há um maior e outro menor, não há um mais parecido e outro menos parecido com Deus, pois ambos são imagem e semelhança do Criador.
A Bíblia registra diversas mulheres e seu papel e serviço ministerial no Reino de Deus, entre elas quero destacar: Miriã, a profetiza (Ex. 15:20); Débora, a juíza (Jz. 4:4); Jael, a guerreira (Jz. 4:17-21); Ana, a profetiza (Lucas 2:36); Febe, a trabalhadora da Igreja de Cencréia (Rm. 16:1); Priscila, a discipuladora (Atos 18:24-26); as quatro jovens filhas de Felipe, profetizas (Atos 21:9); Trifena, Trifosa e Pérside, as trabalhadoras para o Senhor (Romanos 16:12); Ninfa, que hospedava uma igreja em sua casa (Filemon 1:2). Enfim, uma imensa variedade de mulheres exercendo uma variedade de ministérios, no Velho e no Novo Testamento.
Essa mensagem por si só é revolucionária. Ela destrói toda cultura, toda altivez, todo pensamento, toda tradição que se levanta para estabelecer o machismo e a sujeição da mulher ao homem. Mas se é assim, por que a mulher assumiu um papel tão inferior na Igreja? Por que muitas denominações que se dizem cristãs rejeitam o ministério feminino? Por que é fácil aceitar uma mulher diaconisa, mesmo que não exista um exemplo de uma diaconisa na Bíblia, mas não é fácil aceitar uma pastora, uma bispa ou uma apóstola? Por que durante tanto tempo a maior parte da Igreja cristã relegou as mulheres ao papel da presença invisível nos cultos, nas atividades religiosas, nas congregações e no meio do povo de Deus?
A falta de entendimento da Igreja acerca dos propósitos e dos princípios estabelecidos por Deus, com uma leitura e uma interpretação distorcida, incompleta e influenciada pelo padrão comportamental de um mundo envolto numa cultura machista, impediram que a Igreja anunciasse o evangelho da restauração dos propósitos de Deus para o relacionamento entre homens e mulheres como uma unidade em Jesus Cristo e como herdeiros do governo sobre toda a criação. Essa falta de entendimento levou a que se trocasse o princípio por uma norma, uma regra, e é isso que gerou todo o engano no meio do povo de Deus.
Paulo, falando às Igrejas de Corinto e Éfeso deu ordem expressa para que as mulheres se calassem, não participassem da liturgia dos cultos, que se pronunciassem apenas em casa, para seus maridos. Confrontar essa norma, essa regra, de Paulo para essas duas igrejas, com o princípio que ele mesmo anunciou à Igreja da Galácia, de que em Cristo Jesus não há distinção entre homem e mulher, poderia parecer uma contradição. Mas não é uma contradição, porque as regras, as normas, são inferiores aos princípios. E a regra é estabelecida para ser aplicada em um caso específico, numa situação específica, que foi o que aconteceu com os Corintos e os Efésios.
Isso porque Corinto e Éfeso eram duas cidades caracterizadas pela presença dos templos de Afrodite (deusa do amor e do sexo) e Artemis, também conhecida como Diana, a mais popular entre os deuses do panteão romano e que mais recebia sacrifícios, que representa a figura feminina selvagem e descomprometida com o lar e a família. Naquelas comunidades atuavam milhares de prostitutas cultuais, disseminando uma crença e uma cultura de superioridade da mulher sobre o homem e um comportamento de absoluta decadência moral e orgias sexuais. Ao ordenar que as mulheres não participassem da liturgia do culto naquelas Igrejas cristãs, o apóstolo Paulo estava confrontando uma cultura estabelecida, visando sua superação. Essa é a única forma adequada de entender a aplicação de uma regra específica aparentemente contraditória com um princípio que o próprio apóstolo acreditava e anunciava, como fez em Gálatas 3:28.
Ademais, a palavra “autoridade” aparece 68 vezes no Novo Testamento. A tradução da língua original do NT (grego) para o português não contemplou a diversidade de conceitos semelhantes, englobando todos no mesmo vocábulo. Isso podemos ver em cinco diferentes situações bíblicas, tais como em Mateus 7:29, ao se referir à “autoridade” que Jesus exercia, a palavra original utilizada foi “exousia”, aliás, a mais comum em todos os episódios e referências que receberem essa tradução. Já em Romanos 13:3, ao se referir à “autoridade” dos governantes, comandantes e líderes, a palavra original foi “archon”. Em Mateus 20:25 e Marcos 10:42 como referência à “autoridade” exercida pelos políticos maiorais, a palavra original foi “katexousiazo”, que tem o mesmo sentido de “exousiazo”. Em I Timóteo 2:2, em sua admoestação para orar em favor dos reis e dos que exercem “autoridade”, assim como na pregação de Paulo em I Coríntios 2:1, a palavra original foi “huperoche”. Apenas em I Timóteo 2:12, quando Paulo diz que “não permito que as mulheres ensinem ou tenham “autoridade” sobre os homens, a palavra original usada foi “authenteon”.
Nos melhores léxicos vemos o significado de “authenteon” como “o completo poder sobre”, “controlar de maneira arrogante e tiranizadora”, “gritar ordens”, “agir como chefe com”, “latir para”, “dominar sobre”. Então é fácil entender sobre qual tipo de autoridade Paulo estava se referindo para impedir que fosse exercida pela mulher naquelas Igrejas de Corinto e Éfeso.
A Mulher virtuosa não é a Amélia
Quando o Senhor anunciou através do profeta Joel que derramaria do Seu Espírito sobre toda a carne, promessa que se cumpriu no Pentecostes, Ele disse “vossos filhos e vossas filhas profetizarão (…) e até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias” (Joel 2:28-29). Mais à frente, Paulo falando aos próprios Corintos e aos Efésios disse “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11), ou seja, falando sobre a diversidade de dons e ministérios que operam no Corpo de Cristo, onde homens e mulheres juntamente servem ao Senhor, não distinguindo a que tipo sexual se aplicaria quaisquer desses dons.
Mas a maior expressão sobre como a Palavra de Deus vê a mulher, como o propósito de Deus se estabelece no gênero feminino, está registrada em Provérbios 31:10-31, chegando mesmo a afirmar que a mulher virtuosa administra seu lar (v. 15), mas que também é uma empreendedora, que examina propriedades e compra, que com sua renda financeira planta lavouras (v. 16), que produz e vende bens no mercado (v. 24), que fala com sabedoria e instrução (v. 26), ou seja, é uma mulher alfabetizada, letrada, estudiosa. É interessante ressaltar que a palavra hebraica empregada para se referir à mulher esposa virtuosa é “Akeret Habayit” que significa literalmente “esteio” da casa, pois a mulher é vista na cultura judaica como aquela pessoa da família que zela e garante a harmonia e a atmosfera do lar.
Ou seja, longe do estereótipo de “Amélia, a mulher de verdade”, a mulher do padrão bíblico é temente ao Senhor e realiza plenamente seu potencial criativo e de governo. E não adianta tentar apelar para Efésios 5:22-23 sobre o papel da esposa no lar de submissão ao marido, porque precisamos entender o sentido pleno do que é estar sub-missio, ou seja, debaixo de uma missão, auxiliando na realização de uma missão, que certamente não tem nada a ver com subjugação. E depois, o papel mais difícil não é o de ser submisso, mas é o delegado aos maridos, de amar suas esposas “como Cristo amou a Igreja”, isso sim é missão difícil. Alguém tem conseguido isso? Eu estou apenas começando a tentar isso e, confesso, preciso muito da graça de Deus para cumprir esse propósito.
Se a Igreja não tivesse se deixado contaminar com a cultura dominante da época e do mundo e tivesse simplesmente anunciado o Evangelho da restauração de todas as coisas aos propósitos originais estabelecidos pelo Criador, não existiria feminismo, nem organizações ou movimento feminista, talvez nem existisse tanta opressão feminina no mundo como existe atualmente. Mas quando a Igreja cala a sua voz profética, então vivemos a tragédia que estamos vendo se abater sobre as mulheres e daí só resta à Igreja libertar-se, transformar-se, renovar-se para conhecer e experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2).
Pr. Fidelis Paixão
Ministério Ágape da Restauração
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