Durante um tempo me perguntei o motivo de muitas igrejas rejeitarem o ensino teológico como se isso fosse uma doença séria capaz de desencaminhar o rebanho.
Do púlpito muitos pregadores bradam contra a teologia gritos usando argumentos que beiram o absurdo como, por exemplo, que o estudo bíblico deixa as pessoas incrédulas e que esse negócio de teologia esfria os crentes.
“Esfriar” em seus dicionários quer dizer: tornar-se investigativo como os bereanos, não acreditar em tudo que se ouve sem antes consultar as Escrituras e provar os Espíritos para saber se são de Deus.
Finalmente, querem manter o estudo bíblico longe de suas igrejas:
Pastores que vivem criando teologias mirabolantes para justificar suas preferências pessoais, como acontece em uma igreja que, por exemplo, não permite que seus membros usem qualquer peça de roupa que sejam das cores preta ou vermelha.
Pastores que vivem criando novas estratégias para arrancar cada vez mais dinheiro de seu espoliado rebanho como, por exemplo, pedir um dízimo três vezes maior que o que a Bíblia prescreve, com a desculpa que é uma décima parte para o Pai, outra para o Filho e outra para o Espírito Santo.
Pastores que agem de forma ditatorial, não permitindo que ninguém discuta ou argumente em relação às suas decisões, tratando a igreja como sua propriedade exclusiva, onde sua palavra tem mais peso que a própria Bíblia.
Pastores que sabem que estão pregando heresias, mas permanecem na escuridão para manter a qualquer preço seu status quo e de sua denominação, como, por exemplo, os que proíbem os homens de praticar esportes, as mulheres de vestirem qualquer outra coisa que não seja um saia ou que usem jóias, mesmo sabendo que nada disso tem suporte bíblico. Uma situação parecido a de um sacerdote católico que um dia acorda e descobre que Maria não é mediadora, intercessora nem faz milagres, mas não pode dizer nada, porque não sabe fazer outra coisa que não seja ser… padre.
E nem vou me referir às seitas, porque seria um clichê enfadonho e repetitivo.
Fico no meio em que vivo mesmo.
Das matérias teológicas que mais provocam o frio na espinha dos pregadores da ‘unção sem Bíblia’ – vamos chamá-los assim – sem dúvida que exegese e hermenêutica ocupam um lugar de destaque. As duas são as principais responsáveis por uma interpretação mais coerente e equilibrada das Escrituras. Obviamente que coerência e equilíbrio não são exatamente as coisas que os pregadores da unção sem Bíblia querem ver em suas igrejas.
Coerência e equilíbrio levam, consequentemente, a decência e ordem, um calo em cada pé das fábricas de heresias que vem sendo inaugurada dia após dia deste lado do Equador a cerca de um século.
Só para tornar mais claro o que estamos dizendo, vamos fazer um pequeno e ligeiro exercício teológico de exegese, para que todos vejam como é edificante, revelador e equilibrado um estudo mais apurado das Escrituras.
Pegue sua Bíblia e leia com cuidado Atos 2. Leia mais uma vez. E agora outra. Tenha muito cuidado com cada termo, cada palavra, cada registro. Vou acompanhar você com uma Bíblia ACF (Corrigida Fiel). Não sou fundamentalista nessa questão. Minha Bíblia de cabeceira é uma Thompson, versão AEC (Edição Contemporânea), e poderia usar uma ARA (Revista Atualizada” também. A escolha foi pura preferência pessoal.
Como vai funcionar? Simples, vou fazer perguntas claras com a intenção de que o fato narrado no capítulo seja entendido da forma que aconteceu, e não da forma que eu ou você queremos que tenha acontecido.
1. Quando Pedro e os outros saíram do cenáculo, estavam em seu juízo perfeito ou tomados de tal emoção que não sabiam o que estavam fazendo?
2. Quando Pedro discursou para os presentes, ele sabia o que estava dizendo? Tinha consciência da mensagem que estava pregando?
3. Os presentes que ouviram Pedro entenderam o que ele estava falando, ou ficou um olhando para a cara do outro sem entender nada?
4. Pedro falou línguas que existiam, mas que ele, Pedro, e os demais, não haviam aprendido, ou ele falou ‘línguas estranhas’ que ninguém entendeu?
5. Qual foi o milagre que maravilhou os presentes que ouviram e viram Pedro pregar?
6. Quando o texto cita a palavra ‘batismo’, de que batismo está falando, o do Espírito Santo ou o das águas?
7. É assim que é ensinado nas igrejas atualmente?
São perguntas fáceis de ser respondidas. Basta ler o capítulo. Não precisa nenhum conhecimento teológico profundo para resolver as questões.
Ao final das respostas, após uma breve reflexão, fica claro porque muitos líderes evangélicos fazem de tudo para evitar que suas ovelhas aprofundem seus conhecimentos bíblicos.
Parece que estamos vendo em curso a medievalização do protestantismo, onde, em atitude semelhante à Roma, o ‘clero’ evangélico ordena que não se examine as Escrituras. Só não manda queimar os exemplares da Bíblia porque ia dar na vista. Preferem reescrevê-la do jeito que melhor lhes convém.
Neto Curvina
Ministro do Evangelho