Eu me lembro do tempo em que era seminarista, durante as aulas de hermenêutica bíblica (a arte de interpretar a Bíblia), quando o nosso professor constantemente nos advertia quanto aos perigos do uso de um texto bíblico apenas como pretexto. Ou seja, não deveríamos desrespeitar o que um determinado texto dizia dentro de um contexto maior.
Por exemplo, hoje, pelo Twitter, havia registrado uma série de pensamentos relacionados à confissão e comunhão. (Se não me engano foram uns 10 tuites seguidos) E depois de perceber o feito, me lembrei de alguns comentários que havia visto no passado referentes a indivíduos que expressavam suas ideias de forma exaustiva através do micro-blog. Eram comentários do tipo: “Tem gente que não sabe pra que serve um blog” ou “Tem gente que não sabe pra que serve o Twitter”. Consequentemente, esta memória me fez tuitar: “Não sei pra que serve um blog :)”
E, para minha surpresa, quando voltei ao meu computador depois de horas, percebi que haviam algumas respostas especificamente direcionadas a esse tuíte. Respostas do tipo: “É, eu tb não sei pra que serve um blog”. Ou: “O q? O Juliano não sabe o q é um blog? Como assim?” Alguns, em graça, buscando me ensinar: “@JulianoSon um blog é isso e isso e…” E também outros, que acharam que eu estava fazendo uma crítica à existência dos blogs, escreveram: “Você nunca foi abençoado por um blog? Me perdoe, mas eu já fui”. Entenderem, né?
O que aconteceu? Cometeram o mesmo engano que muitos cometem ao lerem e buscarem compreender um texto fora de seu contexto. Muitos não percebem que a compreensão de um texto se dá a partir da compreensão de todo um cenário maior. Inclusive, livros bíblicos inteiros não podem ser compreendidos, na sua totalidade, fora do contexto de TODA a Bíblia.
Obviamente, existem enganos que não são sérios. Dizer que eu não sei o que é um blog ou que eu não reconheça a utilidade do mesmo para a glória do Senhor é um engano leve. Da mesma forma, é leve o engano quando muitos interpretam o texto deMateus 3:11 da maneira como eu interpretava.
Disse assim João, o que batiza:
“Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo“.
Eu, como cristão carismático, por algum tempo não havia prestado atenção no contexto do texto e logo associei o fogo, aqui mencionado, com aquilo que chamamos carinhosamente de o “fogo do Espírito” (uma manifestação mais intensa em/de nossos sentidos gerado pela percepção da Sua realidade, presença, graça etc.) Mas, ao prestarmos atenção no texto ao redor deste texto adquirimos a compreensão de que fogo, aqui, não se trata deste “mover” do Espírito, mas fogo, aqui, traz o sentido de juízo divino. (Faça a leitura do contexto imediato do texto)
Existem, porém, erros mais sérios. Erros que podem custar tudo. Por exemplo, I Jo 4:15 diz que:
“Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus”.
Gostamos muito de usar textos isolados, frases como estas nos momentos de evangelismo, onde percebemos que mesmo pessoas sérias e bem intencionadas buscam arrancar confissões semelhantes a fim de assegurar a salvação da pessoa evangelizada.
Mas, o que significa confessar a Jesus apenas no contexto de I João? Seria somente verbalizar ou reconhecer que Jesus é o Filho de Deus? Não confessam igualmente os demônios acerca de sua filiação?
Apenas no contexto deste pequeno livro (carta) percebemos que o confessar a Jesus se realiza de forma vivencial onde o ódio ao pecado, o amor a Deus e ao próximo são expressos. É só ler todo o livro e facilmente visualizamos uma realidade muito mais abrangente. Aliás, ler livros inteiros, em uma só sentada, faz muito bem para a compreensão ou hermenêutica do texto.
Não nos apeguemos a textos isolados, conheçamos Sua Palavra.
O Senhor nos abençoe.
Abraços fraternos!
Por Juliano Son – Líder do ministério Livres Para Adorar
Fonte: Portal Adorando