Ontem fiquei perplexo com as ideias de um homem que conheci numa pastelaria.
Aconteceu de eu ir à rodoviária da cidade e entrar numa das pastelarias que existem lá.
Entrei na que tinha poucas pessoas no minúsculo balcão. Pedi um pastel e comecei a comer a iguaria, enquanto observava o ambiente.
A mulher que atendia no balcão disse alguma observação sobre o comportamento de um homem com quem ela conversou. Olhou pra mim como se pedisse minha opinião sobre o assunto.
Eu opinei, claro. Disse meu ponto de vista.
Nisso, um homem fritava pastel num minúsculo espaço que mal cabia um pequeno fogão, começou a falar também. A partir daí, não sei explicar o motivo, a conversa girou em torno de afetividade.
O homem disse que ninguém da família dele gosta de conversar com ele. Assim sendo, conversa muito pouco com os irmãos. Só o essencial com os filhos. Do mesmo modo, com a esposa.
Ele disse que tudo o que aprendeu na vida foi fazer pastel e fritar pastel. Ganha dinheiro fazendo isso e não precisa da ajuda de ninguém. Portanto, que ninguém opine sobre a vida dele.
O homem explicou que talvez o menosprezem por ser pouco estudado. Garante que estudou o mínimo possível, só o suficiente para vencer na vida. E vence fazendo e vendendo pastel.
Até aí, Tudo bem. Expliquei a ele que deveria se esforçar por conversar com seus familiares.
Ele disse que não. Que não adianta perder tempo com amigos ou família.
Que homem pode dizer que tem um comportamento tão estranho? Eu me perguntei ao meu subconsciente. Quem pode agir desse modo? Não obteria a resposta, claro. Principalmente porque não ousaria em perguntar a ele.
Todavia o assunto descambou para a política. Ele disse a quantidade de deputados federais que tem a Câmara dos Deputados. A quantidade de senadores que estão no Senado, neste momento. Disse com uma larga margem de conhecimento a quantidade de deputados e senadores de cada Estado do Brasil. Enfim, o homem mostrou que tem uma cultura vastíssima.
Se for assim, por que os amigos dele não gostam de conversar com ele? Nem os familiares. Nem absolutamente ninguém, como ele teimosamente afirma?
Continuamos conversando. Isto é, ele conversava mais que eu. Falava o tempo todo e eu só ouvia. Confesso que é difícil conversar com uma pessoa que fala muito e não dá oportunidade de a gente falar.
Entretanto, não sei por que razão ele entrou no assunto do espaço. Quando menos esperei ouvi dizer:
– Essas pessoas idiotas que pensam que quando morrer vão para o céu. Acham que existe Deus lá em cima. Não existe Deus lá em cima e nem em lugar nenhum.
Fiquei admirado ao ouvir a opinião dele, porque há muito tempo não ouvia ninguém dizer assim. A situação ficou pior ainda quando ele disse:
– Não existe Deus nem Diabo! Não existe céu. Não existe inferno. O inferno é aqui mesmo na terra. A gente nasce, cresce e morre. Não vai pra lugar nenhum.
Dai ele disse que descobriram a ossada de Mona Lisa, enterrada há mais de quinhentos anos. O que prova, segundo ele, que as pessoas morrem e ficam enterradas no chão eternamente.
Confesso que fiquei sem saber o que dizer àquele homem. Tudo o que quis fazer foi aproveitar a oportunidade de pagar a conta e ir embora. A oportunidade chegou, paguei a conta e saí dali, me despedindo, dizendo que voltaria lá um dia, para comer pastel.
Daí, entendi o porquê de ninguém gostar de conversar com ele. Afinal, quem gostaria de passar horas conversando com alguém que não acredita em Deus?
No entanto, a dúvida continua: O que dizer a um homem ou a uma mulher que não acredita em Deus? Devo convencê-los a acreditar no Criador ou sair da presença deles, sem manifestar minha opinião?