Prv 1:20 “Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz;
do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?
Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.
Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse;
antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão;
também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei,
em vindo o vosso terror como a tempestade, em vindo a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia.
Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar.
Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do SENHOR;
não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão.
Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão.”
Neste texto Deus se levanta para protestar com os homens em relação aos seus maus caminhos, para apontar as consequências de persistir neles, para exortar à necessidade de uma urgente e completa conversão a Deus, e para fazer valer o seu convite com súplicas afetuosas e encorajadoras garantias, e por isso é estigmatizado pelos que recebem o convite como sendo a efervescência de uma imaginação aquecida, o fruto de uma mente entusiasmada fraca.
Mas, embora este convite da graça seja uma loucura para os homens, ele é na verdade sabedoria aos olhos de Deus. Nenhuma súplica, promessa ou ameaça podem ser entregues com maior poder ou afeto do que estes que lemos nesta porção de Provérbios, porém, a voz de Deus, não é de loucura e entusiasmo mas de “sabedoria”, e, em tudo devem ser consideradas as palavras da verdade e de sobriedade que ele profere. Estamos agora no principal lugar para o qual somos convocados e para o qual se destina o convite, e ele é o próprio Deus que é apresentado no texto com o nome de Sabedoria, o qual se dirige agora a nós. O local de destino do convite pode ser compreendido sob duas observações gerais:
I. Para aqueles que atenderem ao seu convite, Deus será abundantemente gracioso.
Nada pode ser mais terno do que a admoestação diante de nós.
As palavras são dirigidas não apenas aos “simples”, mas para aqueles que “amam a simplicidade”, não somente para os ignorantes, mas para os que “odeiam o conhecimento;” não somente para aqueles que estão destituídos de religião, mas que têm prazer “em zombar dela”. Que podemos supor que Deus deveria dizer a tais transgressores ousados? O que, senão pronunciar os julgamentos mais pesados?
Todavia, “ele é Deus e não homem”, e, portanto, ele lhes fala como Deus, em termos de amor e misericórdia inconcebíveis: “Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?”, (v. 22). Não foi bastante “o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias.”?, I Pe 4.3.
Estes pecados lhes têm sido tão agradáveis ou rentáveis que haveis de renunciar a toda a felicidade do céu por causa deles? ou, se tendes a intenção de afastar-se deles, tendes fixado o tempo da sua conversão? “Quanto tempo você pretende persistir nisto? Até o tempo de doença, e na hora da morte? ou até algum tempo mais conveniente? Ah! “Convertei-vos pela minha repreensão;” deixem que as palavras de um Pai e um amigo prevaleçam com vocês; não tentem justificar suas ações, ou atenuar a sua culpa; vocês vêm claramente o suficiente que a sua conduta é indefensável; portanto, voltem, voltem sem demora.
As promessas, com as quais a admoestação é aplicada, acrescentam muito ao seu peso.
A consciência tanto da fraqueza e da ignorância, muitas vezes contribui para manter os homens sob o poder de seus pecados. Um pensamento surge em suas mentes: “Eu não sei como mudar; eu não sei como obter tanto o perdão dos meus pecados, quanto a vitória sobre os meus desejos.” Mas Deus elimina de uma só vez todos essas reflexões desencorajadoras. Ele diz que na verdade, suas corrupções não podem ser superadas pelos seus próprios esforços. “Derramarei o meu Espírito”, para santificá-los em tudo. Você está perdido e como obterá o meu favor? Eu vou lhe dar a conhecer as palavras da vida; eu vou revelar o meu Filho em seu coração, eu vou mostrar-lhe a eficácia da sua expiação, e lhe tornarei sábio para a salvação através da fé nele. Assim que ele calar suas objeções, e dissipar seus temores: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai”! certamente não deveríamos ouvir isto, senão com admiração, não devemos recebê-lo com provocações, mas com grata adoração.
Mas “Deus não se esforçará (agirá) para sempre com o homem – Gên 6.6, pelo contrário,
II. Aqueles, que desprezam os seus convites, serão lançados numa impenitência final e na ruína.
O desprezo que é também geralmente derramado sobre a misericórdia de Deus, é terrível ao extremo.
Alguém poderia supor que esses convites e promessas não podiam deixar de produzir o efeito desejado. Mas, infelizmente, a recepção a eles é, como o próprio Deus o apresenta: os homens “se recusam a obedecer às suas chamadas, quando ele estende suas mãos para eles com carinho de um pai e rogos importunos; eles não vão considerá-lo, pois têm desprezado o seu conselho e a sua repreensão; eles odeiam mesmo ouvir o seu dever, e se determinam, qualquer que seja o resultado, que não vão praticá-lo.”
O zelo e fervor de seus pastores são feitos objeto de ridículo profano, e os ditames da sabedoria são como efusões de loucura e fanatismo. Apelamos às consciências de todos em relação a essas coisas.
Quem tem observado o mundo ao seu redor, ou o que se passa em seu coração, não deve atestar que essas coisas são assim? Sim, todos nós somos culpados: “Esta foi a nossa forma em nossa juventude.” Alguns têm sido mais abertos e notórios, e outros mais secretos e reservados, em suas oposições à vontade de Deus, mas todos se opuseram a ele, e, se a graça divina não tem mortificado o nosso inimigo – o pecado – nós seremos achados ainda nos opondo a isto; o sentimento deliberado de cada homem não regenerado é como o dito dos antigos: “Quanto à palavra que nos anunciaste em nome do Senhor, não te obedeceremos a ti;”, Jer 44.16.
Mas se persistirmos em tal conduta, um dia encontraremos uma recompensa adequada.
Como Deus não pode ser enganado, então, não será ridicularizado; se ele tem um dia de graça; então ele também tem um dia de vingança; e esse dia está se aproximando em ritmo acelerado. Por mais seguro que o pecador possa pensar de si mesmo, há uma hora de desolação, e um consequente sofrimento e angústia vindo sobre ele. Então, agora pode ser sugerido muitas vezes à mente de um pecador despertado, mas não convertido, “O que o mundo vai fazer por você agora? Qual o lucro que seus prazeres, suas riquezas e suas honrarias lhe trarão neste dia da minha ira? O que você acha da semente que tem sido semeada, agora que você começa a colher o seu fruto?” Mas se Deus não lidar com a gente, desta forma, neste mundo, com toda a certeza que ele o fará no mundo vindouro.
Aquela será certamente uma hora de extrema aflição e angústia quando estes desprezadores da misericórdia permanecerão no tribunal do grande Juiz; e oh! como é que Ele, então, “rirá de sua desgraça! como é que ele zombará de todo o medo e terror deles!” Você não iria acreditar na minha palavra agora, e ver se é verdade ou não. Você não seria persuadido de que um dia eu iria reivindicar minha Majestade insultada; o que você acha desse assunto agora? Você me desprezou, e por isso eu disse: “Apartai-vos de mim, porque eu não desejo ter conhecimento das tuas maneiras! Você deve ter o seu pedido atendido, vou me afastar de você; e você também deve se afastar de mim; partam, malditos, para sempre para o fogo eterno, que vocês terão que suportar por toda a eternidade sem qualquer mitigação da sua dor, e vocês nunca terão sequer uma gota de água para refrescar as suas línguas.
Queira Deus que os homens percebam estas coisas, e sejam persuadidos a crer que Deus é verdadeiro! Mas se eles vão ouvir, ou se irão se abster disso, devemos declarar o que Deus falou; e, embora um mundo ignorante possa ridicularizar como loucura, proclamaremos isto como sendo o “conselho da verdadeira sabedoria”, e a declaração de um Deus infalível.
APLICAÇÃO
1. Vamos todos adorar a bondade divina.
Qual de nós não deve se declarar culpado da acusação de desprezador de Deus? Qual de nós não tem perseverado em um curso de desobediência a ele, apesar de todas as suas mensagens de misericórdia; e que também, temos agido assim não por dias meramente, mas por meses e anos?
No entanto, Deus tem exercido a tolerância em relação a nós, e neste mesmo instante isto se renova nos seus convites graciosos. Vamos considerar quantos milhares foram cortados em seus pecados, enquanto somos ainda poupados para ouvir as boas novas de salvação, e “deixar a paciência e longanimidade de Deus nos conduzirem ao arrependimento.”
Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.