“Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração.” (I Sam 16.7)
“porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is 55.9)
Vemos aqui um incentivo para os piores e os mais vis.
O Senhor a ninguém tem excluído, mas aqueles que se excluem.
“Eis que agora é o tempo aceitável, eis agora o dia da salvação!”, “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.” (Is 55.7).
“Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.” (Mt 11.25,26).
Que a doutrina no versículo precedente é de fato verdadeira, é suficientemente evidente a partir de simples observação. A maior parte das pessoas que o mundo considera sábias e prudentes, e tudo para um homem que pensa acerca de si mesmo deste modo, tem pouca consideração pelas verdades do evangelho. Porque elas estão ocultas aos seus olhos, e são reveladas ao pequeninos, àqueles que eles desprezam.
Vamos começar perguntando, quais podem ter sido os principais propósitos de Deus em enviar o seu Filho ao mundo, para que pudéssemos ter vida por meio dele? Destes, eu destaco principalmente dois:
1 . A redenção e salvação completa de todos os que creem. Todos os homens estão, por natureza no mesmo estado de pecado e miséria… mas, nos é dito pelo Senhor que no grande dia haverá uma diferença indizível entre alguns e outros. Muitos então ficarão tremendo em sua mão esquerda, a quem o Rei dirá: “Apartai-vos”, mas os que estiverem à sua direita ouvirão aquelas alegres palavras: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” Se você perguntar, ao que é principalmente devido essa diferença? A resposta é dada: “Jesus amou, e carregou os seus pecados em seu próprio sangue; ele redimiu pessoas de todas as nações, e línguas, pois eles vieram de grande tribulação, e lavaram as suas vestes, e as branquearam no sangue do Cordeiro; e portanto estão diante do trono.” Foi então por causa da justiça de Jesus que eles serão encontrados à sua mão direita, porque “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, para que recebêssemos a adoção de filhos.”
2 . Mas, além deste, Deus teve um outro propósito em razão da ignorância deles, ainda mais elevado na obra da redenção, a saber, a manifestação de sua própria glória.
Se pudéssemos dar qualquer outra razão para esta dispensação da graça do que aquela que é afirmada no nosso texto, isto seria o suficiente, de que deveria ser assim, para que não houvesse qualquer orgulho em nossos corações. Certamente que o que parece bom aos olhos de Deus, deve ser santo e sábio, e bom em si mesmo. Como o vão e presunçoso homem é cego, quem se atreveria a replicar contra o seu Criador, para atacar a sua santidade com a injustiça, a sua sabedoria com erro, a sua bondade com a parcialidade!
Todos os seus sofismas e sua vontade serão silenciados no grande dia, quando os segredos de todos os corações estarão abertos, e Deus será justificado quando ele os condenar.
No entanto, embora não ousemos ir muito longe nas profundezas dos desígnios divinos, mas, a partir da luz que ele tem nos oferecido na sua palavra, podemos, em nossa debilidade natural, afirmar e provar que seus caminhos são justos e equitativos, e, além do argumento de sua soberania, porque isso foi do seu agrado, ele tem se agradado em nos favorecer com algumas das razões pelas quais isto tem-lhe sido assim agradável.
E este é o assunto que eu proponho para conduzir suas meditações a partir dessas palavras.
Foi pelo seu amor indescritível por nós que ele providenciou todos os meios necessários à nossa salvação, e não podemos nos surpreender, e muito menos devemos nos queixar, que em justiça de si mesmo, ele designou tais meios, e do modo pelo qual tudo redundasse para o seu louvor e sua glória. Para tanto, foi necessário que as seguintes coisas devessem ser manifestadas com a mais plena evidência.
1º, a grandeza da depravação, culpa e miséria do homem; que não era uma coisa pequena, mas um caso digno da interposição de um poder e graça infinitos.
2º, a insuficiência total do homem pára encontrar alívio por si mesmo; para que assim Deus pudesse ter toda a honra de sua recuperação, e nós pudéssemos ser, para sempre, devedores da sua livre e imerecida misericórdia.
3º, que, por haver uma grande variedade de caracteres na humanidade, foi necessária a dispensação da sua graça que ao operar deve mostrar que nenhum caso foi muito difícil para o seu poder, ou muito baixo e miserável para a sua compaixão e condescendência.
Após a apresentação destes motivos, podemos ver algo de sua sabedoria nos métodos que ele tem designado, e nos assuntos de sua escolha; por isso aquilo que tem parecido bem aos seus olhos, tem sido ocultado aos sábios e entendidos, e sido revelado aos pequeninos, por razões como estas:
1. Para humilhar a soberba de toda a glória humana;
2. Para excluir toda pretensão em se gabar,
3. para que possa ser provido um motivo de esperança para os piores e mais vis, e,
4. que a salvação dos crentes possa ser segura, e não sujeita a ser perdida.
I. Em primeiro lugar, então, o Senhor dos Exércitos tem proposto isto, “para humilhar a soberba de toda a glória humana”, Isaías 23.9.
Quanto os homens estão dispostos a admirarem a sua própria sabedoria, aprendizagem e realizações, é suficientemente óbvio. Mas agora o orgulho de toda esta glória está manchado, na medida em que é provado pela experiência que é totalmente inútil na maioria das preocupações importantes. Um homem tem talento para governar um reino, mas ele próprio é um escravo de desejos e paixões vis. Outro tem coragem para enfrentar a morte em um campo de batalha, ainda que, quanto à religião, é um mero covarde. Outro finge contar o número das estrelas, e chamá-las todas por seus nomes, mas não tem mais pensamentos sobre o Deus que criou os céus e a terra, do que os animais que perecem.
Outro, que professa ser sábio nas Escrituras, as perverte e abusa de sua própria razão, para estabelecer os erros mais absurdos, ou para derrubar as verdades mais claras.
O tempo não seria suficiente para contar todas as conquistas destes sábios e homens prudentes. Mas eis que o orgulho deles está todo manchado! No meio de todas as sua aquisições e invenções, são estranhos para Deus, para si, e para a paz, pois eles estão sem Cristo, e sem esperança: as coisas que são de real importância estão escondidas de seus olhos. Aqui, está manifestada a desesperada depravação e sedução do coração, para a glória de Deus, e é claramente que, se ele não se interpuser para salvar, os homens são totalmente incapazes de salvarem a si mesmos.
II. Para excluir a jactância. “Onde está a vanglória, então? É de todo excluída.” Como o apóstolo afirma. “Se Abraão foi justificado pelas obras, tem do que se gloriar.”, Rom 4.2. Assim, se os homens fossem salvos, no todo ou em parte, por sua própria sabedoria e prudência, eles podem no mesmo grau escreverem a glória e louvor para si.
Eles podem dizer, o meu próprio poder e sabedoria deu-me isto, e assim Deus seria roubado da honra devida ao seu nome. Mas agora isto é evitado. A palavra do Senhor é, “Não deixe o sábio se gloriar na sua sabedoria, não deixe que o homem poderoso se glorie na sua força; não deixe que se glorie o rico nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender e me conhecer, que eu sou o Senhor,” Jeremias 9.23,24.
Sejam quais forem as vantagens exteriores que alguns possam parecer possuir, eles estão no mesmo nível em que estão os piores. Estas coisas não podem ser compreendidas por qualquer sagacidade da nossa parte, mas devem ser reveladas pelo Pai das luzes. Veja o que o apóstolo diz no primeiro capítulo de Romanos. Muitos dos ateus foram eminentes em sabedoria e habilidades e fizeram grande avanço na ciência; mas em relação ao conhecimento de Deus, o resultado de todas as suas pesquisas deu em erro, superstição e idolatria; dizendo-se sábios se tornaram loucos, e as suas dissertações não tiveram nenhum outro efeito senão deixá-los sem escusa. Sua prática (como será sempre o caso) foi correspondente a seus princípios; e no meio de mil refinamentos em teorias, eles foram abandonados aos mais grosseiros e detestáveis vícios. Se podemos dizer, esses não tiveram a luz da revelação, podemos observar os mesmos ou similares efeitos, onde o evangelho é conhecido.
Com esta luz superior, os homens ainda são igualmente vãos em suas imaginações e, embora eles não tributem uma externa e formal adoração ao pau e à pedra, eles são idólatras grosseiros, pois eles servem, amam e confiam mais na criatura do que no Criador.
Quando há uma diferença, é devido à graça, e à graça que é reconhecida. Assim se dirá prontamente: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome seja o louvor”, Sl 115.1.
Assim, toda a pretensão de glória é efetivamente excluída, e que aquele que pode se gloriar sobre um bom fundamento, deve somente se gloriar no Senhor. Se deve ser suposto que esta representação das coisas tende a desencorajar uma diligente e séria investigação da verdade, eu respondo que, quando corretamente entendida, ela terá apenas o efeito contrário. O que pode ser mais adequado para excitar a diligência, do que apontar o método que será seguramente coroado de sucesso? Você não pode ter êxito sem a luz e assistência do Espírito Santo, mas se consciente disso, e consciente de sua própria insuficiência, você vai buscar sua direção e orientação por humilde oração, isto será oferecido a você.
Se você não sabe isso, você certamente ficará cansado no final por repetidas decepções, mas se você depender de seu ensinamento e de cooperação em usar os meios de graça que ele designou, seu conhecimento aumentará assim como o seu crescimento espiritual.
Tradução, redução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de John Newton, em domínio público.