“E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”. [2 Co 9:6-7 ARA]
Um dos textos mais conhecidos da Bíblia, principalmente entre os pregadores da Teologia da Prosperidade, é o que fala da lei da Semeadura. De forma resumida, essa lei explica que quanto mais é investido, em termos financeiros, no Reino de Deus, maior será o retorno obtido.
Como odeio analisar um texto fora do contexto (o que gera pretexto para erros), vamos compreender o contexto no qual essa passagem se encontra. Paulo estava, durante sua viagem à Macedônia, realizando coletas entre as igrejas mais abastadas no intuito de ajudar os pobres da igreja de Jerusalém (ver também Rm 15:25-28, 1 Co 16:1, At 24:17). Neste texto vemos Paulo solicitando aos irmãos da província da Acaia que preparasse a oferta prometida à igreja de Jerusalém e dizia ter, por esse motivo, os elogiado muito junto aos irmãos macedônios.
Avaliando muitas práticas atuais de solicitação de ofertas às igrejas, vemos situações que negligenciam os princípios expostos nesta passagem, considerando pontos isolados do texto. O foco dos “clamores” encontra-se apenas no montante de dinheiro investido. Com isso, é importante considerarmos alguns pontos para que tenhamos a compreensão plena da lei da semeadura dentro do contexto bíblico.
O primeiro ponto que precisamos avaliar encontra-se dentro do próprio texto (no versículo 7). Diz o apóstolo Paulo que Deus ama aquele que dá com alegria. A coação a uma oferta “forçada” não gera alegria verdadeira, mas sim uma expectativa de retorno (que só ocorre quando a oferta é dada com alegria).
Outro ponto destacado no texto é que a oferta dever ser segundo tiver proposto do coração. Muitos têm pregado sobre sacrifícios financeiros através dos quais Deus seria “obrigado” a retornar em abundância, conforme a lei da semeadura. Esse fato está relacionado ao montante investido. Um valor proposto no coração do ofertante pelo Espírito Santo não implica em sacrifícios, pois vimos que a oferta é com alegria. Com isso, o que importa não é o montante absoluto ofertado, mas a disposição em investir com alegria. Em 2 Co 8:1-4 vemos que a igreja da Macedônia era uma igreja pobre, mas que ofertou conforme podia, e isso alegrou Paulo.
Em Lc 21:1-4 vemos a história da viúva pobre. O texto em Lucas, que escrevia para Teófilo (que era grego), nos afirma que a quantidade ofertada foi de 2 Leptos (menor moeda grega). Em Marcos (Mc 12:41-44), que escrevia para os romanos, vemos que esse valor de 2 Leptos era equivalente a 1 Quadrante (um quarto de um Asse, a menor moeda romana). O valor de um Asse é algo entre a décima e a décima sexta parte de um Denário. Um Denário, por sua vez, representa o salário de um dia trabalho de um trabalhador braçal.
Se considerarmos uma jornada diária de trabalho de 8 horas, vemos que a oferta da viúva, que era tudo o que ela tinha para viver, representava o salário de 7,5 à 12 minutos de trabalho de um trabalhador braçal. Considerando o salário mínimo no Brasil (R$ 724,00) e a jornada de trabalho padrão (220 horas), podemos estimar, em valores atuais, que essa foi uma oferta entre R$ 0,41 e R$ 0,66. Contudo, para melhor compreensão histórica dessa passagem, vemos em Mt 10:29 que 1 Asse era o valor referente a dois pardais. Considerando que a oferta da viúva era de 1 Quadrante, esse era o valor de meio pardal.
Vemos também em 1 Reis 17 que a oferta da viúva de Sarepta a Elias foi de apenas um pão, que era tudo o ela tinha, mas isso agradou o coração de Deus, que a recompensou com a prosperidade.
Ademais, vemos no 24º capítulo de 2 Samuel Davi adquirindo um campo para fazer uma oferta a Deus. O dono do campo havia ofertado o campo a Davi sem custo algum, que não aceitou, dizendo que não ofereceria a Deus sacrifícios que não lhe custassem nada (2 Sm 24:24).
Concluo afirmando, baseado nos texto apresentados, que a lei da semeadura não pode ser compreendida por pontos isolados das Escrituras. Um dos princípios da Hermenêutica Bíblica é que a Palavra de Deus não pode ser interpretada com textos isolados, mas sim a considerando em sua totalidade. Por isso, a oferta deve ser de coração, com alegria e com disposição em ofertar a Deus no intuito de demonstrar amor e reverência ao invés de uma atitude egoísta, esperando retorno como em um investimento no mercado financeiro ou de ações.
“Adore a Deus, oferecendo-lhe o que a sua terra produz de melhor. Faça isso, e os seus depósitos ficarão cheios de cereais, e você terá tanto vinho, que não será capaz de armazenar”. [Pv 3:9-10 NTLH]
“E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e dar força a tudo”. [1 Cr 29:12 ARC]