De dois mil e quinze vou escolher as frutas; como aqueles camponeses que separam em triagem as boas e ruins, sendo verdes, passadas e maduras de um cesto para o outro. No cesto das boas frutas colocaria as amizades consolidadas, outras que permaneceram firmes, algumas sempre, ainda que distantes. Escolheria para esse cesto toda bondade multiplicada e despertada no coração, crendo que sirvo a Deus servindo ao próximo; Nesse cesto não faltaria inúmeras oportunidades que tive para falar do amor de Cristo, exposições que não faltou Evangelho e Verdade, e de todas elas sei que apresentarei com alegria Naquele Dia como alguém livre e liberto por toda verdade.
Incluo o crescimento das dores, para que elas – as dores – não sejam em vão.
Não faltaria neste cesto as coisas simples que me fizeram muito bem; os livros que me fizeram pensar e refletir sobre o tudo e todo, foram horas prazerosas que só a leitura proporciona; neste cesto não poderia faltar a poesia, as belas poesias de Camões, Drummond e claro, Fernando Pessoa. Não deixaria de lado o sono perdido antes do despertar, e graças a ele pude me dedicar a meditações, orações e leituras.
Colocaria as frutas vistosas de passar um café com duas xícaras de água, uma e meia de açúcar e duas colheres de sopa de café (receita certeira de minha esposa, um fruto doce e maduro); más esse café teve um sabor diferente em alguns dias, pois foi acompanhado de músicas caipiras como “tristeza do Jeca”, “Comitiva esperança”, “luar do sertão”, “oh chuva”, “tocando em frente” e algumas outras da minha play list que chamei de “sertão urbano”. As sete da manhã com um bom café, essas músicas e um bom livro me deram muita satisfação matutina.
Os cestos das frutas maduras são sobejos, tem bike, stand up padle, tênis, boas conversas e gargalhadas. Encontros, vida, mão estendida, beijo, carinho, amor tem gente que amo e gente que respeito.
No cesto das frutas verdes colocaria amizades que iniciaram, que o tempo dirá as quanto verdadeiras serão pelo amadurecimento, meus projetos engavetados esperando as oportunidades e os momentos certos para amadurecerem. Neste cesto está todo dois mil e dezesseis, um ano inteiro por amadurecer.
Existe um cesto das frutas podres, essa fruta gostaria muito que não existisse, mas ela sempre existirá. O que me resta é coloca-las em cestos separados para não apodrecer as maduras e contaminar as verdes.
Neste cesto existem coisas que normalmente incomoda minha alma. O interesse próprio de pessoas que usam o outro como manequins de boutique; serve de ornamento, mas não aceita nenhuma forma de revide, apenas como chamariz de consumidores alheios. Neste cesto de frutas podres adiciono as liturgias cansadas e enfadas, onde o maior alívio é quando chegamos em casa, de onde arrependemos as vezes de ter saído diante dessas; são encontros supostos em nome de Jesus, más não passam de liturgias e cultos ao homem, onde Cristo jamais é glorificado, e o que interessa é o show de departamentos e pessoas, as vezes tenho sensação por onde ando, que em muitos cultos Deus não está, não suportaria tal banalidade.
Neste cesto infame, indigno e fétido de frutas apodrecidas jogo com alegria frutas podres, como aquelas que não valorizam a palavra de Deus, onde recados infindáveis convocando aos “cultos do amanhã” ocupam mais tempo que a própria exposição da Palavra de Deus, se esquecem por tanto do “culto de hoje”, músicas, teatros, danças… nem se contam, parecem manifestações vazias que no máximo gera emoção humana, disfarçada de “glórias”, sem contar do baixo teor artístico. Como gostaria que essas frutas fossem maduras e saborosas, como pessoas que vão ao culto apenas para cultuar a quem é digno de culto, que não precisa de manifestações e promoções pessoais e nenhuma manifestação do braço humano, apenas cultuar tendo a cruz no centro dos nossos cultos – convoquemos a cristocentricidade em nossas liturgias, menos homens e mais Deus.
Não faltaria o separatismo e fundamentalismo religioso, o fruto podre abominável do preconceito; do poder e mandato sobre o próximo em nome de “deus” dizendo que pode e não pode, como se a espiritualidade fosse um check list de situações morais e comportamentais. Neste cesto coloco a fruta de quem está disposto a passar em cima de tudo e todos pela causa própria e chamam essa causa como “causa de Deus”. Frutas podres que transformam “igrejas”, instituições, ministérios, poder e encontros religiosos de qualquer matiz acima de gente, são frutas podres que esqueceram que a causa de Deus é gente.
Junto a essa podridão toda inveja, maledicência, murmuração, rancor, medo que pode ter crescido em mim, não os quero junto aos frutos maduros.
Somente pela Graça