Para que a vida seja o que deve ser, ela deve fluir de um coração cheio de ternura. Esta é aquela qualidade da alma que nos permite dar atenção amável aos outros, estando dispostos e ansiosos para fazer o bem, e a termos grande cuidado para não praticar qualquer ofensa, e para sermos mansos e gentis em cada expressão nossa.
Como todas as outras boas qualidades, esta é encontrada em perfeição no caráter de Deus. “O Senhor é muito misericordioso e piedoso.” Por causa de sua compaixão ele nunca coloca sobre seu filho confiante uma carga maior do que ele possa suportar, e na sua misericórdia, ele sempre dá a cada tribulação um final feliz.
Será útil estudar por alguns minutos o princípio da ternura como um atributo da natureza de Deus. “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem.” É o pai que vê seu pequeno filho em profunda dor que sabe o que é a compaixão.
É esse sentimento que faz com que o pai seja desejoso de suportar toda a dor. Foi a piedade ou compaixão de Deus pelos perdidos no pecado que o levou a dar o seu único Filho para sofrer e morrer por eles. Quando Deus viu a miséria dos homens, ele teve esse sentimento em seu coração de que ele não poderia encontrar alívio de nenhuma outra maneira, senão em dar o único meio para o resgate dos pecadores.
Oh, pense nisto! O filho de Deus nunca tem uma dor ou uma tristeza, sem que Deus tenha um sentimento de compaixão. O conhecimento de que alguém tem piedade de nós e que simpatiza com o nosso sofrimento irá aliviar muito as nossas dores.
Recentemente, enquanto eu estava em profundo sofrimento de alma, eu recebi uma carta com estas palavras: “Nós sofremos com você sem espírito.” Isto foi um grande alívio. Se num momento de aflição pudéssemos saber como Deus estava sofrendo conosco, isto seria um grande consolo.
Novamente, lemos: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei, e vós sereis consolados em Jerusalém”. Quem é que não conhece o conforto de uma mãe?
Quando ouvimos falar de um jovem sofrendo um triste acidente longe de casa, temos pena; mas quando sabemos que sua mãe foi ter com ele, nos sentimos melhor. Ah, o conforto de uma mãe é superado apenas pelo conforto de Jesus. “Se minha mãe estivesse aqui!” diz a filha atribulada. Nada representa tão dignamente a natureza do consolo que Deus dá como o consolo de uma mãe.
Oh filho de Deus, você nunca terá uma tristeza nem dor, em que a ternura de Deus não o leve a vir até você e consolá-lo. Elevemos os nossos corações e o louvemos pela sua misericórdia e amor reconfortante.
Uma mãe pode esquecer de consolar seu filho, mas Deus nunca esquecerá.
A ternura de Deus é revelada nestas palavras tocantes: “Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas”.
A imagem é caseira, mas oh! Tão impressionante e sublime. Eu não posso fazer melhor do que usar aqui as palavras de um outro:
“Quando se viu imagem tão familiarmente colocada com tanta graça e sublimidade como esta apresentada pelo Senhor? E ainda quão bela é a própria figura de proteção, repouso, calor e todos os tipos de bem-estar consciente para aquelas pobres, indefesas, dependentes e pequenas criaturas, que se abrigam e se sentem protegidas sob a asa espaçosa e gentil da ave mãe.
Se vagando além de poderem ouvir o chamado peculiar dela, eles são surpreendidos por uma tempestade ou atacados por um inimigo, o que eles podem fazer, senão no primeiro caso, cair e morrer, e no segundo, se submeter e ser despedaçados? Mas, se eles puderem chegar a tempo ao seu local de segurança sob a asa da mãe, em vão será qualquer inimigo tentar arrastá-los dali.
Porque subindo em força, acendendo em ira, e esquecendo de si mesma por amor à sua ninhada, ela deixará que a última gota de seu sangue seja derramada para morrer em defesa de sua preciosa ninhada, em vez de lha ceder às garras do inimigo. Quão significante é tudo isto que Jesus faz por seu filho indefeso!”
Sob a sua grande asa ele reúne com ternura e com amor seus pequeninos e ali eles estão seguros. Ele é um refúgio seguro.
Do cântico de Moisés, aprendemos ainda mais o terno cuidado de Deus. “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o SENHOR o guiou, e não havia com ele deus estranho.” (Deut 32.11,12).
Esta metáfora bem expressa o cuidado e a ternura de Deus para com seus filhos. A águia é conhecida por sua grande ligação com seus filhotes. Seu cuidado é extraordinário. Quando as águias pequeninas têm atingido a idade e a força para deixar o ninho e aprendem a voar, o pássaro mãe as carrega, quando cansadas, em cima de sua asa.
Tudo isto expressa aos nossos corações a maravilhosa ternura de Deus para com seus filhos. Mas não há nada no mundo material que possa apresentar uma analogia completa e perfeita para as coisas do mundo espiritual. Estas são demasiado elevadas.
Se não temos a ternura de Deus em nossos corações, nossa vida estará longe de ser uma vida plena e verdadeira.
A Bíblia nos diz “sede uns para com os outros benignos, compassivos,.” Não há verdadeira santidade de vida sem ternura. À medida que nos aprofundamos em Deus, tornamo-nos mais ternos de coração.
Há algumas coisas que impedirão estar ternura de coração. Basta um pouco de sentimento de ressentimento, um pouco de desejo de vingança, ou um desejo secreto que algo acontecerá com aqueles que nos têm feito uma injúria e isto endurecerá o coração e as afeições.
Quando temos sido desprezados por alguém ou julgados mal, oh, como Satanás se esforça para nos levar a pensar muito sobre isso, e para trabalhar um sentimento de “mágoa” em nosso coração. Mesmo pensando sobre a maldade dos outros isto nos trará uma dureza e frieza na vida interior. Aquilo que condenamos nos outros irá, se pensarmos e falarmos muito sobre isso, influenciar os nossos próprios corações.
Você diz que é salvo e santificado. Agradeço a Deus por uma tal experiência abençoada, mas você ainda tem muito a ganhar. Você ainda não tem atingido a profundidade plena de nada. Há ainda a ternura de coração que você pode alcançar apenas através de muitas e variadas experiências. Há a ternura da voz, a ternura dos modos, a ternura de sentimentos, ternura de pensamento, que você alcançará apenas através de muita e profunda comunhão com Deus.
É através daquelas conversas íntimas e familiares com Jesus que somos transformados à Sua imagem gloriosa. Um ministro irmão me contou alguns dias atrás sobre a sua experiência da noite anterior. Ficou acordado, segundo ele, por um longo tempo e teve uma conversa doce com o Senhor. Tão íntima foi a comunhão que, virando para ir dormir, ele disse, meio sem pensar, “Boa noite”, como se despedindo de um amigo querido. Essa união íntima com Jesus nos dá visões mais claras de seu caráter e de sua beleza em nossas almas.
Você não tem visto aqueles que são duros, ásperos, e insensíveis em suas conversações e modos? Ninguém quer ser como eles. Nós estamos contentes por ficar longe deles. Eles medem uma pessoa pelo seu padrão, e se ela não é o que eles acham que deve ser, eles falam sobre ela de uma maneira sem amor e sem sentimentos. Sentimos que algo grosseiro e insensível precisa ser retirado de sua natureza. Nós não dizemos que não são santificados, mas que eles são muito amargos e rudes.
Eles precisam ser banhados no amor de Deus, eles precisam ser imersos no mar de sua gentileza. Vimos, por outro lado, aqueles que foram tão sensíveis, tão calmos e gentis, que a sua presença era como o respirar de uma manhã de doce primavera. Havia uma ternura em seus olhos, uma suavidade em sua voz, uma simpatia em seu sentimento, que lançou sobre a nossa alma uma sensação de prazer.
Há muito para nós ganharmos. Mas somente podemos ganhar isto na ponta da baioneta. Se quisermos ganhar, temos que lutar. Não há vitória sem batalha. Um irmão, depois de ganhar uma vitória decisiva, disse: “O diabo está morto”. Ele foi tão vitorioso e livre que pensou que o diabo devia estar morto. Num curto espaço de tempo, no entanto, o irmão aprendeu com o erro. O príncipe da potestade do ar ainda vive, e ainda temos a nossa humanidade. Se não estamos em oração e vigilantes, nos tornamos dispostos a lutar ao nosso modo; sentindo-nos um pouco amargos, se formos espezinhados.
Jesus nos diz: “não resistais ao mal”. Nós não devemos apenas não resistir ao mal exteriormente, mas não tendo qualquer sentimento de resistência em nossos corações.
Se quisermos ter santidade de vida, temos que ter sensibilidade de espírito.
Se você deseja que sua vida seja como o oásis no deserto, onde o viajante cansado é refrigerado, seja terno de coração, seja compassivo, suporte todas as provações com paciência, suporte todos os sofrimentos sem murmurar, tenha muita comunhão com Deus, e ele fará com que seja trazida a você aquela ternura de alma que fará com que a sua vida, aonde quer que vá, seja como a atmosfera do céu.
Extraído do livro como viver uma vida santa, de James Orr – traduzido pelo Pr Silvio Dutra