A experiência de Isaías no inicio do seu ministério é magnífica, dentre outras coisas, pelo seguinte fato: ela revela em fortíssima dose a glória de Deus. O Senhor é visto assentado em um alto e sublime trono, representando sua grandeza e domínio sobre tudo o que existe, algo que é até difícil de precisar em palavras. Além disso, há adoração. Perfeita, completa e digna adoração à sua glória, poder, majestade e santidade. Apenas os três primeiros versículos de Isaias seis são suficientes para nos causar temor e grande assombro a tamanha glória. O que acabou acontecendo a Isaias quando este se deu conta de onde estava e de quem era.
Nós sabemos que Deus, seus atributos e glória são imutáveis. O que o profeta presenciou – em ínfima proporção, é claro – é eterno. Sempre foi assim e sempre será. Sendo assim, podemos, sem dúvidas, perceber que este acontecimento se repetiu e ficou claro em outras ocasiões. A diferença era o lugar e as pessoas envolvidas, apenas. Sobre essas outras ocasiões, quero frisar duas: o nascimento e crucificação de Jesus, que estão diretamente associadas à glória do Pai.
O discípulo amado fez uma declaração surpreendente – tanto para mim e você quanto para seus contemporâneos – em João 1:14. João faz questão de nos levar à compreensão de que a vinda de Cristo era uma poderosa manifestação da glória de Deus. Aquela mesma noção que Isaias teve, nós podemos ter com esta declaração dele, guardando-se algumas mudanças: do Trono para terra; da posição de honra para a de servo; da glória para o desprezo; da dignidade intrínseca para o anonimato.
Essas diferenças não impediram João de testemunhar da glória porque, com todas essas mudanças, a Pessoa era a mesma. Sim, o nascimento de Jesus foi uma tremenda manifestação da glória de Deus porque Ele mesmo estava se esvaziando e providenciando eterna redenção (Fp 2; Hb 9). Com exceção da Transfiguração (Lc 9), que nos deu uma idéia de sua eterna Majestade, foi por esses meios que “vimos sua glória”.
No entanto, há algo mais a ser considerado para que tenhamos a completa compreensão da glória do Pai, conforme João teve. O que nos falta é ver, como Jesus via, a fonte de glorificação de Deus. Esta fonte era a Cruz. Chegar ali era o que O sustentava (Jo 4:34), sem que seu olhar se desviasse disso (Jo 12:22-24). Justamente o lugar mais vergonhoso, mais indigno, que nem de longe lembrava a visão tida por Isaias, era o que completaria a glorificação do Pai e que nos garantiria, de uma vez por todas, a remoção dos nossos pecados, nossa justificação, nosso resgate e reconciliação.
“Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17:5). Como seria possível isto? Pela Cruz. A obra precisava ser consumada; ”o fruto do trabalho da sua alma” precisava ser colhido; a satisfação do Pai precisava acontecer. E aconteceu! Nossa dívida foi cancelada; nossos pecados postos sobre Ele; nossa inimizade destruída; um novo e vivo caminho foi aberto e… sua glória irradiada por toda terra – por todo o universo! De fato, nada e em nenhum outro lugar da história glorificou tanto a Deus como o Seu plano de a Si mesmo Se dar por nós, por meio do Seu bendito Filho.
Do trono para a cruz e agora de volta para a glória: essa foi a trajetória do Cristo de Deus – o próprio Deus! Como resultado, Ele foi exaltado sobre todo trono e reino, tornando-se o único digno de ser reconhecido como Senhor “para a glória de Deus Pai” (Fp 2:11) e único meio pelo qual nós vamos a Deus.
Não há como negar que Deus não abriu mão de sua glória. Ela sempre se manifestou, mesmo em Jesus completamente esvaziado de sua divindade. Eu me surpreendo e me atemorizo quando tento me colocar no lugar de Isaias, mas muito mais ao me deleitar em tamanho amor que levou Jesus às últimas e terríveis conseqüências da cruz e em tudo aquilo que ele conquistou por mim ali. Sempre, sempre “para a glória de Deus pai”.
Não é em vão que o Novo Testamento nos recomenda a uma vida com Cristo, com divino amor por Ele. Pelo amor de Deus, vá até Ele e deixe-o moldar seu caráter até que sejas ao máximo parecido com o Pai, de maneira que o mundo veja isso! Há riquezas inefáveis advindas da glória do pai, como nos garante Paulo. E estas riquezas somente podem ser possuídas com Cristo em nós, a esperança… da glória (Cl 1:24-27).