A VIDA DE CRISTO
“já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;” (Gálatas 2:20)
O sonho da mitologia antiga era o de trazer os deuses aqui embaixo para terem comunhão com os homens. Mas eles conseguiram somente a degradação de seus ideais de divindade pela fraqueza da paixão humana.
Somente o evangelho deu esta estupenda revelação e transformação. Dois mistérios estão envolvidos. O primeira é a encarnação de Deus na vida humana do Senhor Jesus Cristo. E o segundo é a encarnação de Cristo na vida humana de um cristão consagrado.
O apóstolo expressou este duplo mistério numa bela passagem em Colossenses. Na versão antiga se lê: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade, e vós sois completos nele”. Isso pode ser parafraseado com veracidade perfeita, Deus preenche Jesus Cristo, e Jesus Cristo me enche. A palavra “completo”, nesta passagem, literalmente significa “encher completamente”.
Esta doutrina de Cristo habitando em nós é peculiarmente Paulina. O Senhor Jesus tinha antecipado isto no Evangelho de João quando Ele falou dos ramos e da videira e resumiu nossa vida espiritual nesta impressionante palavra: “Permanecei em Mim e Eu em permanecerei em vós, porque sem mim nada podeis fazer”, mas foi reservado especialmente para Paulo, acima de todos os escritores posteriores do Novo Testamento, perceber e revelar este mistério glorioso. Era o segredo de sua própria vida.
O primeiro capítulo dessa vida maravilhosa é descrito por ele com as seguintes palavras: “Aprouve a Deus revelar seu Filho em mim.” A partir desse momento ele viveu uma vida maravilhosa. Ele era possuído e controlado por um poder que transcendia todas as suas meras possibilidades humanas de caráter e ação. Isto era outra vida, uma vida adicional, um vida invencível e todo suficiente, “a própria vida de Jesus”. Ele foi capacitado para vencer o pecado e a tentação e para viver a sua vida cristã e completar o seu maravilhoso ministério não através de sua próprias capacidades pessoais meramente, mas por meio de uma união com o Senhor Jesus tão íntima e completa que toda a força e pureza e o amor do Mestre o possuía absolutamente, e tão identificado ele estava com Cristo, que o que Cristo pensava e sentia, ele também pensava, sentia e fazia, e podia dizer literalmente: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Isto se tornou para ele a apaixonada ambição do seu ministério, o grande segredo aberto para o qual ele havia sido comissionado para fazer conhecido de todo o mundo. Ele fala disso no primeiro capítulo de Colossenses como “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;” (Col 1.26,27)
A vida de Cristo! Podemos perceber tudo o que ela significa! Erga-se de uma só vez para o mais alto nível de aspiração santa e de alcance da graça divina. Ela nos oferece algo infinitamente maior do que a mera perfeição humana, porque isto é nada menos do que a santidade de Deus divinamente dada a nós por meio do Senhor Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo não é uma realização conquistada lentamente por um longo e paciente esforço. Não é um topo de montanha escalado pelos pés cansados do esforço humano.
Isto é uma grande obtenção, um dom divino, a vida trazida até nós aqui embaixo pelo Único Deus vivo e que tem oferecido a mais elevada ajuda para a alma mais necessitada através da infinita condescendência e graça do Senhor Jesus Cristo, para que cada um de nós possa dizer, não importa quantas vezes falhamos ou quão pouco ajudados possamos nos sentir: “Maravilhosa graça, ela me alcançou.”
E, finalmente, isto é mantido não por meio da nossa força ou firmeza, mas através de simplesmente permanecer nEle, e habitar nEle, e em cada momento perceber que “da Sua plenitude temos recebido, graça sobre graça.”
Texto de A. B. Simpson, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.