Deus é espírito onisciente, onipotente, onipresente e completamente santo e puro. Nós, evidentemente, não o somos. É por isso que, sem que Ele manifeste a nós a sua graça, não podemos conhecê-lo de modo pessoal e íntimo.
Deve ser também considerado, que para este conhecimento pessoal, é necessário antes que seja operado em nós, por Ele, o trabalho da nossa justificação (perdão pleno); regeneração (novo nascimento) e santificação.
Ponderemos agora sobre quais seriam os principais motivos porque que nem todos sejam participantes dessa graça salvadora referida.
Caso fosse suposto que tal sucedesse em razão de um processo eletivo divino, no qual escolhesse ao léu quem seria agraciado, ao modo de um lançamento de sortes, equivaleria atribuir caráter do Deus que afirma não ter prazer na morte de ninguém, e que deseja que todos fossem salvos, alguma forma de vontade caprichosa.
O bom senso recomenda portanto, que tal hipótese seja excluída.
Podemos então, ter como segura causa da eleição, a assertiva bíblica de que somos: “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,” (I Pedro 1.2a).
Ou seja: como o fim da eleição é o de que sejamos santificados pelo Espírito Santo, Deus conhece, por seu atributo de presciência, quais são as pessoas que aceitarão o convite da graça do evangelho para ser operada nelas a referida santificação, do mesmo modo que também conhece aqueles que resistiriam ao citado convite.
Como a condição natural de toda e qualquer pessoa é de endurecimento ao conhecimento de Deus e da sua vontade, então é de se supor, que Ele mantenha em endurecimento, por não conceder a sua graça, a estes que sabe, adredemente, que a rejeitariam caso lhes fosse fornecida, para operar neles o trabalho de remoção do referido endurecimento.
Daí afirmar o Senhor nas Escrituras que endureceu a faraó, nos dias de Moisés, ou seja, ele não lhe concederia graça para que se arrependesse e fosse transformado, porque conhecia, em sua presciência, que ele lhe resistiria, não permitindo ser convertido.
Não foi o Senhor que o agente causador do endurecimento de faraó, mas o próprio mau uso deste, do livre arbítrio que lhe fora dado.
Deus a ninguém tenta, e em ninguém produz o mal moral. É Deus de vida e não de morte. É Deus de santidade e não de pecado.
O que distingue os pecadores é que alguns chegam a lamentar o fato de serem pecadores e buscam serem transformados por Deus, enquanto outros jamais se arrependerão dessa condição de possuírem a natureza pecaminosa que é comum a todas as pessoas.
Assim, não seria de se supor que Deus desperdice os seus dons, ou faça empenhos para nenhum propósito.
Como poderíamos admitir que tentasse salvar quem ele conheceu antes mesmo de formar no ventre, como sendo alguém que lhe resistiria de forma obstinada e para sempre, assim como fazem Satanás e seus demônios?
Por isso citou o exemplo de Esaú e Jacó para o nosso conhecimento desta verdade (Romanos 9.13).
Assim, as Escrituras declaram que bem-aventurados são os humildes de espírito, porque estes comprovam por sua humildade diante do Criador, que serão o objeto da revelação da sua graça salvadora.
Não há portanto qualquer mérito para a eleição, porque afinal, todos somos pecadores, mas é conhecido por Deus, de antemão, quem obterá o benefício da sua misericórdia para salvação, por desejar ser santificado, e, quem não receberá o citado benefício, por não se sujeitar a Ele, nem à sua vontade.
Daí usar de misericórdia com quem quer usar de misericórdia (os eleitos, os que se arrependem), e de não usá-la com que não quer usá-la (os não eleitos, por saber que seria por eles rejeitada, e assim permanecem endurecidos em seus pecados não perdoados).
“terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Êxodo 33.19b; Romanos 9.15)