O Pastor e sua Vocação. Resenha
A ATUALIZAÇÃO DO PERFIL E VOCAÇÃO DE UM PASTOR.
Em um cenário caótico surge Eugene Peterson, com uma apresentação única e bastante peculiar pela abordagem do livro de Jonas do Antigo Testamento. Dando a entender uma nova e incrível releitura da historia do profeta para a atuante realidade da vida dos pastores dos nossos dias. Peterson foi pastor da mesma igreja por 29 anos, acumulando experiência ministerial e conquistando credibilidade pastoral. Atualmente é docente em Teologia Espiritual no prestigiadíssimo Regente College, no Canadá, onde é professor emérito. Além de escritor e poeta, Peterson produziu uma tradução da bíblia sob o título The Message. Eugene Peterson é chamado por muitos de pastor de pastore. (PETERSON, 2006)
Com a obra em questão podemos perceber como Peterson se sente indignado com as atuais ações dos pastores que em vez de buscarem a santidade vocacional e pessoal, que em suas próprias palavras “Santidade vocacional em deliberado contraste com a idolatria da carreira é o meu assunto” (p.16). Peterson acredita também que há uma diferença entre santidade pessoal e santidade vocacional.“Suas palavras são claras e desafiadoras quando diz, “Gostaria de ver a santidade de nossa vocação receber a mesma atenção que a piedade de nossa vida”, frisando também que se presume que se o “pastor” for” dedicado” o seu trabalho também será, demonstrando que a santidade não é banal. (PETERSON, 2006)
Após esta introdução o autor nós leva a partir do primeiro capitulo a este novo olhar sobre historia de Jonas, revelando que a mesma não é frívola, ou mesmo fútil, sem valor ou importância, antes mesmo denota um senso de humor, sendo alegre e que desperta ou evoca alegria em nós.
O ponto de partida de Peterson é o mesmo de Jonas, caracterizando o perfil do pastor que assume o lugar do próprio Deus quando compra sua passagem para Társis. É a forma exótica e pratica de fuga do pastor a quem Deus oferece uma vocação e o chama para realizar uma obra. Como sempre a resposta é quase sempre afirmativa, porém é temos mania de querer negociar ou mesmo barganhar a nossa chamada, mesmo de forma velada fingindo uma humildade, escolhendo o local de trabalho, tipo “Nínive não, por favor, é um lugar de bárbaros” (p.26).
O autor coloca Társis como a catapulta para uma carreira de estrelismo, sem ter que lidar com o próprio Deus, porém não deixa de expor um antídoto, para essa fuga da responsabilidade, em um simples ato de ficar e assumir a congregação e assumir-la como seu projeto também, não só como um projeto de Deus. Ele coloca a congregação como o local de amadurecimento. O autor ilustra que o pastor passa de desobediente para obediente. (PETERSON, 2006)
No segundo capitulo o autor relata sobres atos religiosos como uma mal a ser combatido de forma consistente na vida eclesiástica do pastor na direção do seu ministério aonde o pastor desenvolve a sua santidade vocacional, juntamente com a virtude, a amar, progredindo na esperança e é aonde o pastor se torna o que prega, o pastor passa por não um, mas o amadurecimento espiritual em Sua vida e seu ministério.
Um quadro interessante que o autor coloca é “a pornografia eclesiástica’(p.31) é sem duvida uma forma simples curta e, no meu ponto de vista, muito certa, há uma verdadeira vitrina de ofertas dos mais variados tipos de objetos para atiçar não só os desejos do pastor, mas também sua cobiça de posses financeiras e materiais.
Há um “que” de alerta bastante claro do autor em referencia à vida eclesiástica se tornar e tomar toda a vida do pastor, ativismo, o trabalho compulsivo por longas horas em busca de ser bem sucedido nos negócios da igreja é extremamente combatido. Há uma pergunta no ar; o que é ser pastor? De acordo com o autor, que responde da forma até pessoal: “[…] encarno essa vida de oração, leitura da bíblia e direcionamento espiritual” (p.47). ”[…] abandonei o profissionalismo religioso e abracei a vocação pastoral” (PETERSON, 2006)
Vamos para o ventre do peixe, no terceiro capitulo, “Esse é o cerne da história, localizado no ventre do peixe”, de acordo com Peterson, quando Jonas ora no ventre, neste afogamento do estrelismo com carreira de vaidades. Jonas orando e se auto-analisando, ressurge já com a chave do seu ministério genuína da sua vocação pastoral, uma vez que “Tornamo-nos o que fomos chamados a ser por meio da oração” (p.75). E esta oração na visão do autor se torna a necessária askesis, onde os pastores são reduzidos a nada e dependem inteiramente de Deus para que Ele os molde de acordo com sua vontade. (PETERSON, 2006)
No quarto e penúltimo capitulo Peterson começa como se tornou desgasta a nomenclatura do pastor e sua figura no meio do mundo secular e evangélico. À procura do caminho para Nínive, nos dá um novo norte para um dos mais importantes aspectos da vocação pastoral, não somente de forma geográfica, mas local também nas palavras do autor seria especificamente na forma da congregação em que é apresentada como o solo fértil da lida pastoral, ela deve ser respeitada e penetrada pelo pastor. “O trabalho pastoral implica trabalhar no local, resolvendo as coisas no solo específico de uma igreja específica” (p.115).
Note que tem uma chamada à reflexão sobre a entrega do pastor para com sua congregação, onde o mesmo se torna o fermento necessário para um crescimento sadio da congregação, simplesmente, respeitando suas características peculiares, satisfazer-se em seu trabalho e promover a mudança de que a igreja precisa, sendo que sua características se torna escatológico, segundo o autor só a escatologia bíblica é capaz de evitar a perda do incentivo celestial à santidade, ao prêmio da vocação em Cristo Jesus. Eugene Peterson diz que “precisamos de pastores que vivam escatologicamente em nossas gerações, tal como João viveu nas suas” (PETERSON, 2006)
Brigando com Deus sob a planta imprevisível, neste ultimo capitulo Eugene Peterson trabalha sob a ótica da revelação da graça e como ela confundiu Jonas e confunde até hoje pastores, Jonas ao ser surpreendido, se sente confuso e se ira no meio desta confusão de sentimentos, veja esta ação só se torna possível de se entender se o pastor tiver imaginação como um exercício mental, não se trata de uma imaginação banal e abstrata, mas uma imaginação de quem tem a imagem correta. Definido este conceito o autor trabalha a questão da mudança de paradigma, e esta mudança sugerida é clara nas palavras do próprio autor quando diz “A mudança de paradigma que procuro é de pastor como diretor de programas para pastor diretor espiritual”. Este pastor tem foco na adoração, vida de servo, sacrifício.
É um trabalho que não visa estar no controle, admite ter falhas e tem disposição para a prática do perdão. Essa prática de direção espiritual, que é apontada como o cerne do trabalho pastoral, surge da comunhão. Na comunhão o pastor sai do centro e vê Deus agindo. É uma vocação em Nínive, e não uma busca por uma carreira em Társis. O autor dá a seus leitores, algo que, é o modelo de ministério pastoral que ele apresenta como sendo a verdadeira vocação espiritual do pastor. Um pastor que não foge para Társis, mas encara o desafio de permanecer fiel em Nínive e a Nínive. (PETERSON, 2006)