“E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu” [Marcos 13:26-27 ACF].
O arrebatamento da igreja é um dos fatos mais aguardados pelos cristãos desde a ascensão de Cristo de sobre o Monte das Oliveiras (c.f. Atos 1:9). Uma longa e inconclusiva discussão tem se desenrolado no meio cristão acerca da possibilidade e do momento da ocorrência desse fato. Muitas igrejas e líderes marcaram datas para o arrebatamento, mas como podemos constatar nenhuma estava certa.
As diferentes interpretações desse tema nas Escrituras têm levado a muitas especulações por parte de pastores, pregadores, escritores e teólogos. A Palavra é uma só, mas muitas são as explicações, inclusive entre os grandes estudiosos da Bíblia; não há um consenso universal. Portanto, deve-se ter muita humildade ao tratar de assuntos referentes aos acontecimentos finais (escatológicos).
A maior parte dos textos bíblicos que tratam do tema estão no livro do profeta Daniel e nas revelações do apóstolo João, registrada no livro de Apocalipse. Esse é o primeiro problema por conta do qual há tantas divergências entre as teorias apresentadas: ambos estão escritos em um estilo literário chamado de Apocalíptica Judaica. Esse estilo utiliza diversas figuras de linguagem para retratar os eventos que foram revelados por Deus. Essas figuras não visam apenas informar, mas transmitir emoções através das imagens que representam. Isso faz com que a interpretação, quando não feita através de longa análise das Escrituras e do auxílio incondicional do Espírito Santo, seja tendenciosa a exprimir as ideias de quem a faz.
Por outro lado, o apóstolo Paulo menciona diversas vezes fatos ligados aos acontecimentos finais (c.f. 1 Tessalonicenses 4:13-18, 1 Tessalonicenses 5:1-4, 2 Tessalonicenses 2, 1 Coríntios 15:51-53, etc). Além dele, vemos também o apóstolo João tratar do assunto em sua primeira epístola (1 João 2:18-29). Contudo, nem Paulo, nem João e nem qualquer outro apóstolo registrou um postulado escatológico ou apresentou uma completa teologia escatológica através qual possamos definir uma posição central bíblica acerca de diversos aspectos que envolvem esse ponto.
É por conta disso que a compreensão da escatologia torna-se penosa e as conclusões não são unânimes. Ademais, devemos ter em mente que, apesar desses acontecimentos finais estarem no foco da obra de Cristo, o conhecimento acerca dos tempos por nós não é o objetivo de Deus – isso fora expressado por Jesus no momento de sua ascensão: “Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” [Atos 1:7-8 ACF].
Com isso em mente, como podemos, então, compreender o que Deus nos disse sobre o arrebatamento através das Escrituras? Creio que o caminho mais confiável é através das palavras de Jesus, proferidas em seu Sermão Escatológico realizado no Monte das Oliveiras e registrado em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21.
Em uma primeira análise dos textos, percebemos claramente algo que vai contra muita coisa que vem sido pregada e ensinada em grande parte das igrejas: Jesus em momento nenhum fala de um arrebatamento secreto para a igreja ou para seus escolhidos. Ou seja, essa ideia de que Jesus viria e arrebataria sua Noiva para encontra-se com Ele nas nuvens de maneira que os que ficassem na Terra não compreenderiam não é mencionada por Jesus. Pelo contrário, Jesus afirma que Sua vinda seria em glória e vista por todos (c.f. Mateus 24:30, Marcos 13:26 e Lucas 21:27) e que só então reuniria Seus escolhidos. Essa análise permite-nos ver claramente que isso não ocorrerá sem que antes ocorra um período de grande tribulação, que até então não ocorrera no mundo. Em outras palavras, os que serão ajuntados pelos anjos no momento da vinda de Cristo (ou seja, os salvos), segundo as palavras do próprio Jesus, estarão na Terra no momento em que esses fatos ocorrerem.
Para distorcer esse entendimento, muitos afirmam que essa mensagem era apenas para os Judeus, pois a igreja não existia naquele momento. Se essa explicação fosse válida, teríamos, pela mesma lógica, que admitir que todas as bênçãos que Deus, no antigo testamento, prometeu não são para nós, pois quando Deus as proferiu a igreja não existia… Muitos esquecem que somos descendentes espirituais de Abraão e que as palavras de Deus para Seus descendentes também servem para nós (ver Gálatas 3:6-14).
Outro texto bíblico utilizado para refutar esse ponto é que, segundo 2 Tessalonicenses 2:7, no momento da Grande Tribulação o Espírito Santo, que seria quem estaria impedindo que o Anticristo se manifestasse e marcasse o início da Grande Tribulação, seria retirado da Terra e, portanto, a igreja também. Todavia, não há no texto qualquer menção de que seria de fato o Espírito Santo que estaria impedindo esse acontecimento. Muitos comentaristas bíblicos inferem que, além do Espírito Santo, as outras opções que poderiam preencher essa lacuna seria: 1) o governo e as leis, ou 2) a igreja e sua obra e oração. Não há uma confirmação bíblica nem tampouco uma concordância. Por conta disso, não se pode citar esse texto dentro do contexto no qual normalmente é posto, como uma prova do arrebatamento antes da Grande Tribulação.
Contudo, através de um estudo mais aprofundado do Sermão Escatológico, podemos chegar a 3 conclusões:
1. Jesus não nega a existência do arrebatamento, mas mostra que não será secreto; ocorrerá no momento em que Sua vinda, após as aflições daqueles dias, estiver sendo contemplada por todos e os anjos terão, então, saído para reunir os salvos;
2. O fato de o arrebatamento ocorrer após a tribulação não anula as promessas de Deus de que livraria seu povo da angústia daqueles dias, pois vemos, como exemplo disso, que durante as guerras que Josué travou Deus não impedia as batalhas, mas livrava Seu povo da morte e concedia a vitória;
3. O foco de Cristo não é poupar Seu povo da aflição, pois ele mesmo disse que teríamos aflições nesse mundo (c.f. João 16:33), mas sim salvar-nos e demonstrar Seu poder através de nossa fé de que mesmo que andássemos no vale da sombra da morte, não temeríamos mal algum por conta de Sua presença conosco (c.f. Mateus 28:20).
Não importa, no entanto, quando ocorrerá o arrebatamento. Nosso foco deve ser o de estar com o Senhor a todo o momento, amando-o incondicionalmente e servindo prontamente. Seu livramento certamente virá no momento oportuno.
Deixo a seguinte palavra do apóstolo Pedro para nosso encorajamento:
E qual é aquele que vos fará mal, se fordes seguidores do bem? Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis;Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo. Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal. Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito. [1 Pedro 3:13-18 ACF].