Hoje eu quero olhar para apenas um versículo: 1 João 2:1. Este é um texto que deve ser familiar para a maioria de vocês, mas às vezes perdemos as verdades ricas em textos mais conhecidos por não olhar de perto o suficiente ou pensar profundamente o bastante sobre o que o texto realmente diz. Este é um daqueles textos importantes que é milhares de vezes mais profundo do que a maioria das pessoas jamais perceberá, só por ler o capítulo. Então, eu quero meditar sobre isso com cuidado. E assim você terá um pouco do contexto. Vou começar a ler com outro texto (ainda mais conhecido) que se encontra apenas dois versos antes, mas separados por uma divisão de capítulo.
Eu vou começar a ler com 1 João 1:9, e deixe-me sugerir-lhe que há um tema que une esses dois textos, e é o tema da justiça de Deus – no ato mesmo do perdão. Primeira João 1:9,10:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”
I Jo 2:1: “Meus filhinhos, eu estou escrevendo essas coisas para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.”
(A citação “o justo” no final do versículo é de grande significação porque é pela justiça de Cristo, e não pela nossa, que somos justificados por Deus, e é em razão disso que ele pode interceder como Advogado, em nosso favor junto ao Pai – nota do tradutor)
Sempre tenho ficado intrigado com essa frase “temos um Advogado para com o Pai”. A velha edição de 1984 da NIV traduz assim: “nós temos alguém que fala ao Pai em nossa defesa.” Faz parecer que Jesus é um advogado, certo? Isso lhe surpreende? Você pode ter pensado que não haveria nenhum advogado no céu.
Não tenho dúvidas de que haverá. Espero ver pelo menos Don Green lá. Mas a boa notícia é que nenhum deles fará o exercício da advocacia no céu. Há apenas uma prática de advocacia no céu, e que é do próprio Senhor, o nosso “Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.”
O apóstolo João está deliberadamente usando a terminologia dos tribunais. Ele está retratando Cristo como um advogado que defende o nosso caso na sala de justiça de Deus. É uma imagem surpreendente da nossa salvação, e um lembrete vívido de que a nossa redenção do pecado está toda ela sobre a divina justiça. Somos salvos por meios legais de um modo que magnifica a justiça de Deus.
Agora deixe que isto penetre em sua consciência. Quero enfatizar isso, porque muitas pessoas não compreendem completamente a salvação, e pensam do perdão divino como algo que subverte totalmente a justiça e a põe de lado. Como se a misericórdia de Deus anulasse a Sua justiça. Como se o amor de Deus destruísse e revogasse o Seu ódio ao pecado.
Em outras palavras, as pessoas tendem a pensar que a salvação está fundamentada somente no amor e misericórdia e bondade de Deus, como se Ele simplesmente decidisse abandonar o devido castigo do pecado e acabar com o registro de nossos erros e anular as reivindicações da justiça contra nós, só porque o seu amor era tão grande que ele simplesmente acabou com o Seu santo ódio pelo pecado.
Mas isso é uma visão errônea. Na verdade, é um dos principais erros da heresia conhecida como Socinianismo.
Os Socinianos originais eram hereges do século XVI que negavam que Deus exige qualquer pagamento pelo pecado como um pré-requisito para o perdão. Eles insistiram em vez disso que Ele perdoa os nossos pecados a partir da graça de Sua bondade somente. Eles argumentaram que, se Deus exigisse uma expiação – um pagamento pelo pecado, então isto não seria realmente o perdão quando Ele nos absolve. Eles alegaram que o pecado podia ser pago ou perdoado, mas não ambos.
Em outras palavras, eles definiram o perdão de uma maneira que contradiz e contraria a justiça. Eles tinham essencialmente ensinando que Deus não poderia manter as exigências de sua justiça e perdoar os pecados, ao mesmo tempo. Eles pensaram no perdão e na justiça como duas ideias incompatíveis.
Espero que você não pense que a salvação funciona dessa forma.
Uma das mais gloriosas verdades do evangelho é que Deus nos salvou de uma maneira que confirmou a Sua justiça. A justiça não foi nem comprometida nem posta de lado; ela foi totalmente satisfeita. E a nossa salvação está, portanto, fundamentada na justiça de Deus, bem como na sua misericórdia.
E é isso que o apóstolo Paulo quis dizer quando afirmou em Romanos 1:17 que “a justiça de Deus se revela no evangelho”. É também o que o apóstolo João ressalta aqui neste contexto, quando ele diz no versículo 9 do capítulo 1, que “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar.” Ele não meramente põe de lado a justiça e nos perdoa com base na enorme abundância de Sua misericórdia, Ele perdoa, porque é um ato de justiça fazê-lo assim.
Agora, não há um paradoxo surpreendente e maravilhoso nessa ideia? Você vê isso? Nós normalmente pensamos da justiça como o atributo de Deus que exige a punição do pecado. E é isso. A justiça clama por vingança sempre que um mal é feito. Provérbios 11:21: “Tenha a certeza, que uma pessoa má não ficará impune.” Êxodo 34:7: ” [Deus] não tem por inocente o culpado.”
Entendemos isso instintivamente. É injusto deixar o mal impune. A justiça verdadeira leva Deus a tratar com os malfeitores. Ouça a oração de Salomão na dedicação do templo (2 Crônicas 6:23): ” ouve tu dos céus, age e julga a teus servos, dando a paga ao perverso, fazendo recair o seu proceder sobre a sua cabeça e justificando ao justo, para lhe retribuíres segundo a sua justiça.”
De acordo com Apocalipse 6:10, as almas daqueles que foram martirizados por sua fé clamavam a Deus: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
E Deus vai julgar o mal. Estamos ansiosos para o dia em que o Juiz de toda a terra julgará as obras dos ímpios e expurgará o mal do universo. Ele não comprometerá a sua própria justiça, permitindo que um pecado fique impune. Jesus disse: “nada há encoberto que não será revelado, nem oculto que não será conhecido” (Mateus 10:26 ). Lucas 12:3: “Tudo o que você disse no escuro será ouvido na luz, e o que você sussurrou em salas privadas será proclamado sobre os telhados.” Todo pecado, mesmo os secretos, serão expostos e julgados.
A justiça clama por vingança do pecado, e Deus é um Deus de justiça perfeita, então ele não deixará um só pecado impune. (exceto no caso de terem sido perdoados pela expiação no sangue de Jesus – nota do tradutor)
Nós tendemos a pensar sobre essas coisas de uma forma muito superficial. Tomamos a misericórdia de Deus como garantia e ignoramos Sua santa justiça. Mas uma visão correta de Deus sempre exaltará o Seu ódio justo contra o pecado, tanto quanto magnificará o Seu amor e misericórdia. A misericórdia de Deus não é um sentimento piegas que faz com que Ele se esqueça da sua santidade e ponha de lado a sua justa ira contra o pecado. As exigências da justiça devem ser plena e completamente satisfeitas para que Deus possa perdoar o pecado. Ele não pode e não vai simplesmente ignorar o pecado como se isto realmente não importasse.
Ainda assim, ele perdoa.
E para mim, uma das coisas mais maravilhosas sobre o evangelho é que ele explica como isso é possível. Cristo satisfez a justiça de Deus em favor daqueles aos quais Ele salva. Ele suportou a pena dos seus pecados quando Ele morreu na cruz. O evangelho declara: “Sua justiça, [assim] para que ele pudesse ser [ambos] justo, e justificador daquele que tem fé em Jesus.”
Em outras palavras, o Evangelho não é apenas uma mensagem sobre o amor de Deus. Ele é isso, mas não é só isso. O verdadeiro evangelho magnifica sua justiça, tanto quanto o seu amor. Mas quando foi a última vez que você pensou sobre o evangelho como uma mensagem sobre a justiça divina?
Tendemos a não pensar nesses termos. Invariavelmente, quando você ouve o evangelho apresentado nos dias de hoje, todo o enfoque está no amor de Deus e Sua aversão justa ao pecado raramente é sequer mencionada. “Deus ama você e tem um plano maravilhoso para a sua vida.” Gostamos de falar sobre o perdão, mas raramente há qualquer atenção ao fato de que Deus exigiu o pagamento completo pelo pecado, e se o pagamento não tivesse sido feito, nunca haveria qualquer perdão. Hebreus 9:22 – “sem derramamento de sangue não há perdão dos pecados.”
A verdade é que, se a justiça de Deus não tivesse sido plenamente satisfeita, nossa salvação não seria possível. Seríamos condenados para sempre sem qualquer esperança de misericórdia.
É por isso que o apóstolo João usa toda esta terminologia forense. Ele está destacando o fato de que nossa salvação está fundamentada na justiça de Deus. Capítulo 1 versículo 9: “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados.” E olhe para o versículo 1 do capítulo 2: “Nós temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.”
Mais uma vez, há um paradoxo maravilhoso nisso. Nós pensamos da justiça como aquilo que clama para o nosso castigo, mas podemos aprender com o evangelho que Deus tem feito a justiça ser algo que clama por misericórdia. Isso é realmente um profundo pensamento, quando você pensa sobre isso.
Este é o assunto que abriu os olhos de Martinho Lutero para o evangelho. Ele estava estudando Romanos 1, e ele não conseguia passar do versículo 17. Ele leu, onde Paulo diz que o evangelho revela a justiça de Deus, e ele era incapaz de ir adiante. Ele disse que ficou com raiva. Ele disse que odiou o apóstolo Paulo por ter escrito esse versículo, porque o evangelho é suposto ser boa notícia.
Mas Paulo diz que revela a justiça de Deus, e Lutero só conseguia pensar em justiça como algo que exigia a punição dos pecadores.
Mas, finalmente, ele se deu conta de que Paulo estava falando de um modo diferente sobre a justiça divina. Na verdade, Paulo estava descrevendo esta qualidade mesma da justiça divina que exige a salvação dos crentes. “Como está escrito: O justo viverá pela fé”. E Lutero disse que era como se uma janela para o céu tivesse sido aberta para ele. De repente, ele viu a justiça de Deus sob uma luz completamente diferente, e ele veio a amar esse mesmo atributo de Deus, que ele detestava anteriormente.
Há um ponto importante em tudo isso: a menos que você veja que a justiça de Deus é tão importante quanto a sua misericórdia na obtenção de sua salvação, você não vai amar a Sua justiça da forma que deveria. Mas se você entender que a salvação não somente cumpre a misericórdia divina, mas também magnifica a justiça divina, isso será um poderoso fator dissuasivo para o pecado em sua vida.
Olhe para o nosso versículo de novo: “Meus filhinhos, escrevo estas coisas para que não pequeis.”
E nesta manhã eu quero levá-lo para a visualização da galeria do salão da justiça celestial, para que possamos analisar o paradoxo da justiça divina de perto. E eu vou chamar a atenção para três aspectos nesta cena forense que são surpreendentes e maravilhosos. Aqui estão três características que não são as que poderíamos esperar encontrar num cenário onde a primeira preocupação é a justiça: o advogado, o veredicto, e o remédio para o nosso pecado. Vamos olhá-los individualmente. Primeiro,
1. O Advogado
O advogado de defesa é o próprio Cristo. Isto é notável por várias razões. Primeiro de tudo, como eu disse no início, é extraordinário pensar de Cristo no papel de nosso Advogado celestial – intercedendo por nós com Deus, argumentando a nosso favor com base na divina justiça. É assim que Ele pleiteia o nosso caso. É assim que Ele fala em nosso benefício. Ele nos representa diante do trono da justiça divina, e faz com que essa própria justiça demande o nosso perdão. Você não poderia ter um melhor advogado para defender seu caso.
A palavra grega traduzida como “advogado” é parakletos. Literalmente significa “alguém chamado ao lado.” Ela tem a ideia de um intercessor em nosso favor. Ela também pode transmitir a noção de quem consola – um consolador. É a mesma palavra usada para o Espírito Santo em João 14:16, onde Jesus prometeu enviar o “Consolador”, o parakletos – alguém chamado ao nosso lado para nos ajudar. Assim, o Espírito Santo habita em nós como nossos parakletos aqui na terra. Jesus intercede por nós como nosso parakletos na sala do trono de Deus. (Muitos sofrem a dor de se sentirem sempre acusados e condenados pelo pecado, porque não conseguem ver Jesus e o Espírito Santo como parkletos – advogados de defesa – consoladores para o pecador penitente, senão como duros juízes prontos a nos castigar por nossas falhas e fraquezas. Enquanto prevalecer esta última visão, não se pode desfrutar do amor e do descanso de Deus – nota do tradutor).
Agora, se você nunca se arrastou num tribunal para responder a acusações, uma coisa que você vai descobrir é que não existe presença mais reconfortante naquele tribunal que o advogado que fala em seu favor. Ele se senta ao seu lado. Ele argumenta o seu caso com mais eloquência e autoridade do que você jamais seria capaz de fazer em sua própria defesa. Ele fica ao seu lado completamente e sem reservas. Ele é a pessoa mais amigável na sala do tribunal quando ele olha para você ou fala com você e especialmente quando ele fala para o tribunal em seu nome. Acima de tudo, ele é o adversário determinado de quem fez as acusações contra você. Esse é o papel que Cristo cumpre para nós no céu. Isso não é uma verdade maravilhosa?
Não há melhor defensor do que Jesus Cristo. Não há ninguém que possa discutir com mais poder ou mais persuasivamente. Ele nunca perde Seus casos.
E observe com quem ele pleiteia. De acordo com este versículo, Ele é o nosso advogado “junto ao Pai”. Ele defende o nosso caso diante do Pai.
Agora, não é a ideia de que o nosso advogado está diante de um tribunal duro e insensível. Ele defende junto a um Pai amoroso.
E, neste tribunal, não é somente o nosso advogado que está gentilmente disposto para nós, mas o juiz está do nosso lado também.
Algumas pessoas imaginam que Cristo é simpático para nós, mas o Pai é severo e implacável, e Cristo deve pleitear com Ele, a fim de superar a sua hostilidade contra nós, como se Deus estivesse em oposição a nós e insistindo em retribuição. Como se Cristo devesse interceder desesperada e urgentemente em nosso favor para mudar a atitude do Pai e superar a suposta hostilidade do juiz celestial contra o nosso pecado.
Se essa é a maneira que você imagina o exercício da advocacia de Cristo, tire essa ideia de sua mente. Nesta corte celestial de justiça, o Juiz já está predisposto a perdoar.
Ele está tão ansioso pela nossa absolvição tanto quanto o nosso advogado que nos defende. Na verdade, é Ele, o Pai, o Juiz – que enviou o Filho para se tornar nosso Salvador. Primeira João 4:10: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas foi Ele que nos amou primeiro e enviou seu Filho para ser a propiciação pelos nossos pecados. ” Assim, o Pai e Seu Filho, nosso advogado, estão ambos inclinados em direção à misericórdia. Salmo 130:7 diz: “com o Senhor há benignidade, e com ele há copiosa redenção.”
O salmista orou (no Salmo 86:5), “tu, Senhor, és bom e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam.” E no versículo 15, ele acrescentou, “tu, Senhor, és um Deus misericordioso e compassivo, tardio para se irar e cheio de amor e fidelidade.” Isaías 55:7 diz que Deus “é rico em perdoar.” Em todos os lugares nas Escrituras, Deus é retratado como ansioso para perdoar, e disposto para perdoar, não se deleitando na destruição dos ímpios, mas pleiteando com os pecadores para que se arrependam e se reconciliem com ele.
O obstáculo, visto por nossa perspectiva, é a justiça. Como é que é justo para perdoar? O sacrifício de Cristo responde a essa pergunta (versículo 2): “Ele é a propiciação pelos nossos pecados.” Capítulo 1:7: “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”
Mas é justo perguntar: Se Deus nos ama e está disposto a ser misericordioso para conosco, e Cristo pagou a dívida exigida pela justiça, por que é então necessário que Ele suplique ao Pai em nosso favor? Por que o Filho deve ser o nosso advogado diante do Pai? Por que precisamos de um defensor celeste?
Porque há quem nos acusa: Satanás, que em Apocalipse 12:10 é chamado de “o acusador dos irmãos”, e que está constantemente trazendo acusações contra nós ao tribunal de Deus. Isto descreve o drama no céu no final dos tempos. O apóstolo João escreve: “Eu ouvi uma grande voz no céu, que dizia:” Agora chegou, a salvação, o poder, e o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, porque já o acusador de nossos irmãos foi jogado para baixo, porque os acusava de dia e noite diante do nosso Deus.” Você entendeu isso? Satanás está constantemente, sem parar, dia e noite, enquanto você está dormindo, bem como enquanto você está acordado, argumentando contra você perante o juiz de todo o universo. Acusando você. Trazendo a lista de suas transgressões diante do trono de Deus. Exigindo que seja punido por seu delito. E o seu grande objetivo é a destruição de sua alma.
Mas Cristo defende o seu caso. E Ele faz isso não para que Ele possa mudar a mente do juiz – porque o juiz já está disposto a ser misericordioso e clemente para você, se você está em Cristo. Mas Cristo pleiteia seu caso, a fim de responder ao argumento do acusador. A fim de calar aquele que fala contra você. Para derrotar e emudecer o grande inimigo de sua alma.
Assim como Satanás pleiteia o caso contra você dia e noite, você tem um incansável defensor que nunca para de defender sua causa. E de acordo com Hebreus 7:25 , “ele é capaz de salvar totalmente aqueles que se aproximam de Deus por meio dele, pois vive sempre para interceder por eles.” Ele nunca descansa. Ele nunca faz um recesso. Ele está constantemente respondendo às acusações contra você de uma forma que totalmente domina e oprime o adversário e totalmente silencia suas queixas.
E aqui está outra coisa notável sobre o defensor celeste. Ele é o único advogado de defesa na história da jurisprudência que vai defender o seu caso se você confessar totalmente a sua culpa a ele. Se você tentar encobrir sua própria culpa e se recusar a confessar que você é total e completamente digno de condenação, então você não pode tê-Lo como seu advogado. (O que é motivo para condenação nos tribunais terrenos com base na lei e justiça dos homens, é totalmente o oposto no tribunal celestial – nota do tradutor).
2. O Veredicto
Aqui está um Advogado que nunca perde um caso. Não importa o quão culpados e manchados pelos pecados eles estejam, os seus clientes nunca enfrentarão a condenação do juiz. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” ( Romanos 8:1 ). Ele tem se tornado justiça em si mesmo a nosso favor.
Ainda, isto é justiça divina, e não uma injustiça, quando somos absolvidos. O versículo 9 do capítulo 1 diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” Ele é o nosso Advogado (2:1) – “. Jesus Cristo, o Justo”. O veredicto? Um perdão total. “Deus que é luz, e em quem não há trevas nenhuma … é fiel e justo para nos perdoar os pecados.”
Assim, o veredicto é imediata absolvição e um perdão completo e livre de todos os nossos pecados sobre os princípios de justiça somente, sem comprometer a justiça divina, no mínimo. Então, no final, o juiz é tanto “justo e justificador daquele que crê em Jesus “(Romanos 3:26). Não é isto uma surpreendente justiça?
Agora, tenha em mente por que isso é possível: Como o próprio advogado já pagou a pena do pecado em nosso favor. Versículo 3: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados.” Nós conversamos sobre a palavra propiciação antes. Isso significa que Cristo tem satisfeito totalmente a justiça, bem como a ira de Deus, em nosso favor.
Ele tinha pago plenamente a pena do pecado antes, para que o nosso caso jamais fosse levado perante o trono. Na verdade, seria injusto se fôssemos convidados a pagar a pena uma segunda vez. E assim Cristo ganha nossa absolvição alegando que a justiça já tem sido cumprida. A pena já está paga na íntegra. “Ele mostra as mãos e feridas e me declara com sendo Seu.”
Quem não gostaria de um advogado como esse?
Agora eu lamento que todo este princípio não seja enfocado o suficiente em nosso pensamento, e isso é raramente mencionado na maior parte da pregação no mundo evangélico de hoje. Como eu disse anteriormente, há muito enfoque sobre a misericórdia e bondade de Deus, e isto é certamente um princípio importante. Foi o amor de Deus que o levou a dar o seu próprio Filho como um sacrifício pelos pecados, para que o perdão fosse possível.
Mas o perdão não teria sido possível na base do amor somente. Deus é um juiz justo. Ele não pode simplesmente virar a cabeça e olhar para longe de nosso pecado e agir como se nunca tivesse acontecido. Ele não pode ignorar o pecado e fingir ser justo, ignorando a injustiça. Algo deve ser feito sobre o pecado. Há um preço a ser pago. O princípio da justiça deve ser satisfeito. Se Deus simplesmente ignorasse o nosso pecado, Ele seria um acessório após o fato. A justiça estaria fatalmente comprometida. Sua própria santidade seria desacreditada.
Afinal de contas, Deus condenou imediatamente o diabo e os anjos que pecaram por expulsá-los do céu para sempre. Ele um dia vai amarrá-los e lançá-los no lago de fogo, onde vão colher o salário do seu pecado por toda a eternidade. Como poderia um Deus cujos padrões de justiça são tão altos, simplesmente desculpar o pecado da humanidade e não exigir nenhum preço pelo pecado de Adão e todos os que estão em Adão?
Alguém tinha que pagar, e tinha que ser um Homem que pagaria – um ser humano. Não somente isso, se um homem tivesse que pagar a penalidade do pecado em nome de terceiros, ele teria que ser um homem que não tivesse pecados de sua autoria para expiar.
E por isso mesmo, Cristo se tornou um homem, o homem perfeito, perfeito em justiça, “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e exaltado acima dos céus” de acordo com Hebreus 7:26. E Ele pagou um preço infinito, sofrendo a plena ira de Deus contra o pecado, o equivalente pleno do tormento eterno no inferno para sempre em favor de multidões que nunca poderiam se dar ao luxo de pagar um preço tão alto por si mesmos.
Esse é o verdadeiro significado da cruz. Cristo sofreu e morreu sob o peso de uma punição que é inconcebível em termos humanos.
Como Ele pagou esse preço? Foi por ser flagelado e cuspido, torturado e espancado por ímpios, cruéis, impiedosos carrascos? Bem, sim, mas não foi somente isso. Os sofrimentos físicos da cruz eram apenas uma fração infinitesimal da dor que Cristo sofreu. O sangramento, a sede, a dor, os chicotes urticantes e unhas cruéis podem parecer ter causado dor suficiente. Essas coisas certamente lhe deram uma maior dor terrena do que qualquer homem pode razoavelmente esperar suportar.
Mas isso somente não teria sido suficiente para expiar o pecado. E, de fato, o trauma físico era apenas um símbolo minúsculo dos sofrimentos reais de Cristo. Assim, esse drama terrestre jogado sobre uma cruz romana, foi um tipo do sofrimento muito mais grave que afligiu a alma de Cristo no reino espiritual. Ele recebeu todo o peso da ira divina por todos os pecados de todo o Seu povo de todos os tempos. Deus derramou a Sua ira santa contra o pecado na pessoa de Seu próprio Filho.
Vários séculos antes do evento da crucificação, o profeta Isaías havia dado um vislumbre da obra expiatória de Cristo, e quando ele olhou para o evento profeticamente, ele viu a crucificação do ponto de vista de Deus, e isto é o que ele escreveu (Isaías 53:10): “Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.” Isaías nos diz que Deus puniu a Cristo pelos nossos pecados. Novamente nas palavras de Isaías: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.”, Isaías 53.6.
Cristo carregou uma quantidade infinita de punição. Ele sofreu mais da ira de Deus do que você jamais iria sentir, mesmo se você passasse o resto da eternidade nos tormentos do inferno. E Ele fez isso para pagar pelos pecados de todos os que iriam crer nele para sempre.
E, tendo já sofrido tanto, Ele pode agora defender nossa causa diante de Deus em perfeita justiça. Ele pode ser um advogado diante do trono da justiça divina em nome de culpados, pecadores sem esperança, e Ele pode ganhar a sua completa absolvição, porque a justiça tem sido completamente satisfeita através de Seu sacrifício perfeito.
Isso é uma verdade importante para se manter em mente quando consideramos o perdão de Deus. Vivemos em uma sociedade onde os criminosos culpados saem impunes o tempo todo. Eles são livrados por tecnicidades forenses. Eles são absolvidos por juízes injustos e júris insensatos, e por advogados corruptos. E olhamos para isso com ressentimento, porque é uma distorção horrível da justiça.
Mas até mesmo o próprio Satanás não pode se queixar de qualquer injustiça no tribunal de Deus, mesmo os pecadores que são absolvidos o tempo todo. Porque o preço da justiça já tem sido satisfeito e pago integralmente.
Então, se você está em Cristo, você tem um defensor perfeito junto a Deus, o Pai, Jesus Cristo, o justo. Você pode ir corajosamente diante do trono da graça e estar totalmente certo de que você vai achar graça para socorro em ocasião oportuna. Você pode viver com plena confiança de que não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Você pode descansar na promessa de que não entrará em condenação, mas já passou da morte para a vida.
Se você ainda não está em Cristo, ou se você não tiver certeza de sua condição com Ele, peço-lhe para pedir a Ele por misericórdia, agora mesmo, exatamente onde você está sentado. Confesse seus pecados e não tente desculpá-los ou encobri-los. Peça ao Espírito de Deus para quebrantar seu coração sobre o seu pecado para que você possa vê-lo como Deus o vê (o pecado) – abominável, repugnante, e extremamente pecaminoso. Você tem a própria promessa inviolável de Deus que se você confessar o pecado e buscar a Sua misericórdia, Ele vai lhe perdoar, e Ele é ao mesmo tempo fiel e justo para fazê-lo.
Agora eu quero voltar sua atenção para uma terceira característica marcante dessa passagem.
3. O Remédio
A obra de Cristo tem adquirido para nós muito mais do que uma mera absolvição dos nossos pecados. “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-nos de toda injustiça.” Este mesmo princípio de justiça perfeita, que ganha o nosso perdão, também foi construído em um remédio para nossas tendências pecaminosas. Isso nos dá um motivo para não pecar. Mais do que isso. Esta notável justiça não se limita a nos dar um veredicto de não culpados no tribunal de Deus. Ela também nos purifica da mancha do pecado, nos permite vencer o amor ao pecado, e nos dá um incentivo para não pecar.
Olhe a frase de abertura do nosso versículo: “Meus filhinhos, escrevo estas coisas para vocês, para que não pequeis.”
Este é um aspecto maravilhoso do argumento de João. E de certa forma é lamentável que quando os livros da Bíblia foram divididos em versículos e capítulos, alguém decidiu colocar uma pausa no capítulo justamente aqui. Porque esta declaração deve ser considerada no contexto do que foi dito antes.
No capítulo 1, três vezes o apóstolo nos lembra que somos pecadores culpados e devemos confessar nossos pecados. Versículo 6: “Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” Versículo 8: “Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós.” E o versículo 10: “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”
E o versículo 9 contém essa familiar promessa, pródiga de completo perdão: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados.”
Agora, sempre houve pessoas que pensam que a doutrina que João estabelece aqui é perigosa para uma vida santa. Ainda hoje, há pessoas que tentam explicar a promessa de livre perdão. Eles pensam que é como um desencorajamento à santidade. E por incrível que pareça, as pessoas que possuem essa visão geralmente caem em algum tipo de perfeccionismo, onde ensinam que é possível, se você se esforçar o suficiente e exercer a força de vontade suficiente, que você pode abster-se do pecado completamente e atingir um tipo de perfeição. E, você vê, que isso transforma a mensagem de João em sua cabeça, porque quem pensa que alcançou algum tipo de perfeição absoluta está na própria situação que João condena no versículo 8 do capítulo 1, por dizerem que eles não têm pecado.
A mensagem de João é clara: Nós pecamos. Todos nós pecamos.
Nós pecamos muitas vezes e pecamos miseravelmente. E devemos confessar isso a Deus.
Mas é possível, e às vezes acontece, que uma mente carnal se apodera dessa verdade e pensa que pode justificar uma continuidade ininterrupta no pecado. Afinal de contas, se eu pecar, e se Deus perdoa o pecado, então por que não apenas continuamos pecando, tanto quanto pudermos, para que a graça abunde? Paulo antecipou esse argumento em Romanos 6 , e nos diz que é uma posição impensável. “De maneira nenhuma! Como podemos nós que morremos para o pecado ainda vivermos nele?”
Aqui o apóstolo João está dizendo a mesma coisa. Na verdade, ele diz que essas verdades devem nos guardar do pecado. Longe de pensar que a liberdade da graça de Deus iria levar uma pessoa redimida a pecar, ele diz que o princípio da liberdade do perdão é a própria doutrina de que isto deve nos guardar do pecado.
Se você acha que a graça livre significa licença para pecar, você precisa examinar a si mesmo para ver se você está na fé.
A consciência se revolta por tal abuso da misericórdia divina, especialmente quando percebemos que um preço inconcebivelmente cruel foi pago por Cristo por nossos pecados. Devemos odiá-Lo porque Ele é bom para nós? Vamos amaldiçoá-Lo porque Ele nos abençoa? Que tipo de culpado monstruoso usaria a bondade de Deus como uma desculpa para desonrá-Lo? Será isto crucificar novamente a Cristo e colocá-lo à ignomínia? Ninguém que verdadeiramente Lhe ame e que nEle confia jamais trataria sua benignidade com tal desprezo perverso.
A verdade é que aqueles de nós que Lhe conhecem – que se beneficiam tão incomensuravelmente por Sua súplica diante do trono de Deus em nosso favor – não necessitam de nenhum argumento mais nobre para a santidade do que a riqueza da sua misericórdia para conosco.
Ele vive sempre para interceder por nós. Ele está pleiteando nossa causa diante do trono do Pai, neste exato momento. Se isso não mudar o seu coração com um desejo apaixonado de servi-Lo e honrá-lo com a sua vida, então o seu coração está frio e morto, e isso é o próprio pecado que você precisa confessar no dia de hoje, para que Ele possa perdoá-lo e purificá-lo de toda injustiça.
Eu espero que você reflita sobre essas coisas com cuidado. Contemple a justiça maravilhosa que fornece perdão e purificação. Deixe estas verdades penetrarem em sua alma, e queime o seu coração com um zelo pela Sua justiça – a justiça mesma que torna a justiça divina em seu favor e lhe dá acesso diante do trono, aqui e agora – e que lhe garante uma eternidade cheia de bênçãos inimagináveis. Não há nenhum argumento mais forte para a santidade do que isso.
Texto de Phil Johnson, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.