A pessoa de Cristo é o fundamento de todo o conselho de Deus, assim como a sua própria glória eterna na vocação, santificação e salvação da Igreja.
Sobre isto, assim se expressou o apóstolo: “desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;” (Ef 1.9,10).
Aqui se declara o mistério da vontade soberana de Deus.
Ele iria reunir todas coisas sob uma única cabeça, a saber, Cristo.
Importa que Jesus Cristo seja exaltado eternamente e por isso ele está vinculado a tudo o que há na terra quanto no céu, e a verdadeira comunicação das propriedades da natureza divina com a humana deve tornar isto imenso, onisciente e não confinado a algum espaço.
Daí se dizer que Cristo preenche todas as coisas.
Jesus foi dado desde a eternidade pelo conselho de Deus para ser o fundamento da salvação da Igreja.
Vemos isto também em Tito 1.2: “na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos.”; em I Jo 1.1,2: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), em II Tim 1.9: “que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos,” entre outros.
É em Cristo do qual se diz enfaticamente ser a “Sabedoria de Deus”, 1 Coríntios 1.24, que os conselhos de Deus são cumpridos. É nele que a multiforme sabedoria de Deus se fez conhecida: Ef 3.10.
Deus se compraz na perfeição infinita de sua própria sabedoria, e sua atuação eterna para a representação de todas as gloriosas excelências de sua natureza!
A sabedoria é o princípio diretivo de todas as operações divinas, e a bondade é o princípio comunicativo destas operações. Deus é bom, e faz o bem – sim, ele faz o bem, porque ele é bom, e não por outra razão – e não pela necessidade da natureza, mas pela intervenção de um ato livre de sua vontade. Sua bondade é absolutamente infinita, essencialmente perfeita em si mesma.
A natureza divina está eternamente conformada à sua própria bondade.
Então, quando Moisés desejou ver a sua glória, ele disse que “faria passar toda a sua bondade diante dele” Êxodo 33.19. Todas as operações divinas – na comunicação da sua graça – são de sua bondade, pela intervenção de um ato livre de sua vontade. E o maior exercício e emanação da bondade divina, foi, nestes santos desígnios de Deus, a salvação da Igreja por Jesus Cristo.
Porque ele deu a si mesmo, ao tomar a nossa natureza sobre si.
O efeito desses conselhos eternos de Deus na glória futura é reservado para os que creem, e neles haverá a manifestação mais íntima da Sua glória, quando ele “for glorificado nos seus santos”, e eternamente ” admirado em todos os que creem.”
A fé é necessária porque a entrada do pecado no mundo trouxe desordem à criação.
Então em Cristo, todas as coisas são restauradas conforme já se encontrava estabelecido no conselho eterno de Deus, antes mesmo da fundação do mundo.
“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18)
“Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” (Rom 8.20,21).
Deus, desde toda a eternidade, dispôs, segundo o seu conselho, a recuperação de todas as coisas em uma propriedade melhor e mais permanente do que a que fora perdido pelo pecado.
Se a justiça de Adão pôde ser perdida, a de Cristo, no entanto, jamais poderá se perdida pelos que nele creem.
Este é apenas um dos aspectos desta restauração.
Tudo está planejado por Deus de uma vez para sempre de modo absolutamente perfeito, e para tudo ele já fez a devida provisão conforme o seu conselho eterno, de modo que nada pode surpreendê-lo.
Assim todas as coisas foram originalmente criadas por Cristo, sendo ele a sabedoria de Deus – assim todas as coisas são renovadas e são recuperadas por ele, por meio da sua encarnação. O Verbo de Deus que se fez carne.
“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia,” (Col 1.15-28).
Tradução e adaptação de breves citações do tratado de John Owen sobre Cristologia, realizadas pelo Pr Silvio Dutra.