A divina verdade sobrenatural é chamada pelo apóstolo: “A verdade que é segundo a piedade:” Tito 1.1. Considerando, portanto, que a pessoa de Cristo é o grande mistério da piedade, devemos, inquirir a seguir – Qual é a relação da verdade espiritual sobrenatural com Cristo?
Toda a verdade divina pode ser englobada em duas divisões. A primeiro é o próprio Deus, a segunda, é o conselho da sua vontade.
O próprio Deus é a primeira e única Verdade essencial, cujo ser e natureza é a fonte na qual repousa toda a verdade. Isso é representado em Cristo – por ser em si mesmo, a essencial imagem do Pai, e tendo encarnado se fez a imagem representativa do Pai para nós.
Em segundo lugar, os conselhos de Deus são a próxima fonte e causa – como também o objeto ou substância – de toda a verdade.
A verdade divina é “a declaração do conselho de Deus:” Atos 20.27. Dos quais a pessoa de Cristo é o repositório sagrado. Toda a sua eficácia e utilização dependem de sua relação com ele. Ele é o centro de todas as linhas da verdade – isto é, o que é divino, espiritual e sobrenatural.
Assim, ele testifica de si mesmo: “Eu sou a verdade:” Jo 14.6. Ele é em essência um com o Pai, o Deus da verdade: Deut 32.4; Jo 1.18.
Nele habita “a plenitude da divindade” Col 2.9.
Os conselhos de Deus são chamados de “insondáveis riquezas:” Ef 3.8. Os preciosos tesouros insondáveis da sabedoria e do conhecimento de Deus – isto é, todas as verdades divinas sobrenaturais – estão escondidas, ou depositadas de forma segura, em Cristo – e de quem somente eles podem ser aprendidos e recebidos.
Assim, se diz de se aprender a verdade como ela está em Jesus: Ef 4.21. E o conhecimento de toda a verdade sagrada evangélica está na Escritura, mais frequentemente expressada pelo conhecimento dEle: João 8.19; 17.3; Ef 1.17; Fp 3.8,10; 1 João 1.1,2; 2.4; 2.13,14; 2 Pe 2.20.
“A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (João 1.4). Ele é “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem.” (v.9).
Portanto, assim como a verdade é o único meio de iluminação, por isso não pode ser comunicada por qualquer luz à mente, senão somente a que nos vem de Cristo, a única fonte de toda luz espiritual.
A eficácia ou poder é a segunda propriedade da verdade divina. E o fim desta eficácia é o de nos fazer semelhantes a Deus: Ef 4.20-24 .
A mortificação do pecado, a renovação de nossas naturezas, a santificação de nossas mentes, corações e afetos, o consolo de nossas almas, com a sua edificação em todas as partes da vida de Deus, e assim por diante, são as coisas que Deus tem projetado para efetuar por sua verdade ( João 17.17), porque a palavra da verdade é poderosa para nos “edificar e dar herança entre todos os que são santificados:” Atos 20.32. Assim, é por meio da nossa relação com a pessoa de Cristo que recebemos algo desse poder e eficácia.
É a partir da plenitude de Cristo que toda a graça é recebida. Nenhuma verdade pode ser separada dele. Ele é a vida e a alma de todas essas verdades – sem o qual, como se encontram nas Escrituras, são apenas uma letra morta, e são de tal natureza que seriam ilegíveis para nós, quanto a alguma verdadeira descoberta da graça e do amor de Deus.
Não há, portanto, qualquer texto da Escritura que encoraje o nosso dever diante de Deus, para que possamos então entender como realizá-lo de uma forma aceitável, sem uma relação real com Cristo, somente de quem recebemos capacidade para o seu desempenho.
Tradução e adaptação de breves citações do tratado de John Owen sobre Cristologia, realizadas pelo Pr Silvio Dutra.