O próprio Deus é a fonte absoluta, a suprema causa eficiente de toda a graça e santidade. Porque somente ele é original e essencialmente santo, assim como somente ele é bom, sendo assim a primeira causa da santidade e bondade de outros. Por isso é chamado de “Deus de toda graça” – 1 Pe 5.10. O autor, possuidor, e doador da mesma. “Ele tem vida em si mesmo, e vivifica a quem quer” – Jo 5.26. “Com ele está a fonte da vida” – Sl 36.9. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” – Tiago 1.17.
Deus, de sua própria plenitude, se comunica com suas criaturas, seja pelo caminho da natureza, ou pelo caminho da graça.
Em nossa primeira criação Deus implantou sua imagem em nós, em justiça e santidade, e pela criação de nossa natureza; e se tivéssemos continuado naquele estado, a imagem mesma de Deus deveria ter sido comunicada por propagação natural. Mas, desde a Queda e a entrada do pecado, Deus não mais comunica santidade por qualquer meio da natureza, ou propagação natural. Porque, se ele fizesse isso, não haveria necessidade de que todo aquele que nasce deva nascer de novo, para que possa entrar no reino de Deus; como nosso Salvador afirma – Jo 3.3. Porque poderia ter graça e santidade de seu primeiro nascimento. Nem poderia ser dito dos crentes, que eles “não são nascidas do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” – Jo 1.13, porque a graça poderia ser comunicada a eles por meios naturais.
Foi a velha invenção Pelagiana, que afirmou que o que temos por natureza, temos pela graça, porque Deus é o autor da natureza. Assim seria, se a natureza fosse pura, mas ela é corrupta; e o que temos portanto, temos de nós mesmos em contradição com a graça de Deus. “O que é nascido da carne é carne”, e não temos mais nada de uma santidade por propagação natural.
Assim, Deus nada comunica a qualquer pessoa, relativamente à graça, senão na e pela pessoa de Cristo como o mediador e cabeça da Igreja – Jo 1.18. Na velha criação todas as coisas foram feitas pela Palavra eterna, a pessoa do Filho, como a sabedoria de Deus – Jo 1.3; Col 1.16. Não houve imediata emanação do poder divino da pessoa do Pai, para a produção de todos os seres criados, senão na e pela pessoa do Filho, sua sabedoria e poder sendo um e o mesma que atuou nele. E o suporte de todas as coisas no curso da providência divina, é também o seu trabalho imediato; donde se diz “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” – Heb 1.3.
E assim é com a nova criação, no que diz respeito à sua pessoa como mediador. “A imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, tendo a preeminência em todas as coisas; ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas” – Col 1.15,17,18. No levantar de toda a nova criação, que é de uma nova vida espiritual e santidade, comunicada a todas as suas partes, o trabalho é realizado imediatamente pela pessoa de Cristo, o mediador, e ninguém tem qualquer parte nele, senão o que é recebido e derivados dele.
Isto é claramente afirmado em Ef 2.10. Assim, diz o apóstolo quanto a isto: “a cabeça de todo homem é Cristo, e a cabeça de Cristo é Deus” – I Coríntios 11.3; e isto, tanto em influência, quanto como regra. Assim como Deus não governa imediatamente a Igreja, senão na e pela pessoa de Cristo, a quem ele deu para ser cabeça sobre todas as coisas; de igual modo, ele não administra qualquer graça ou santidade a qualquer pessoa, senão na mesma ordem; ou seja, por Cristo, porque “a cabeça de todo homem é Cristo, e a cabeça de Cristo é Deus.”
Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.