” Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mt 18.7)
É muito evidente que nosso Senhor Jesus Cristo põe um peso muito grande sobre esta matéria relativa a ofensas, ele as representa como uma espada de dois gumes:
1) “Ai do mundo por causa dos escândalos!” – O mundo que se escandaliza sem motivo, com Cristo e com o evangelho, e com o bom testemunho dos seus servos, e que por esta rejeição permanece debaixo de condenação.
2) “Ai daquele por quem vem o escândalo!” – Aqueles que provocam escândalos, por carregarem o nome de Cristo, e que por não terem um procedimento condizente com a fé que professam ter, servem de motivo de tropeço para muitos que não vêm a Cristo ou que dele se afastam, por pensarem que ele tenha algo a ver com o comportamento desses insubordinados.
John Owen assim se expressou quanto a isto:
“Assim, nosso Senhor apresenta essas duas coisas juntamente.
É necessário que haja ofensas; Deus as designou, e deve ser assim.
Devemos portanto considerar para nós mesmos o tempo em que podemos estar certos que os escândalos serão abundantes, para que sejamos cautelosos quanto a isto.
Primeiro, é um tempo de perseguição. As ofensas serão abundantes em tempos de perseguição.
Em segundo lugar, um tempo de grandes pecados é um momento de grandes escândalos, tanto contra um testemunho exemplar do evangelho, quanto em relação ao oposto disto.
Isto, o Espírito Santo diz expressamente, que “nos últimos dias haverá tempos difíceis.” Todos os perigos surgem de ofensas. E por quê? As concupiscências dos homens serão abundantes. Quando há uma abundância de concupiscências (cobiças), haverá uma abundância de delitos, que fazem com que os tempos sejam perigosos.
Em terceiro lugar, quando há uma decadência das igrejas, quando crescem frias, é a hora dos escândalos abundarem: “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.” Este é um tempo em que as ofensas abundarão; como todas as igrejas de Cristo parecem estar neste dia. Todas as virgens, sábias e tolas, estão dormindo. É o que eu lhes disse muitas vezes, e eu gostaria de poder dizer que eu lhes disse com choro, que estamos sob um decaimento lamentável, – caindo de nossa primeira fé, amor e obras.
Agora, se todos estes tempos devem vir sobre nós – um tempo de perseguição, como ocorre agora em todo o mundo, diz o apóstolo: “Amados, não estranheis a ardente prova… certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”, um tempo de abundância de grandes pecados nos homens; e um tempo de grandes decaimentos em todas as igrejas, – se é assim conosco, com certeza é muito bom para nós atentarmos para a advertência de nosso Salvador: “Acautelai-vos dos escândalos”.
Deus designou Cristo para ser a maior ofensa no mundo, Isaías 8.14. Ele foi designado para ser uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, – uma ofensa insuperável. A pobreza de Cristo no mundo e sua cruz seriam rocha de escândalo, na qual os judeus e os gentios tropeçaram e caíram, e se arruinaram por toda a eternidade.”
Jesus nunca ofendeu a ninguém mas foi tomado indevidamente por muitos como sendo uma ofensa, um escândalo.
E assim também seus discípulos têm da parte de Deus apenas esta única concessão de serem motivo de escândalo para alguns do mundo, por causa do bom testemunho que eles dão, na sua identificação com o Seu Salvador e Senhor.
Agora, devemos ter cuidado quanto a todas as demais formas de escândalos (ofensas) que são causadas, especialmente contra as consciências de irmãos ainda fracos na fé. Mesmo que estas ofensas sejam causadas por uma má aplicação da verdade.
“Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.” Rom 14.1.
“Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus. Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.” (Rom 14.10-13)
O apóstolo falou do tribunal de Deus para o julgamento de todos os escândalos e ofensas que tivermos feito, especialmente aqueles que servem de tropeço a pessoas que ofendemos com o nosso procedimento e que por conta disto ficaram impedidas de virem a Cristo ou de se firmarem na fé, pelo que viram ou receberam de nós e que não condiz com a nossa condição de servos de Deus.
“E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.” (I Cor 8.13)
Se daremos contas do escândalo produzido quando estamos empenhados em defender o que nos parece verdadeiro e justo, o que se dirá então do escândalo produzido por um mau procedimento, seja ele intencional ou não?
“não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado.” (2 Cor 6.3)
“Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus,” (I Cor 10.13)
Pr Silvio Dutra