I Pedro 5.5; Salmo 51.17
I Pedro 5.5
Nos últimos séculos, muitas pessoas têm debatido, procurando determinar o maior inimigo da oração.
Várias propostas têm sido feitas. Uns, por exemplo, acham que o maior inimigo da oração é a preguiça; afinal, o preguiçoso jamais se disporá a orar. A oração requer muita disposição e esforço, e o preguiçoso não deseja fazer nada que seja muito trabalhoso (Provérbios 26.13-15). Outros, por outro lado, dizem que o maior inimigo da oração é o ativismo. Afirmam que a pessoa ativista é como Marta e que, por isso, não dispõe de tempo para se quedar aos pés de Jesus, assim como fez Maria (Lucas 10.38-42). Antes, essa pessoa, como Marta, está constantemente envolvida em atividades, em trabalhos, em serviços e reuniões.
Contudo, ainda que a preguiça e o ativismo sejam inimigos da oração, de acordo com o texto de I Pedro 5.5 o maior inimigo da oração é o orgulho. Este texto mostra que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes.” O verbo ‘opor-se’, que aparece no versículo, tem uma conotação muito forte: significa ‘organizar-se para batalhar contra’. O que o texto está mostrando é que Deus organiza todos os seus exércitos e os prepara para batalhar contra o orgulhoso, que é colocado em uma posição de inimizade contra Deus e, portanto, como esperar que Deus venha lhe ouvir alguma oração?
Deus se opõe aos orgulhosos; por isso, devemos lutar contra o orgulho.
Devemos lutar contra o pensamento de auto-suficiência
Quando eu tinha 13 anos de idade, andei de avião pela primeira vez. Foi uma experiência marcante. Eu fui com toda a minha família passear nas praias do Nordeste. Estávamos muito satisfeitos e o meu pai contava as suas histórias de praia e de avião. A viagem transcorreu muito bem até que fizemos uma primeira parada no aeroporto de Brasília. Apesar da aeromoça ter dado alguns avisos, meu pai disse que deveríamos descer do avião; ele queria nos mostrar um pouco da cidade de Brasília. Dissemos que a aeromoça havia nos mandado ficar dentro do avião, mas ele não quis dar ouvidos à aeromoça e nem a nós. Ele dizia: “Meus filhos, eu tenho 30 anos de praia!”
Tão logo descemos do avião e entramos no aeroporto, ouvimos uma chamada pelos auto-falantes, anunciando a decolagem do nosso avião. Ficamos tão desesperados que corremos, nós cinco, pelo saguão do aeroporto, pulamos a cerca que nos separava da pista e atravessamos toda a pista a pé, com um policial atrás de nós. O pensamento de auto-suficiência do meu pai, naquela ocasião, quase nos fez perder o vôo.
Muitas pessoas agem assim. Pensam que não precisam de ninguém e que se bastam a si mesmas. Acham que já possuem muita experiência ou conhecimento, e que, portanto, não precisam mais pedir ajuda para resolver quaisquer questões. Agem dessa mesma maneira também em seu relacionamento com Deus. Quando vão iniciar algum projeto ou desenvolver algum trabalho, não buscam a orientação de Deus. Pensam que porque consideram o seu projeto bom, Deus assim o considerará também e que, por isso, irá abençoá-las.
Entretanto, Deus resiste aos auto-suficientes. Deus jamais agirá em favor da pessoa que se acha totalmente capaz de resolver sozinha toda e qualquer questão. Se a pessoa tem a motivação de independência, Deus a deixa sozinha. Ainda que ela ore, busque, clame e jejue, Deus não a responderá; pelo contrário, Deus agirá em oposição a essa pessoa.
O desejo por auto-suficiência foi a causa da queda do ser humano. Adão e Eva desejaram ser independentes de Deus e, por isso, eles desobedeceram-no e comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Até os dias de hoje muitas pessoas permanecem, ainda que dentro da igreja, afastadas e inimigas de Deus por causa dessa mesma disposição de auto-suficiência. Para nos aproximarmos de Deus, devemos lutar contra o pensamento de auto-suficiência.
Devemos lutar contra o pensamento de que somos melhores que os outros
Eu jamais me esquecerei do que aconteceu comigo no ano de 1999. Eu estava na cidade de Londrina, com o Diante do Trono. Nós ministraríamos no Moringão, um ginásio parecido com o nosso Mineirinho. Meu coração estava alegre por poder participar daqueles momentos maravilhosos. As ministrações do Diante do Trono eram cultos fascinantes; Deus sempre se manifestava de uma maneira diferente naquelas ocasiões. Mas aquele evento em particular era muito especial para mim. A Ana Paula havia me convidado para pregar durante o culto.
Eu me preparei durante a tarde toda, orando e lendo a Bíblia. No meu coração, eu pensava que iria trazer muito impacto às pessoas. Eu me achava muito preparado; afinal, eu estava concluindo o meu seminário, conhecia alguma coisa de grego e hebraico e era bastante estudioso. Por isso, pensei que Deus iria me abençoar. Eu me achava muito bom e, portanto, achei que seria poderosamente usado por Deus.
Todavia – talvez você já até tenha imaginado o restante da história – eu subi ao palco e fiquei congelado. “Deu um branco”; não consegui raciocinar direito e as palavras não saíram da minha boca. Foi um completo fiasco. Deus se opôs ao meu orgulho e me abateu naquela noite. As orações que eu tinha feito durante a tarde não foram ouvidas por Deus. Pelo contrário, Deus me deu uma mente confusa e uma boca pesada.
Devemos lutar contra o pensamento de que somos melhores do que os outros. Não devemos andar imaginando que a nossa inteligência, o nosso estudo, a nossa formação, a nossa eloqüência, o nosso dinheiro, os nossos talentos ou a nossa posição nos tornam mais merecedores de sermos usados por Deus. Deus não nos ouve ou nos usa porque merecemos, mas sim, porque Ele nos ama.
Conclusão
Deus deseja se relacionar conosco em oração, mas Ele se vê impedido de se aproximar de nós quando enxerga em nossos corações qualquer manifestação de orgulho. O orgulho não somente afasta Deus de nós, mas também nos torna alvos dos ataques dos seus exércitos. Não devemos achar que somos melhores do que os outros. Não são os nossos talentos e dons que nos tornam aceitáveis a Deus. Somos aceitáveis por causa do que Jesus realizou por nós na cruz do Calvário. Portanto, jamais venhamos a menosprezar qualquer pessoa como se ela fosse pior. Deus se opõe ao que age dessa maneira.
Também, não devemos deixar que o pensamento de auto-suficiência tome conta do nosso coração. Toda vez que nos exaltarmos, Deus irá nos humilhar. Toda vez que nos levantarmos em nós mesmos, Deus irá nos abater. Por isso, que o seu coração se mantenha quebrantado e humilde diante de Deus. “Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.” (Salmo 51.17)