“38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.
39 E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia.”
38. “Porque eu desci do céu”. Esta é uma confirmação da afirmação do versículo anterior, que nós não buscamos a Cristo em vão. Pois a fé é uma obra de Deus, pela qual ele mostra que somos o seu povo, e nomeia o seu Filho para ser o guardião da nossa salvação. Agora o Filho não tem outro propósito do que cumprir as ordens de seu Pai. Por isso, ele nunca irá rejeitar aqueles a quem o Pai lhe tem enviado. Assim, finalmente, segue-se que a fé nunca será inútil.
Quanto à distinção que Cristo faz entre sua vontade e a vontade do Pai, a este respeito, ele se acomoda aos seus ouvintes, porque, como a mente do homem é propensa à desconfiança, estamos acostumados a inventar alguma diversidade que produz hesitação. Para cortar toda pretensão para aquelas ímpias imaginações, Cristo declara que ele se manifestou ao mundo, a fim de que ele possa realmente ratificar o que o Pai tem decretado a respeito de nossa salvação.
39. “E esta é a vontade do Pai”. Ele agora testemunha, que este é o projeto do Pai, que os crentes possam encontrar a salvação garantida em Cristo; do que mais uma vez se segue que todos aqueles que não se beneficiam da doutrina do Evangelho são reprovados. Portanto, se vemos que ele se volta para a ruína de muitos, não temos nenhuma razão para ficar desapontados, porque aqueles homens voluntariamente fazem mal a si mesmos.
Vamos ficar satisfeito com isso, que o Evangelho sempre terá poder para reunir os eleitos para a salvação.
“Que eu não perca nenhum deles”. Ou seja, “que eu não deveria sofrer por eles para que fossem tirados de mim ou perecer;” pelo que ele quer dizer que não é o guardião da nossa salvação por um único dia, ou por alguns dias, mas que irá cuidar dela até o fim, de modo que nos conduzirá, desde o início até o término de nossa jornada; e portanto, ele menciona a última ressurreição. Esta promessa é altamente necessária para nós, que miseravelmente gememos sob tão grande fraqueza da carne, da qual cada um de nós está suficientemente consciente; e a cada momento, de fato, a salvação do mundo inteiro pode ser arruinada, mas isto não atingirá os crentes, que apoiados pela mão de Cristo, avançam com ousadia para o dia da ressurreição. Que isto, portanto, seja fixado em nossas mentes, que Cristo, tem estendido a mão para nós, para que ele não possa nos abandonar no meio da jornada, mas que, confiando em sua bondade, possamos corajosamente levantar os olhos para o último dia.
Há também uma outra razão pela qual ele menciona a ressurreição. É porque, desde que a nossa vida está escondida nele (Colossenses 3.3), somos como homens mortos. Pois, o que faz com que os crentes difiram dos ímpios, é que, sendo sobrecarregados com aflições, e como ovelhas destinadas para o abate (Romanos 8.36), eles têm sempre um pé na cova, e, na verdade, não estão longe de serem engolidos continuamente pela morte? Assim não existe outro tipo de apoio para a nossa fé e paciência, senão este, que mantenhamos distância de ver a nossa presente condição de vida, e apliquemos as nossas mentes e os nossos sentidos para o último dia, e passemos pelos obstáculos do mundo, até que o fruto da nossa fé, finalmente apareça.
Texto de João Calvino, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.