Base para leitura: “E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?
E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.“ Lucas 15:1-7
Sempre ouvimos essa história, aliás, muitos cresceram ouvindo a música sobre esta história “Cem Ovelhas”. E quase a arremetemos ao desviado, que tem que voltar para o rebanho. Ora, vamos analisar alguns fatores simples, apenas valorizando o próprio texto.
Primeiro o motivo que Jesus disse essa sequência de parábolas foi uma acusação! Acusado de receber pecadores […] O que é uma acusação extremamente verdadeira.
Agora o que me chama atenção é a diferença entre a ovelha perdida e o rebanho, pois o texto diz que este pastor ao perceber a perda desta ovelha e antes de partir em diligência a procura desta, ele deixa as noventa e nove ovelhas num deserto; Ora não preciso nem fazer exegese textual grega para esta palavra, que na raiz significa lugar de pouca pastagem que na transliteração só coube deserto, ficamos com esta palavra – deserto.
Isso vai à contramão de qualquer sistema, pois “qual homem?” é a pergunta, que faz a loucura de deixar um rebanho em um deserto para ir atrás de uma? É a antítese de nossa matemática, o famoso ditado “é melhor um pássaro nas mãos do que dois voando.” Não é levado como sabedoria divina, pois este pastor da à impressão de irresponsabilidade de cuidar.
Só no final desta parábola que descobrimos sua interpretação, quando Jesus diz: “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento“.
Quem, pois pode ser declarado justo diante de Deus, se não o próprio Deus o declarar, e quem poderá alcançar as misericórdias de Deus se não um coração arrependido?
Quando lemos com seriedade a interpretação dada pelo próprio Jesus, fica clara a separação de ovelhas, entre rebanho e esta individuação que temos em Cristo. Este rebanho de noventa e nove ovelhas, é o pessoal da justiça própria, é o pessoal que não precisa se arrepender pela auto declaração de justiça.
E como se declaram justos? Pela lei, pela religião, pela prática moral, pelo tempo de casa, pelos costumes, por achar que tem direito adquirido no Reino de Deus por atos comportamentais e filantrópicos. Portanto, este é o rebanho que o bom pastor deixa no deserto, é gente reunida como rebanho, mas desunida como corpo de Cristo, é gente que ganha no “berro” a auto declaração de santidade; Este rebanho na parábola era justamente o pessoal da acusação “… este recebe pecadores…” era o fariseu, o religioso, o cumpridor de ritos;
Neste rebanho está Caim, que despreza a oferta a Deus com o coração e verdade, achando que Deus tinha a obrigação de recebê-lo, apenas pelo ato de serviço prestado; Neste rebanho esta o fariseu que foi no templo orar, e agradece a Deus por não ser como o coitado do publicano, e que agradece também por não ser gente como gente: “como os demais homens…”. Neste rebanho de noventa e nove está um dos filhos de um homem de outra parábola em Mateus, que diz “sim pai, vou”, e no fim nada faz; Neste rebanho pode estar eu, pode estar você, é só subtrair do coração a verdade de ser quem é, pecador que precisa desesperadamente das misericórdias de Deus, como ato constante em arrependimento.
Baseado nisto, fica claro o motivo da pobre ovelha se distanciar do rebanho, a insuportabilidade de conviver com gente que se auto justifica, gente sem ter um coração arrependido; De viver com religião pro lado de fora, esquecendo-se do religar dentro, em Cristo; De viver apenas de aparências litúrgicas, sem ter o altar de adoração habitado no coração, e fazê-lo em espírito e em verdade. Portanto, a ovelha se perdera para ser encontrada, pois quem perder, achá-la-á, quem buscar encontrará. A busca do sumo pastor é por corações arrependidos.
Prova disso, é que na parábola o pastor não retorna com esta ovelha para o tal rebanho, e sim para casa, não confundam o hino com o texto da palavra de Deus, não volta ao aprisco, nem o pastor volta para aquele aprisco, mas volta para casa (lugar de intimidade), com ela nos ombros (alívio das cargas), chama amigos para uma festa (dimensão de alegria no Evangelho), e se regozija. Motivo? “Encontrei a minha ovelha perdida” (marca de pertencimento, não te abandona nunca – “O Pai me deu e ninguém as arrebatara das minhas mãos”.
Tudo porque teve seu coração arrependido.
Não seja um rebanho de noventa e nove, seja uma ovelha que foi encontrada por Ele, e pertença a este Bom Pastor.
Marília,SP 19 de novembro de 2012.
O que foi encontrado,
Fabiano Moreno
www.fabianomoreno.com