“Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127, 3). Esta passagem bíblica ressalta com clareza que os filhos são bênçãos de Deus e que estão sob a tutela dos pais. Um dia estes haverão de prestar contas da forma como administraram o tesouro do Senhor. Os cuidados com esse bem precioso envolve também a educação cristã e secular mutuamente. Uma é a extensão da outra e ambas se complementam no sentido de formar um homem segundo o coração de Deus.
Mas, como cuidar da herança do Senhor diante das ocupações da vida moderna e da jornada de trabalho que, por vezes, têm impossibilitado muitos pais a manterem uma atenção devida à formação escolar dos filhos?
Para responder à questão, é preciso considerar que os filhos serão sempre responsabilidade dos pais enquanto forem menores em idade. E, ainda que a justificativa seja a de garantir-lhes o bem estar, saúde, segurança e uma vida confortável, nada terá sentido se não forem aplicados os cuidados necessários na educação da mente durante a infância, etapa mais elementar da vida. Isso implica que os pais devem ter conhecimento sobre tudo o que se passa com os filhos onde estiverem, seja na escola, na universidade, seja na companhia de outras pessoas, quais informações estão recebendo, e se estas coadunam com a educação familiar.
Muitos pais delegam a educação dos filhos à instituição de ensino e a terceiros, e se isentam de acompanhar o que acontece no interior da escola. Todavia, a atenção que se requer atualmente é ampla e, se estende às atividades realizadas, livros adotados, sejam eles didáticos ou paradidáticos e como são explorados os temas transversais.
Parte dos materiais que tem chegado ao interior da escola se encontra eivado de conteúdo ideológico, alguns com imagens perniciosas e que estimulam a erotização precoce, e outros carregados de informações que distorcem o objetivo geral de uma educação ética e moral.
Tudo que é planejado na educação é carregado de intencionalidade. Perguntar para quê, por que, qual o tipo de homem que se pretende formar, são questões de orientações básicas que os gestores e coordenadores pedagógicos fazem durante a escolha de um material a ser utilizado no espaço escolar, pois os mesmos devem apontar para a transformação de posturas, sujeitos e espaços. Nesse sentido, a escola se tornou arena ideológica com o objetivo de propor uma revolução dos padrões sociais e culturais da sociedade, à revelia dos costumes e condutas morais e sexuais estabelecidos em suas famílias.
A educação está situada em um contexto social e governamental que atende a um projeto de poder. O plano educacional para a nação subjaz a uma política de governo cujas intenções são claras nas leis, resoluções e pareceres que orientam a educação brasileira. O conjunto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica é um destes documentos onde estão descritos os objetivos pretendidos pelo projeto educacional no país. O documento ressalta que as novas demandas geradas pelas transformações sociais devem se constituir em instrumentos capazes de promover a reinvenção da educação brasileira. Mas que reinvenção está em pauta?
Em que pese a beleza do discurso de cidadania, direitos civis, formação de uma sociedade mais justa, fraterna, entre outros, a prática que se tem visto é de manipulação de consciência, desconstrução de valores presente nas práticas pedagógicas efetivas e também no livro de apoio escolar, imunes a filtragens de valor moral, intelectual e psicológico. A educação tomou rumos de doutrinamentos ideológicos, na contramão do ensino de livre consciência com a finalidade de construir o homem revolucionário.
MAS, O QUE É ESSE DOUTRINAMENTO IDEOLÓGICO E COMO ELE ACONTECE NA ESCOLA?
Doutrinar, segundo o dicionário Aurélio 1999, significa instruir numa doutrina. Já ideologia constitui um sistema de ideias dogmaticamente organizadas como um conjunto de luta política. Logo, por doutrinamento ideológico, entende-se a instrução de ideias políticas. Mas, o que acontece dentro da escola não se trata de instrução das ideias, mas a prática de proselitismo ideológico, onde o professor se aproveita da audiência cativa e da falta de maturidade dos alunos e redireciona para uma ou outra corrente político-partidária quase sempre, aquela que atende à sua conveniência política.
O professor, na sala de aula, é o sujeito que ocupa um lugar central. Embora nesses nossos tempos de tendências progressistas no ensino, queiram afirmar que é o aluno a figura principal, na prática, não é bem assim que acontece. É o professor quem planeja, é ele quem tem acesso ao programa curricular, organiza o ensino e quem aplica avaliações, aprova ou reprova. O professor, em função do lugar que ocupa e de onde fala, ao emitir uma opinião pode incorrer em doutrinar e formar juízo que pode contrariar os valores das famílias dos alunos.
A doutrinação político-ideológica nos livros didáticos ocorre ao se impor autores e visões centralizadas em uma corrente política apenas, em detrimento do contraditório. Sua finalidade é aparelhar as mentes para um projeto de nação de base ideológica socialista e comunista.
A presença da doutrinação ideológica na universidade se tornou lugar comum, preferencialmente nas disciplinas de Filosofia, Sociologia, Antropologia, História e outras. Define-se como ação de doutrinamento pelo fato de serem apresentados autores que compõem um pensamento único. É como se outros autores não tivessem refletido sobre a sociedade, seu tempo, a economia, a vida, o homem.
As instituições de ensino, por acomodarem massa humana jovem e vulnerável por longo período da vida, foram escolhidas estrategicamente para maior expansão das ideologias, especialmente aquelas que contradizem o Cristianismo e tem relação com a moral judaico-cristã, entre elas a família.
No processo de doutrinamento ideológico, o conceito de homem segundo a criação de Deus é tratado como algo sem fundamento científico, visto puramente como sensacionalismo e mito da moral religiosa. Ele propõe um projeto de homem para a sociedade sob os moldes da revolução cultural e que deve adaptar-se às construções propostas pelos ambientes de convivências.
Nesse sentido, todos os temas contemporâneos adentram a sala de aula para serem discutidos sem quaisquer critérios, seja de ordem psicológica, seja moral, tendo como eixo o conceito de homem revolucionário.
Para a construção do homem apto para a revolução, os textos dos livros didáticos são fundamentais. Eles abordam sobre feminismo, sexualidade, homossexualidade, ódio ao capital, ódio entre classes, sexos e raças. Algumas editoras tratam apelativamente sobre os temas, tanto nos textos e imagens, como através da recomendação de sites de pesquisas para complementação de estudos. Torna-se cada vez mais necessário que haja uma atenção maior dos pais quanto às pesquisas que seus filhos fazem na internet a partir da sugestão de sites indicados como atividades didáticas. É preciso observar a coerência e adequação à faixa etária.
Ao invés de promover a orientação contra o preconceito, o excesso de imagens apelativas funciona mais como apologia aos ideais dos movimentos sociais e ao comportamento de ódio entre raças e classes, que propriamente a erradicação do preconceito.
Os paradidáticos, que antes traziam narrativas de príncipes e princesas e outras fábulas do imaginário infantil, apontam novos formatos de personagens. Um destes livros apresenta a história da Chapeuzinho Vermelho que se casa com o Papai Noel e juntos têm um filho que é o Saci Pererê. Livro este cujo sentido aponta para a pedofilia, visto que Chapeuzinho é uma criança e, Papai Noel é um velhinho. Há outro que conta a história de dois príncipes que se casam. Alguns apresentam ideias implícitas, porém, outros são escritos com clareza de sentido.
Há também livros de histórias infantis que falam de misticismo para crianças e da invocação de espíritos. Outros trazem textos e histórias que repassam a ideia de rebeldia e desobediência aos pais, banalização do casamento, normalização de todas as formas de sexualidade, definição de sexo como necessidade básica e outros.
A sexualidade constitui parte dos temas transversais, segundo a própria orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação. Este documento salienta que por ser a sexualidade parte do processo de desenvolvimento das crianças, “é importante que os educadores reconheçam como legítimas e lícitas, a busca do prazer e as curiosidades manifestas acerca da sexualidade”. (PCNS MEC 302). Percebe-se no documento oficial, a ausência de juízo de valor sobre a sexualidade a ser ensinada pela escola, uma vez que segundo o texto, devem ser reconhecidas todas as formas de expressão sexual.
Grande parte das escolas trabalha a sexualidade de modo interdisciplinar. Isso implica que todas as disciplinas fazem abordagens quando necessário. A justificativa governamental para a inclusão do tema na escola se deve ao número de casos de gravidez precoce e risco de contaminação pelo HIV. Todavia, não há necessidade de explorar o tema nas classes infantis e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo aplicado aos anos finais, é fundamental que haja filtragem e adequação do material, pois algumas cartilhas tratam da relativização da prática sexual independente da idade e sem qualquer juízo de valor.
Segundo Guilherme Shelb, Procurador da República, a educação sexual é tema de valor moral onde a família tem primazia. Segundo o procurador, o Pacto de San José da costa Rica, que tem força constitucional no Brasil afirma no art. 12 que a educação religiosa e moral devem ser ministradas de acordo com as convicções da família. Isto é, não cabe à escola usurpar o direito que a ela não é atribuído.
COMO ACOMPANHAR O QUE ACONTECE NA ESCOLA?
O desgaste do dia-a-dia não pode ser argumento para se isentar da responsabilidade de acompanhar a vida escolar dos filhos. É preciso lembrar que tudo o que a criança aprender ficará na memória para sempre. Há um alerta bíblico para a atribuição dos pais: “instrui o menino no caminho em que deve andar, e quando envelhecer não se desviará dele (Pv 22,6). Quanto mais intervenções forem feitas no momento da formação inicial, certamente os frutos colhidos serão melhores.
Recomendo algumas atitudes que podem aperfeiçoar a relação com a escola e evitar que seu filho seja doutrinado:
1- Antes de efetivar a matrícula, solicite o projeto político pedagógico ou plano de ação da escola e veja como são explorados os temas relacionados à sexualidade.
2- Solicite a lista de livros didáticos e pesquise-os antes para verificar os conteúdos neles presentes. Verifique como foi abordado o tema família. Ele aparece principalmente no livro de História, mas também aparece nos textos de Língua portuguesa e livros de redação. Observe o texto a as imagens e veja se contraria os princípios da cosmovisão cristã.
3 – Pergunte diariamente ao seu filho o que foi estudado na escola, o que aprendeu com o assunto estudado, o que foi falado. Estas perguntas básicas denotam que você se interessa pelo que ele faz e estuda na escola.
4 – Confirme no livro didático o conteúdo estudado, acompanhe as tarefas enviadas para casa. Leia e analise as questões cuidadosamente.
5 – Antes de comprar o livro paradidático (livro de contos, histórias), leia e veja se o conteúdo fere princípios e valores da sua família. Questione junto à escola caso perceba alguma inadequação ou inconveniência.
6 – Pergunte ao professor como será tratado o tema sexualidade. As escolas realizam planejamento anual, semestral e semanal. Muitas delas trabalham essa temática sob forma de projetos. Assim, todos podem acompanhar a organização do trabalho pedagógico, desde o conteúdo até quem vai ministrar a aula. Se disponha a participar, caso possa. A escola não pode recusar a presença dos pais.
7 – Não permita que seu filho participe de pesquisas e experimentos sem que você tenha conhecimento dos objetivos e métodos utilizados, quem são os pesquisadores e quais interessem são propostos. No ato da matrícula você pode apontar essa restrição.
8 – Compareça à escola frequentemente. Participe das reuniões de pais e mestres e aponte as preocupações quanto à formação escolar do seu filho. As escolas trabalham melhor quando são cobradas.
A escola é de todos, é dos pais e dos alunos. Mesmo se o seu filho estiver em uma escola privada, o pai tem direito de conhecer o planejamento e se informar do que está sendo trabalhado e como são explorados os temas polêmicos.
Algumas pessoas podem pensar que se trata de uma espécie de fiscalização. Entretanto, ela é necessária para a própria sobrevivência da instituição. A escola só existe porque os pais confiam em deixar os seus filhos nela, se ela perde essa confiança e extrapola aos limites do ensino, ela estará testificando em seu desfavor. Além disso, toda a vigilância é positiva, afinal, os filhos são herança de Deus e nós, prestaremos contas desse cuidado perante Deus.
Referências:
Brasil, Secretaria de Educação fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual. Vol. 10.5. Brasília. MEC/SEF. 1998.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília, MEC, SEB, DICEI, 2013.
Autora:
Silvailde de Souza Martins Rocha