Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Aceitos no Amado.” (Efésios 1.6)
Não vou tentar fazer mais do que simplesmente trazer a verdade de Deus e deixá-la com você. Belas palavras e frases espalhafatosas, com um texto como este, seria uma vã tentativa de “pintar o lírio e dourar o ouro refinado. Há uma profundidade de doçura neste texto que faz o ouvido e o coração santificado ficarem alegres em plenitude. “Aceitos no Amado.”
“O Bem-Amado.” Nós todos sabemos a quem se refere. Nosso Senhor é o Amado de Deus. Deus é Amor, e Cristo é de Deus. Ele é um com o Pai Eterno e nunca seria possível para nós entendermos qual é a profundidade que existe entre o amor do Pai e do Filho – em sua Divindade essencial. Jesus é o Amado de anjos que cantam louvores a “Aquele que era, que é e que há de vir.” Ele é o Amado de todos os que estão vestidos de branco que lavaram as vestes no Seu sangue e que cantam, “Àquele que nos amou, e nos lavou de nossos pecados no seu sangue, a Ele seja a glória.” Ele é o Amado de seus santos, que ainda estão lutando aqui em baixo.
O Bem-Amado. Não somente Amado, mas, “o Amado”. Este é um nome para todos os santos, “amados”, porque que João escreve muitas vezes em suas epístolas: “Amados, agora somos filhos de Deus.” Toda a família é composta de amados, mas Cristo, o irmão mais velho, é “o Amado”. Ele é especialmente amado, o mais escolhido, o principal, que nisto tem a preeminência. Quantas vezes Deus testemunhou a respeito de que ele era “o Amado”, quando Ele disse: “Este é o meu Filho amado”.
Para nós, os santos, Ele é o nosso Esposo Amado. Nós cantamos para Ele, como no livro de Cantares de Salomão”, “meu amado é meu, e eu sou dele.” Eu tenho uma mansão em Seu coração, nem a morte, nem o inferno podem nos separar.
A primeira coisa que eu vejo no texto é que “o Amado” é aceito por Deus. A segunda coisa que eu vejo é que os santos são aceitos “no Amado”.
Jesus é aceitável a Deus Pai em Seu caráter. Deus é perfeitamente puro. Ele não pode suportar o menor vestígio de pecado e Jesus é “santo, inocente, sem mácula, separado dos pecadores.” Deus não pode contemplar o pecado, pois é abominável à Sua natureza, mas Ele pode olhar para Cristo, pois “Nele não havia pecado.” “O príncipe deste mundo vem”, diz Ele, “mas não tem nada em mim.” “Deus é Amor”, e para ser aceitável a Deus no caráter, é preciso estar cheio de amor. Agora Jesus é quem responde perfeitamente às demandas de tal amor! Já houve alguém que teve compaixão daqueles que são pecadores e ignorantes? Já houve um coração terno como aquele que brilhou no peito do Mestre e olhos como os Seus que brilhavam de amor? Ele era uma massa de amor! Ele era o amor realizador e amor sofredor. O amor O fez viver como Ele viveu. O amor o fez morrer como Ele morreu!
E o amor ainda permeia a Sua natureza, agora que Ele vive nas alturas celestiais – Ele ainda ama os filhos dos homens. Uma vez que Deus é amor, e Cristo é cheio de amor, então Seu caráter é adequado a Deus. Você não deve encontrar qualquer coisa em Cristo Jesus, que não se conforme com a divindade. Veja-o onde quiser, Ele é humilde, manso e humilde, mas ele ainda é augusto e sublime. Mesmo quando Ele coloca o traje do camponês sem costura , que veste e encobre a Divindade isto lhe convém melhor do que o manto de púrpura convém a César no trono! Se Ele distribui esmolas, ou diz: “Tenho sede”. Se Ele é sacudido pela tempestade no mar da Galiléia, se Ele repreende as ondas, se ele se sente disposto a morrer em sofrimento e a fraqueza do homem é mais aparente, ainda assim é mais consistente com o caráter de Deus, porque o centurião que estava olhando para a cruz, disse: “Certamente este era o Filho de Deus.”
Então, meus irmãos e irmãs, Deus ama o que é incorruptível. Agora, nosso Salvador foi tentado muitas vezes, mas ele nunca foi corrompido! Ele foi tentado e subornado com a oferta de um reino e, mais de uma vez, foi ameaçado com toda a ira dos homens, mas Ele nunca deixou por um só momento de ser íntegro!
O motivo de Jesus Cristo, que veio aqui em baixo, era totalmente altruísta. “Embora fosse rico”, e não tinha nada a ganhar, “mas por amor de nós se fez pobre, para que nós” (e não ele mesmo) “pela Sua pobreza pudéssemos ser feitos ricos.” (ricos, principalmente da Sua própria santidade e vida – nota do tradutor). Dele pode realmente ser dito que: “Ele salvou os outros, mas não pôde salvar a Si mesmo.” “Sendo achado na forma de homem, humilhou-se e tornou-se obediente até a morte.” Ele esvaziou-se para nós, e tudo por puro amor por aqueles que não tinham amor a Ele, com afeto desinteressado àqueles cujo melhor retorno é apenas um débil obrigado.
Jesus veio para que a Justiça de Deus pudesse ser cumprida. Ele está reivindicando a Justiça Eterna e a severidade de Deus pelas Suas obras, pelos Seus sofrimentos e pelo sacrifício de Si mesmo até a morte! Ele deve, então, movido por um motivo tão elevado como este, ter sido infinitamente aceitável para o Céu!
Ele era, então, aceitável em Sua Pessoa, aceitável em seu caráter e aceitável em Sua motivação interior, e também era aceitável em toda a obra que Ele fez na Terra.
Ele nunca pensou em voltar atrás por um só momento do desejo de pagar o preço excelente do resgate que seria a libertação do Seu povo da escravidão eterna! Não pode haver qualquer dúvida em suas mentes, senão que o bendito Advogado e Fiador de nossas almas deve ser aceito diante do Senhor, na altura, e na profundidade, e no comprimento, e na largura de uma aceitação que dificilmente podemos entender.
Os crentes são aceitos “no Amado”, ou seja, em Cristo. Como estão os crentes em Cristo? Eles estão em Cristo como Seu representante. Assim como toda a raça humana estava nos lombos de Adão, por isso todo o povo eleito estava nos lombos de Cristo. Ele é o grão de trigo, que foi lançado no chão para morrer, para que agora dê muito fruto. Estamos em Cristo como o ramo está na vinha, como a pedra está no prédio. Estamos em Cristo como os membros estão na cabeça.
Então, agora, ainda mais, bendito seja o Seu nome, estamos nele por uma união vital. Há uma unidade viva entre Cristo e Seu povo, como entre marido e mulher, entre o ramo e o caule. Nós somos um com Ele pela união vital. Você já percebeu isso? E nós somos um com Ele por um decreto fixado por Deus que nunca será quebrado. “Quem nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor?” Quem deve arrancar um membro do corpo sagrado de Jesus? Quem deve cortar um ramo realmente vivo da vinha celestial? Ele preserva aqueles que estão nele! Ele nos cobre com as suas penas e debaixo das suas asas estamos seguros – Sua verdade é o nosso escudo e broquel!
Caro amigo, nunca se esqueça que Deus não trata contigo como um indivíduo – Ele trata contigo, como estando em Cristo. Se você fosse tratado como um indivíduo, você iria perecer, pois você teria a certeza de cair. Você é tão fraco e frágil e apto para o pecado, que, com as melhores resoluções e intenções, você certamente se desviaria, e, portanto, o bendito Sumo Sacerdote (Cristo) o colocou em um lugar seguro – Deus colocou você em Cristo! E agora os seus interesses são os interesses de Cristo.
Os santos são “aceitos no Amado.” Suas pessoas são aceitas. Parece incrível que nós, que não temos qualquer recomendação pessoal, senão muito que pode nos tornar desagradáveis a Deus, somos, contudo, aceitáveis em nossas pessoas, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor!
Deus não olha de acordo com a aparência, mas Ele olha para o coração. E sempre que ele vê uma simples confiança em Jesus, a nossa pessoa é aceitável a Ele, porque não olha para nós como nós somos, mas olha para nós através de Cristo! Ele olha através das chagas de Jesus sobre nós, pobres pecadores.
O amor com que Ele ama Seu Filho, esse é o Seu amor por nós! “”
Agora, porque a pessoa foi aceita, o próximo passo é que as nossas orações e louvores são “aceitos no Amado.”
E, irmãos e irmãs, assim também ocorre com todo o trabalho que fazemos para Cristo e todos os dons que manifestamos.