Embora eu esteja no ministério profissional (entre idas e vindas) por 15 anos, quando eu me mudei para a zona rural de Vermont em 2009, eu nunca tinha conduzido um funeral. Casamentos, sim. Funerais, não. Mas eu fui rapidamente tive um batismo de fogo nessa pequena cidade, e nos últimos dois anos ou mais como pastor da Igreja Comunitária de Middletown Springs, eu perdi a conta dos funerais que participei ou que conduzi. E a maioria desses funerais foi daqueles que não tinham professado a sua fé publicamente em Jesus Cristo para perdão dos pecados e o recebimento da vida eterna.
Acontece que até na irreligiosa região de New England, onde uma grande porcentagem da população não pisa em uma igreja por décadas, e uma crescente porcentagem nunca pôs o pé em uma igreja a vida inteira, a tradição vence quando um ente querido morre. Você pode ignorar a religião a sua vida inteira, mas nunca na morte. E porque sou pastor da única igreja protestante em nossa cidade, recebo na maioria das vezes o chamado de abençoar aqueles que estão de luto.
Conduzi funerais de homens velhos que morreram dando tchau (metaforicamente) pra Deus, de homens de meia-idade bem vistos, mas sem muito costume de religião, de jovens que tiveram overdose e se suicidaram. (Na providência de Deus, eu também presidi funerais de santos queridos – todos de mulheres idosas até agora – e eu sou grato pelo tom de vitória que mais acompanha esses cultos.) Cada um destes funerais tem seus desafios únicos. Como eu tenho pregado em muitos funerais de uma grande família nos últimos dois anos, eu tenho até apresentado o evangelho de diferentes ângulos e com textos bíblicos diferentes das referências habituais de funerais.
Eu ainda estou aprendendo como fazer isso. Eu não acredito que eu descobri tudo. Mas eu tenho pensado muito nesse tipo de culto e nos riscos envolvidos. Enquanto eu não diria que todos deveriam fazer desse jeito, aqui estão alguns pensamentos nascidos de muita reflexão e experiência contínua com a pregação em funerais de incrédulos.
Presença antes do profissionalismo
Quando os diretores de funerária ligam para perguntar sobre a disponibilidade de conduzir um funeral de um ou ente querido de uma família que não vai à igreja, a última coisa que eu quero pensar é em fazer negócios. Nenhuma família quer que o pastor que eles contataram lide com esse aspecto do seu ministério como o florista faz com as flores.
Muitas vezes eles não sabem o que perguntar e o que esperar. Então depois de dizer sim ao responsável por fazer o arranjo fúnebre, eu faço contato com um membro da família para eles saberem que eu estou pensando neles, orando por eles, e que gostaria de conhecer um representante da família o mais rapidamente possível para falar sobre o culto.
Geralmente as famílias não se preocupam em me encontrar, e tudo bem. Mas quase sempre eu recebo um parente ou dois no meu escritório, ou eu vou à casa deles para discutir os arranjos. Mas a primeira coisa que sempre conversamos é o falecido. Normalmente peço para ver fotos. Pude perceber que, em um encontro particular na mesa da cozinha da família, foi especialmente proveitoso para eles, principalmente porque em um ponto, cada um deles começou a lembrar histórias engraçadas sobre o seu filho/irmão, algo que eu tinha facilitado, mas depois eu somente observava. Eu até não disse muito nesse encontro, mas depois eles contaram para um membro da igreja como eles estavam impressionados pela minha presença e quanto isso significava para eles.
Eu já sentei com moribundos nos hospitais e funerárias, compartilhando a alegria de Jesus com eles em suas horas finais. Eu já aconselhei membros revoltados da família em meu escritório, que procuravam honrar o seu ente querido enquanto tentavam lidar com a hostilidade de longa data entre eles. Já estive de mãos dadas em uma cena de crime e no necrotério enquanto uma mãe esperava para identificar o corpo de seu filho. Quando um ente querido morre, não é um negócio comum para a família, então não deve ser também um negócio de costume para o pastor.
Quando possível, eu também participo das recepções e reuniões pós-funeral. Eu sou introvertido por natureza, então geralmente é difícil começar conversas com estranhos, mas eu me adapto muito bem nesse aspecto com os moradores de Vermont. Não é esperado que eu esteja cumprimentando, me inserindo nas conversas familiares e compartilhando. Mas eu fui avisado que estar disponível é muito útil. Nunca subestime o poder da presença. Chegar ao lado de uma família, mesmo em silêncio – às vezes, especialmente em silêncio – já basta pra não fazer as necessidades deles parecerem como algo que você está riscando da sua lista de afazeres.
No entanto, há um sentido em que o profissionalismo pode ser esperado, necessário e bastante útil.
Profissionalismo pode ser pastoral
É verdade que, irmãos, não somos profissionais. Porém, tenho aprendido com as visitas às famílias em profundo luto que assumir o fardo do planejamento do culto fúnebre sem deixar muito para eles pode ser muito confortante. Poucos costumam pensar muito nos detalhes desse momento. E muitas famílias que não frequentam a igreja não tem muita ideia sobre o que o pastor faz, como um culto deve parecer ou o que é apropriado incluir. Sou exigido um pouco sobre leituras das Escrituras e reflexões; apesar da inclinação irreligiosa de Vermont, ainda há respeito e consideração pela tradição. Famílias cujo luto é respeitado normalmente confiam a mim o planejamento do culto.
Quando reviso a liturgia de um culto fúnebre com as famílias, muitas vezes eles simplesmente balançam a cabeça e respondem com alguma variação de “O que você achar vai ficar bom.” Aprendi a um tempo que uma das melhores coisas que posso fazer por essas famílias é entrar no “modo profissional”. Enquanto eles estão tratando a vinda da família e amigos à cidade, lidando com todos os outros andamentos decorrentes da perda de um ente querido e lidando com os seus próprios sentimentos, tirar “pensar sobre o culto fúnebre” de sua lista de afazeres pode ser um grande alívio. E tenho percebido como o profissionalismo de bons diretores de funerárias e de coveiros pode ser um serviço confortante nesse momento também. A maioria das famílias não sabe o que deve acontecer, então contar que o pastor sabe e que vai tomar conta é uma benção.
Proclamação versus presunção
Aqui está o mais perigoso aspecto de pregar em um funeral de um (aparentemente) incrédulo. Funerais estão repletos de segurança confortante. “Ele está em um lugar melhor agora.” “Ela está lá em cima dançando com Jesus.” “Ele era uma boa criança, e agora ele é um dos anjos de Deus.” Quando você abre a palavra para compartilhamento daqueles que estão reunidos, o resultado pode ser uma mistura de sentimentalismo pseudo-religioso e histórias explícitas sobre quão santo era o velho rabugento que às vezes beira a heresia.
Quando famílias irreligiosas que respeitam a religião perdem um ente querido, eles não se preocupam se o falecido agora encara um julgamento eterno. Eles assumem que ele não está. Ele ou ela era uma “boa pessoa.” Minha opinião sobre esse costume – e mentes pastorais melhores que a minha podem e vão discordar – é que é trabalho do pastor aliviá-los dessas hipóteses de um jeito circunstancialmente apropriado.
Ninguém nunca me perguntou “O meu ente querido está no céu?” porque todos assumem que ele ou ela está. Nesses momentos eu me lembro que eu sou um convidado no luto dessa família. É melhor eu falar a minha parte acerca do evangelho verdadeiro e confiar no Espírito para trabalhar a lógica internamente contra hipóteses de parentes do que contradizer direta e pessoalmente com um “Bom, na verdade…” as pessoas que estão lidando com seu sofrimento e tentando oferecer conforto. Há momentos apropriados para correção pessoal sobre estas questões, mas eu não estou convencido que esse tempo deve vir no meio de um culto fúnebre.
Ao mesmo tempo, eu não posso afastar a realidade de que ninguém realmente sabe, da maneira que Deus sabe, qual é o destino eterno de cada um. A salvação para o ladrão na cruz é um precedente suficiente para nos mantermos humildes nessa questão. Acredito em conversões no leito de morte, não porque a graça é barata, mas precisamente porque é profunda o bastante para cobrir a longa vida de desobediência de uma pessoa pecadora. Portanto, eu tenho a perspectiva de que recusar-se a declarar que o falecido está no inferno não é a mesma coisa que negar a realidade do inferno.
A proclamação confia na providência
Ainda assim, a lealdade primordial do pastor é com Jesus Cristo, não com qualquer família. Eu habitualmente não aceito pagamento de famílias incrédulas para realizar os seus funerais porque eu nunca quero involuntariamente atar minha mensagem às ordens daqueles que estão pagando.
Eu nunca disse em um funeral de alguém que não viveu uma vida de fé pública algo sobre ele estar no céu, jogando uma partida de golfe com Deus, ou algo do tipo. É tão importante evitar falsa segurança quanto evitar condenações presunçosas. Em vez disso, eu tipicamente descrevo de maneira resumida o que a Bíblia diz sobre o sofrimento, demonstro pelas Escrituras que o próprio Jesus experimentou sofrimento e então apresento a narrativa bíblica de onde a morte surge, o que ela significa para nós que estamos vivos, e o que ela significa para nós na morte. Faço questão de dizer que aqueles que rejeitam Jesus vão morrer eternamente enquanto aqueles que se arrependeram dos seus pecados e confiam em Jesus vão viver eternamente, vão para o céu quando morrerem e desfrutarão os novos céus e a nova Terra no dia futuro das suas próprias ressurreições corporais. (Essa última parte tem funcionado quase sempre como um “vamos conversar mais depois”, pois muitas pessoas nunca ouviram a promessa da Bíblia de “vida após a vida após a morte” desse jeito, e a noção de uma Terra restaurada é muito apelativa aos moradores de Vermont que já amam bastante a Terra criada.
Ao negar assumir onde o falecido está, mas me comprometendo em proclamar as realidades eternas de cada pessoa falecida em relação a Jesus, eu estou me entregando à soberania de Deus, que vai usar o seu evangelho para acordar espiritualmente seus filhos para desejarem o seu Filho.
Existem outras oportunidades para os pastores de permanecem em contato com as famílias enlutadas para compartilharem mais direta e pessoalmente o evangelho de Jesus depois, mas no culto fúnebre em si, uma proclamação clara, concisa e inequívoca das boas novas desconectada das condenações presunçosas ou de falsa segurança sobre o falecido é o curso mais sensato. Vou até fazer destacar que confiar somente Jesus é o único caminho para o céu, pois aqui na região, certo tipo de “pluralismo Nova Era” é comum e prevalecente.
Essas são regras básicas para um funeral. Elas podem mudar dadas as necessidades do seu contexto ou da sua comunidade, mas eu acredito que elas apresentam uma forma fiel a Jesus Cristo e ao ministério da sua Palavra entre incrédulos no campo missionário de New England.
Traduzido por Pedro Vilela | iPródigo.com |