“Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho” João Calvino
Há no meio evangélico uma insistente falácia que calvinistas tem ouvido há anos, ela afirma que o movimento calvinista não tem interesse por missões, não tem amor pelo Ide. Mas será que este argumento tem algum fundo de verdade? Vamos recorrer aos calvinistas, e à bíblia, para responder esta questão.
Primeiramente, vamos definir missões, o teólogo reformado J.H. Bavinck assim a define:
Missões é aquela atividade da igreja, essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo, realizada por meio da igreja, pela qual a igreja, neste período intermediário, chama os povos da terra ao arrependimento e à fé em Cristo, de modo que se tornem seus discípulos e, pelo batismo, sejam incorporados a comunhão daqueles que esperam a vinda do Reino.
E qual a finalidade dessas missões? É a glória de Deus (Rom 11:36). A principal finalidade do homem, de missões, da oração, do culto, do trabalho, da arte, do ensino, da família do cristão É A GLÓRIA DE DEUS e a satisfação nEle. Tendo isto em mente, entendemos que “as missões não representam o alvo fundamental da igreja, a adoração [a Deus] sim. As missões existem porque não há adoração, ela sim é fundamental, pois Deus é essencial e não o homem. Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá mais missões. Elas representam, uma necessidade temporária. Mas a adoração permanece para sempre” John Piper.
Definido o que é missões e qual sua finalidade (numa visão reformada), vamos ver o que Calvino pensava sobre missões?
Calvino insistia que os cristãos carregam a responsabilidade de espalhar o Evangelho. Ele escreve “porque é nossa obrigação proclamar a bondade de Deus para todas as nações… a obra não pode ser escondida em um canto, mas proclamada em todos os lugares”¹. Calvino diz que “o Senhor ordena que os ministros do Evangelho vão para longe, com o objetivo de anunciar a doutrina da salvação em todas as partes do mundo”²
E Calvino mesmo responde ao argumento mais usado contra os calvinistas, de que como defendem a doutrina da predestinação, não precisariam pregar, pois os eleitos serão salvos, Calvino responde esta objeção citando, em suas Institutas da Religião Cristã, Agostinho³:
“Porque não sabemos quem pertença ao número dos predestinados, ou não pertença, assim nos convém tratar que a todos queiramos venham a ser salvos. Assim acontecerá que, quem quer que seja que se nos haverá de deparar, esforcemo-nos por fazê-lo participante de nossa paz. Mas, nossa paz repousará somente sobre os filhos da paz (Mt 10.13; Lc 10.6). Portanto, quanto a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de um remédio… A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz a quem preconheceu e predestinou”.
Prezado leitor, até agora viu alguma objeção calvinista contra missões?
E de forma pratica, a Reforma calvinista foi propulsora de um movimento missionário em escala, a religiosidade católica foi superada pelo evangelho de Cristo e a uma teologia firme e bíblica baseada na sola scriptura, sola fide e sola gratia. As Escrituras foram traduzidas para o alemão, inglês, francês, entre outras línguas, povos que não tinham contato com o cristianismo na Europa foram alcançados pelo o Evangelho, com a Reforma. Quanto ao trabalho missionário reformado ao redor do mundo, basta lembrar que o primeiro culto protestante no Brasil foi calvinista. Que a primeira confissão de fé das Américas, que também foi feita no brasil, foi reformada – a saber, a confissão de fé da Guanabara.
Temos ainda, vários exemplos de missionários calvinistas ao redor do mundo, vejamos alguns:
_ John Eliot: Missionário enviado aos índios norteamericanos no século XVII. Acredita-se que ele tenha sido o primeiro missionário enviado a pessoas dessa etnia. Como muitos já disseram, se William Carey é o pai do movimento moderno de missões, então John Eliot é o seu avô.
_ David Brainerd: Foi missionário aos índios americanos no século XVIII. Muitos historiadores acreditam que através de seu diário, “Um Relato da Vida do Falecido Reverendo David Brainerd” ele tenha sido responsável pelo envio de mais missionários para os campos de trabalho do que qualquer outra pessoa na história da igreja.
_ Jonathan Edwards: Grande teólogo, escritor e pregador do Primeiro Grande Reavivamento. Foi também missionário junto aos índios.
_ George Whitfield: Grande arauto e pregador do Primeiro Grande Reavivamento. Ele atravessou o Oceano Atlântico treze vezes.
Irmãos, temos que entender que o objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus. Como afirma Martyn Lloyd-Jones “Esse é o ponto central de missões. O primeiro objetivo da pregação do evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar”. Nós, como cristãos, somos todos missionários de Cristo, não importa se calvinistas ou arminianos, recebemos esta honra de poder proclamar o evangelho aos perdidos.
E Lembrem: “Deus é o Senhor Soberano das Missões” John Eliot
¹ Comentário sobre Isaías 12:5, em Calvin’s Commentaries, vol. 7, Isaías 1-32, 403.
² John Calvin, Calvin’s Commentaries, vol. 17, Harmonia de Mateus, Marcos e Lucas, 384.
³ (AGOSTINHO DE HIPONA. De correptione et gratia, XIV-XVI. In CALVINO João. As Institutas ou tratado da religião cristã, III:XXIII, 14. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989. Volume III, p. 426).