Deus interage com a humanidade através de dispensações e alianças ou pactos, previamente prefixados por Ele em Sua onisciência e soberania, para conduzir-nos até a conclusão da história da nossa redenção, quando todas as coisas serão restauradas em Jesus Cristo com a criação de um novo céu e de uma nova terra.
Se nos detivermos examinando com paciência estas dispensações e alianças a partir da perspectiva do próprio Deus ao planejá-las tendo o grande fim em vista de glorificar em Cristo uma humanidade que havia caído no pecado, podemos entender que não se trataram portanto de dispensações e alianças independentes e para fins particulares, senão, partes integrantes visando ao mesmo fim.
Então, quando a primeira aliança foi feita com Adão, baseada na obediência perfeita do homem e toda a sua descendência para a vida, ou da desobediência para a morte, o grande alvo era o de encerrar a todos sob o pecado (Gál 3.22), de forma a possibilitar que a promessa da salvação pudesse ser fosse concedida a todos os que nEle cressem.
Assim, estas dispensações e alianças existem cronologicamente para nós, mas para Deus, especialmente a chamada Nova Aliança em Jesus Cristo, têm um alcance atemporal, pois elas abrangem ou estão relacionadas a todas as gerações da humanidade.
Este foi o caso da aliança feita com Noé, de haver continuidade da multiplicação e manutenção da raça humana e de todos os demais seres viventes sobre a face da terra, e de não haver mais destruição por águas de dilúvio (Gên 9.9-17).
Esta promessa de não haver destruição da raça humana por Deus e de todas as condições necessárias para a sua manutenção é a garantia do cumprimento da promessa da aliança da redenção (Nova Aliança), feita a Abraão, a qual se manifestaria a partir do seu descendente (Cristo – Gál 3.16), e cujo benefício alcançaria até mesmo Adão e os seus descendentes que tivessem vivido antes de Abraão, e que tivessem sido justificados por meio da sua fé em Deus.
Somente cerca de 430 anos depois da promessa da Nova Aliança feita a Abraão, Deus estabeleceu uma aliança exclusiva com os israelitas nos dias de Moisés, a qual chamamos de Antiga Aliança ou Velho Testamento.
Apesar desta Antiga Aliança, ou Aliança da Lei, ter sido feita com a nação de Israel, ela estava inserida no contexto do plano da redenção da humanidade, conforme citamos anteriormente.
Todavia, seria de breve duração, na chamada Dispensação da Lei, que durou cerca de 1440 anos. Este foi o período de vigência que Deus estabeleceu para ela.
Assim, a Nova Aliança que tem vigorado na chamada Dispensação da Graça, desde que Jesus morreu e ressuscitou, é denominada Nova, não no sentido de ser a mais recente, ou uma aliança que não teria qualquer tipo de vinculação com as anteriores, mas, sim, que ela é a aliança através da qual se cumpre o propósito redentor de Deus, desde que Ele havia coberto o primeiro casal com as peles de animais sacrificados, e de lhes ter feito a promessa de um descendente (Cristo) que esmagaria a cabeça da Serpente, Satanás, o diabo.
Os que estão aliançados com Cristo estão também aliançados com a Sua vitória. É nEle, segundo a promessa de aliança que Deus fizera desde Abraão, que eles são perdoados, lavados de seus pecados e regenerados e santificados pelo Espírito Santo, para estarem reconciliados com Deus como seus filhos amados.
Por isso temos em muitas passagens bíblicas no próprio Velho Testamento, ou seja, nos dias da Antiga Aliança, várias promessas relativas à Nova Aliança, especialmente nos profetas, como por exemplo em:
“Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.”
Ezequiel 36.26,27:
“Eze 36:26 Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
Eze 36:27 Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.”
O capítulo 31 de Jeremias é introduzido pela citação “Naquele tempo”, ou seja, nos dias da Nova Aliança, da dispensação da graça.
E o Senhor diz que na referida época, Ele seria o Deus de todas as famílias de Israel e elas seriam o Seu povo (Jer 31.1), isto, sabemos agora, por causa da promessa de que todo cristão seria um verdadeiro israelita, conhecido e conhecedor de Deus, integrante de Sua família, porque de outro modo, seria impossível o cumprimento de tal promessa em que todas as famílias de Israel pudessem ser consideradas integrantes do verdadeiro povo de Deus.
Deus faria isto por causa do Seu grande amor que é eterno, e da Sua benignidade que atrairia aqueles que salvaria pela Sua misericórdia a Si mesmo, e hoje sabemos que Ele o faz, nos atraindo a Jesus Cristo para sermos salvos por Ele (Jer 31.3).
Haveria nestes dias futuros de bênçãos quem gritasse como sentinelas no monte de Efraim, que se subisse ao monte Sião, à presença do Senhor, porque haveria cânticos de alegria, e haveria exultação por causa de Israel, que seria posta como a principal das nações, e o que se proclamaria seria o seguinte: “Salva, Senhor, o teu povo, o resto de Israel.”. Este resto de Israel, é o remanescente fiel deste povo que será salvo por Cristo.
O Senhor havia falado antes somente em destruir, mas agora Ele está falando de uma edificação que ocorreria no futuro.
Já não falaria mais em destruição, mas em edificação, por isso Jesus disse que não veio condenar o mundo, ou julgá-lo, mas salvá-lo, ou seja, na presente dispensação da graça, Ele está sendo inteiramente longânimo para com todos os pecadores, na expectativa de que se arrependam e vivam.
Ele estará convocando, através da Igreja, as pessoas de todos os recantos da terra, para que se arrependam e creiam nEle para que vivam, em vez de destruí-las por causa dos seus pecados.
Então, em face de tal graça e misericórdia, os de Israel, que haviam sido espalhados pelas nações, por causa dos juízos de Deus, tornariam a ser reunidos por Ele em sua própria terra, assim como o pastor ajunta o seu rebanho para guardá-lo.
O pecado e o diabo que eram mais fortes do que Israel e que continuamente o levavam a pecar e a se desviar de Deus, seriam vencidos por Jesus, que é mais forte do que ambos, de modo que uma vez sendo amarrados por Ele esses valentes, Israel poderia ser libertado (Jer 31.11).
E então o Senhor passou a proclamar as bênçãos que viriam não somente sobre os judeus, que haviam sido deportados para Babilônia, como também para os israelitas que haviam sido levados em cativeiro pelos assírios, ou seja, para os descendentes deles, especialmente sob o governo de Jesus, quando fossem reunidos a Ele.
Haveria um clamor em Ramá, por causa da matança de meninos de dois anos para baixo em Belém e seus arredores, por ordem do Rei Herodes, que tentaria impedir o cumprimento da promessa de Deus, de dar a Seu povo o Rei que o salvaria dos seus pecados (Jer 31.15, Mt 2.16-18).
Todavia, o propósito eterno de Deus não poderia ser frustrado, e Herodes nada poderia fazer para impedir a chegada a este mundo do Rei dos reis, e Senhor dos senhores, por causa de quem o povo de Deus canta com júbilo e fica radiante com os benefícios do Senhor, em todas as Suas provisões, e também por quem suas vidas se tornam como jardins regados, de modo que nunca mais desfalecerão.
Além disso, por causa da Nova Aliança em Cristo, haverá cântico de júbilo nos altos de Sião, que simbolizam a condição elevada da alma na presença de Deus nas regiões celestiais (Jer 31.12 a).
Jovens e velhos dançariam alegremente quando o Senhor edificasse o Seu povo, e o pranto deles seria transformado em alegria, porque seriam consolados pelo Espírito Santo, e o Senhor lhes daria alegria no lugar da tristeza (v. 13).
Todo o choro pelas tribulações e aflições, especialmente as produzidas pelo Inimigo, deveria ser reprimido, bem como todas as lágrimas dos olhos, porque o Senhor recompensaria o trabalho dos Seu povo, e o livraria da opressão do Inimigo (v. 16).
Os que haviam sido castigados deveriam abandonar as suas queixas, e pedirem ao Senhor para serem restaurados, porque estava preparando uma nova dispensação (a da graça) onde prevaleceria mais a Sua misericórdia do que os Seus juízos, e portanto, os que se achavam desviados poderiam regressar a Ele com confiança, porque saciaria toda alma cansada e fartaria toda alma desfalecida (v. 25).
Tudo isto fora dado em sonho a Jeremias (v. 26), para que o Senhor o confirmasse logo depois ao profeta com a promessa relativa à Nova Aliança, na qual se cumpririam todas estas bênçãos que ele vira em sonho.
Deus disse que no passado havia falado em arrancar e derrubar, transtornar, destruir, e afligir, relativamente às casas de Israel e de Judá, como vemos nas Suas ameaças em quase todo o Velho Testamento, mas disse que nos dias que ainda viriam (dispensação da graça), Ele agora vigiaria para edificar e para plantar (v. 28).
Por isso o apóstolo Paulo diz que a Igreja é a lavoura de Deus, referindo-se a ela como uma plantação, e também como o edifício de Deus, porque o Senhor prometeu plantar e edificar, e não arrancar e destruir o Seu povo nos dias da Nova Aliança.
Nós vemos também o apóstolo se dirigindo à Igreja carnal de Corinto, dizendo que os repreenderia pelos seus pecados, mas que não os destruiria porque o ministério que havia recebido do Senhor era para edificação e não para destruição (II Cor 13.10).
Deus revogaria também o princípio da iniquidade dos pais ser visitada nos filhos até a terceira e quarta geração, conforme previsto na Antiga Aliança, porque na Nova, cada um responderia pelos seus próprios pecados perante Ele (Jer 31.29, 30).
E depois de ter feito esta introdução de promessas de bênçãos, revelou ao profeta como elas se cumpririam, a saber: com a entrada em vigor da Nova Aliança no lugar da Antiga, conforme já comentamos anteriormente (v. 31 a 34).
E para ratificar a imutabilidade deste Seu propósito que se cumpriria em Cristo, o Senhor afirmou que se tal promessa pudesse ser revogada, então Israel deixaria também de ser uma nação diante dEle para sempre, porque não há outro modo de existir um povo para Deus, senão na união dos Seus filhos com Jesus Cristo, sendo salvos por Ele, pela justificação da Nova Aliança, com a qual o próprio Abraão havia sido justificado, antes mesmo da Lei, para que se soubesse, que é por tal justificação em Cristo que se tem vida eterna, e não pela Lei de Moisés (v. 35, 36).
Deus não rejeitaria Israel apesar de tudo quanto haviam feito, porque usaria de misericórdia e salvaria o remanescente da referida nação, e não deixaria de fazer isto de modo algum, e por isso afirmou que o faria somente caso alguém pudesse medir os céus e os fundamentos da terra (v. 37).
Assim, os judeus deveriam ter confiança, enquanto estivessem no cativeiro, que o Senhor visava ao bem do Seu povo, e não à Sua destruição, e que deveriam voltar com alegria e com confiança para a sua própria terra, depois que fossem libertados por Ele do cativeiro em Babilônia, porque o Seu propósito para Israel é o de que seja colocado como cabeça das nações na terra para sempre, sem que possa ser jamais derrubado, e isto terá cumprimento por ocasião da volta de Jesus (v. 38 a 40).
Todos os que creem em Cristo fazem parte do verdadeiro Israel de Deus. É a todos eles que são feitas estas promessas. Eles governarão as nações da Terra juntamente com Cristo no período do milênio.
Pr Silvio Dutra