“ Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou o Senhor: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ah, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás. Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.” (Isaías 1.2-5)
De tal ordem é a força e obstinação do pecado no coração humano, que apesar de Deus ter dado a a sua Lei a Israel e lhe ter feito mui grandes e preciosas promessas, agindo com bênçãos e livramentos sem medida, especialmente nas investidas que sofriam de nações e povos inimigos, Israel era sempre dado a se desviar dos caminhos do Senhor e a se entregar a grosseiras idolatrias.
Quando estas palavras foram proferidas por Deus através do profeta Isaías, o Reino do Norte, com suas dez tribos, havia sido levado em cativeiro pelos assírios, e apenas Judá e Benjamin permaneceram na terra prometida, mas por não muito tempo depois de Isaías ter profetizado, porque seriam levados para o cativeiro pelos babilônios em três levas consecutivas a partir de 627 a.C., com a última delas em 586 a.C.
Eles retornariam para a sua própria terra em 537 a.C., pela misericórdia de Deus para com eles, e segundo a promessa que lhes fizera de trazê-los de volta depois de decorrido 70 anos em Babilônia, conforme profecia de Jeremias.
Todavia, apesar de terem sido curados da sua idolatria na volta do cativeiro, os seus líderes deturparam a Lei de Deus que lhes fora dada pela mediação de Moisés, e lhe acrescentaram mandamentos de homens, nos quatrocentos anos que se seguiram ao profeta Malaquias (Período Inter bíblico), e foi neste contexto que Jesus se manifestou a Israel em carne, no final do citado período.
Então foi para um povo que vivia da forma citada que Isaías dirigiu a sua profecia, e esta tem sido aplicável a toda a história de Israel até mesmo aos nossos dias, porque eles têm rejeitado o evangelho, em razão do seu endurecimento.
Eles não tinham em sua quase totalidade, um conhecimento pessoal e íntimo de Deus.
Conheciam a letra dos mandamentos mas não a sua eficácia espiritual aplicada em suas vidas.
Eles haviam recebido suas leis, seus preceitos, seu amor, seus livramentos, e tinham estado por várias vezes debaixo dos seus juízos corretivos por causa do pecado, e em vez de se emendarem, mais se rebelavam contra Ele.
Isto revela a obstinação da natureza humana decaída no pecado, e o quanto necessitamos de Jesus para que possamos ser libertados desta condição de escravidão ao pecado.
Assim, a aparente religiosidade de Israel nos dias do profeta Isaías, mantendo o culto de adoração no templo, com apresentação de sacrifícios e cumprimento de todos os rituais prescritos na lei, não poderia agradar a Deus, e muito menos produzir um verdadeiro conhecimento do Seu caráter divino.
Porque, para isto, é necessário ter o nosso próprio caráter transformado à semelhança ao de Cristo, pela operação do Espírito Santo, e aplicação da Sua Palavra aos nossos corações.
A consequência desta falta de verdadeira comunhão com Deus não pode ser outra senão a descrita no verso 5:
“Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.”.
E diante de tal condição Deus pergunta retoricamente qual seria o efeito do castigo que Ele lhes aplicasse diante desta deliberada rebelião?
A correção seria inócua, porque a repreensão produzirá um endurecimento ainda maior, quando se anda de modo deliberadamente contrário à Sua vontade.
Em Is 1.13 Deus declara aberta e diretamente que não aceita culto, rituais, cerimoniais, enfim, qualquer forma de ato devocional, quando não há pureza no interior do coração, e quando as ações externas não são de prática de amor, justiça e verdade.
Ele na verdade, ordena que o povo pare com tais atos de devoção enquanto não emendar os seus caminhos.
É melhor não louvar quando o coração não é reto. É melhor não ofertar quando há avareza. Deus chama a tudo isto de ofertas vãs (Is 1.13). Quando se anda de tal forma, Deus declara que sequer ouve as nossas orações (Is 1.5).
É um dever adorá-lO e se devotar inteiramente a Ele, mas isto deve ser feito com santidade de vida.
Por isso é ordenado que o Seu povo espiritualmente se lave, se purifique, e que deixe a maldade dos seus atos, deixando de fazer o mal, e não apenas isto, mas sobretudo, aprendendo a fazer o bem e a buscar a justiça, pondo fim a toda forma de opressão e se dando especial atenção aos fracos, desamparados e necessitados, representados naquela época nos órfãos e viúvas (Is 1.16,17).
O Senhor promete que se for obedecido nisto que nos tem ordenado, nossos pecados serão lavados, de modo que seremos alvejados como a pureza da brancura da neve e da lã (v. 18).
E a consequência desta obediência será uma vida abençoada na terra (v. 19).
Todavia, em caso de endurecimento na rebeldia, e na falta de arrependimento, por não se dar ouvido ao Senhor, haveria juizo (v. 20).
No caso de crentes da Igreja cristã, ainda que não para uma condenação final, o juízo de Deus lhes visitará, tal como fizera com os crentes de Corinto.
Por isso o Senhor declarou por meio de Isaías, que os rebeldes do Seu povo terão a Sua mão voltada contra eles, não para abençoar com alegria, mas para corrigir com tristeza que é para arrependimento, para que sejam purificados de toda a sua escória e impureza (v. 15).
Quando este trabalho for feito pelo Senhor, então Ele dará ao Seu povo líderes que sejam segundo o Seu coração, que os apascentem com conhecimento e com inteligência, tal como havia prometido dar líderes justos a Israel nos dias de Isaías, em face da purificação que faria neles (v. 26).