“Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.6-8)
Não há dever mais fortemente enfocado na Escritura do que o da oração; nem há qualquer outro que necessite ser mais inculcado na consciência.
Para aqueles que nunca se envolveram nesta tarefa com espiritualidade real de mente, pode parecer ser de fácil realização, mas aqueles que são mais sérios no seu desempenho, encontram muitas dificuldades para serem enfrentadas.
Para nos encorajar a perseverar na oração, a despeito de todas as dificuldades, nosso Senhor falou a parábola diante de nós.
Devemos considerar o que diz o juiz injusto.
Havia uma viúva laborando sob alguma pesada opressão.
O pecado tem universalmente armado os homens contra seus semelhantes. O mundo está cheio de roubo e opressão de todos os tipos, Sl 74.20, e os que são mais indefesos geralmente sofrem os maiores danos. Cada um está pronto para se aproveitar do órfão e da viúva. Então é o conforto deles, saber que a par de terem inimigos na Terra, que têm um amigo no céu.
A viúva foi a um magistrado para apresentar suas queixas.
A nomeação de magistrados é uma bênção rica para a comunidade, e eles deveriam ser considerados com muito respeito e gratidão. Nós não deveríamos de fato recorrer à lei por ninharias. Devemos sim resolver nossas disputas, se possível, por meio de arbitragem, mas nas circunstâncias da viúva, era correto solicitar a interferência do magistrado.
O juiz, por um longo tempo, não deu qualquer atenção ao seu pedido.
O juiz demonstrou não ser uma pessoa de caráter: ele não temia o santo, onisciente, onipotente Deus; e nem sequer considerava a boa opinião dos homens. Assim, ele não possuía qualquer regra de conduta, mas o seu próprio capricho ou interesse. Certamente, ao lado de um ministro vicioso, não pode haver maior maldição para um bairro do que um magistrado desleixado como este. Nós temos motivos para bendizer a Deus, no entanto, apesar de tais caracteres serem muito comuns, são raramente encontrados entre a magistratura.
Não é à toa que o tal juiz era surdo aos clamores da equidade e da compaixão.
Finalmente, ele agiu sob a importunação da viúva.
Ele se gloriava em seu desprezo a todas as leis humanas e divinas; mas não podia suportar os constantes apelos da viúva. Portanto, apenas para se livrar dela, atendeu à sua petição, e fez para sua própria comodidade, aquilo que deveria ter feito a partir de um melhor motivo. Assim, infelizmente! proclamou sua própria vergonha, mas declarou, de forma muito marcante, a eficácia da importunação.
Sua fala, ímpia como foi, pode ser vista como rentável para as nossas almas; conforme a aplicação feita por nosso Senhor.
Todos nós, do ponto de vista espiritual, nos se assemelhamos a esta viúva indefesa.
Estamos cercados de inimigos no nosso interior e também externamente: nossos conflitos com a corrupção do pecado que habita em nós são grandes e múltiplos. Temos, sobretudo, que lutar com todos os poderes das trevas; e não temos em nós mesmos qualquer força para resistir aos nossos adversários.
Mas Deus, o juiz de todos, nos ajudará se apelarmos a ele.
Deus tem prometido ouvir as súplicas de seu povo; ele tem declarado que ele não irá lançar fora a qualquer pessoa que vier a ele.
Ele pode, de fato, por razões sábias atrasar as respostas à oração; ele pode suportar tanto tempo com a gente, como para nos fazer pensar que ele não irá ouvir, mas ele nunca vai deixar de nos socorrer em qualquer época.
Isto pode ser fortemente deduzido a partir da citada parábola.
A viúva era uma estranha sem qualquer relacionamento com o juiz; mas nós somos eleitos de Deus, seu povo peculiar e favorito. O juiz injusto não estava interessado na concessão de seu pedido; mas a honra de Deus se preocupa em aliviar as necessidades das pessoas do seu povo. Podemos até tratá-lo na língua de Davi, Sl 74.22. Havia pouca esperança de prevalecer com tal juiz injusto e não misericordioso, mas nós tratamos com um compassivo Pai de amor. Além disso, a viúva não tinha ninguém para interceder por ela, mas temos um advogado justo e todo-suficiente.
Ela estava em perigo de irritar o juiz por suas súplicas; mas quanto mais importunos somos, mais Deus se agrada de nós, Isa 62.7. Ela, apesar de todas as suas dificuldades, obteve resposta ao seu pedido. Quanto mais, iremos nós, que em vez de suas dificuldades, temos esses incentivos abundantes! Certamente esta dedução é tão consoladora quanto simples e óbvia, e nosso Senhor, com sinceridade peculiar, o confirma: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça.“.
Há muito pouco de tal importunação para ser achada; nem é de se admirar, uma vez que há tão pouca “fé sobre a Terra”.
A fé é o princípio de onde a oração sincera procede. Se nós cremos nas declarações de Deus, devemos nos sentir fracos e indefesos; se cremos nas suas promessas, vamos reconhecer a sua prontidão para nos ajudar, e se cremos na realidade e importância das coisas eternas, vamos fervorosamente buscar a ajuda de Deus; nem estaremos indispostos por esperar até que ele nos responda. Mas quão pouco há de tal fé no mundo! Quão poucos são fiéis às convicções de suas próprias consciências! Quão poucos mantêm essa constância santa e fervor na oração! Quão poucos podem ser realmente chamados de um povo íntimo de Deus!
Se Cristo viesse agora para juízo, iria encontrar esta fé em nós?
Alguns vivem sem qualquer reconhecimento de Deus na oração; eles parecem ter esquecido de que haverá um dia de julgamento; outros se envolvem com seus deveres habituais e ficam satisfeitos com um recital sem sentido de certas palavras. Há outros ainda que sob a pressão da aflição irão clamar a Deus, mas logo se cansarão de um serviço no qual eles não têm prazer. Poucos, muito poucos, é para ser lamentado, se assemelham à viúva importuna. Poucos oram, como se eles cressem completamente na eficácia da oração. Se Cristo viesse agora ele encontraria tal fé em nós? Ele certamente irá investigar o que diz respeito à nossa fé, como às nossas obras, e se nós não temos a fé que nos estimula à oração, ele lançará a nossa parte com os infiéis.
Tradução, adaptação e redução feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.