“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” (Salmos 139.16)
A mobilização dos evangélicos e de setores tradicionais da Igreja Católica colocou no centro do debate eleitoral um tema que até então era considerado periférico para a maioria dos candidatos e da sociedade brasileira: a questão do aborto. Agora, impactados pela surpresa do segundo turno na eleição para presidente e conscientes de que o assunto ganhou uma importância decisiva na definição do voto de milhões de pessoas, em especial dos cristãos, os candidatos correm para dizer que são contra a prática e a favor da vida.
Mesmo a candidata do PT, Dilma Rousseff, que dissimuladamente mudou o seu discurso apostando na desinformação ou na ingenuidade de todos nós, agora tenta se apresentar como defensora da vida e dos valores cristãos, como se fosse possível apagar da Internet os vídeos com suas declarações, anteriores à campanha eleitoral, nos quais ela defende explicitamente a descriminalização do aborto por ser “caso de saúde pública” e considera “um absurdo” os limites que a lei atual impõe sobre a prática. Se não bastassem esses registros indeléveis, Dilma ainda tem contra sua nova dialética o fato de ser esta uma bandeira assumida oficialmente no programa do seu partido. Ou seja, o novo disfarce só vai colar para os ignorantes ou para quem não considera o assassinato de crianças no ventre materno um tema relevante… Nem um, nem outro será o nosso caso.
Por que para nós, seguidores de Jesus Cristo, esse não é um tema periférico, como querem sugerir os “progressistas” sem consciência? Porque se trata do direito à vida, dom sagrado de Deus.
A argumentação pró-aborto quase sempre se baseia na falsa premissa de que a vida humana não é plena no ventre materno. Ou seja, a grosso modo para os abortistas, um embrião ou um feto não seria “alguém”, mas apenas “algo” que pode ser descartado. Segundo essa ética inconsequente, a vida não começaria na concepção e sim no nascimento.
O que a palavra de Deus diz, porém, é absolutamente oposto. A expressão do salmista em sua oração é maravilhosa: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe” (Sl 139:16). Em outros termos, ele diz que Deus o reconheceu mesmo antes da formação fetal. Não era ali uma coisa, mas ele mesmo, ainda que não tivesse forma definida, numa referência clara às primeiras semanas de gestação, logo após a fecundação. A Jeremias, Deus disse:
“Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” (Jeremias 1.5).
Mais uma vez, está clara a idéia de que o Senhor trata como uma pessoa definida, tanto o embrião (antes da forma), quanto o feto (antes do nascimento).
No Antigo Testamento, a palavra hebraica traduzida como criança ou bebê é “yeled”. Esta mesma palavra também é usada para se referir aos que estão ainda no ventre materno, confirmando a idéia de que para Deus não há distinção entre um ser humano que já veio à luz e um que está sendo gestado.
Diante desta e de muitas outras evidências bíblicas, morais e científicas, não temos como deixar de considerar o aborto provocado em qualquer fase da gestação, desde a fecundação do óvulo, como homicídio, subtração da vida humana. Isso vale, inclusive, para métodos abortivos como a chamada “pílula do dia seguinte”, que é usada até 72 horas após a relação sexual para expulsar qualquer óvulo fecundado e que tem seu uso legalizado no Brasil.
Na ótica cristã, provocar o aborto é assassinar. Infelizmente, isso já é permitido em nosso país por lei e efetuado pelo serviço público em casos de gravidez decorrente de estupro e de risco de morte da mãe devido à gestação. Além disso, nossa nação já vive debaixo da culpa desse terrível pecado, pois centenas de milhares de abortos são realizados todos os anos na clandestinidade.
O que se quer agora é dar legalidade total a esse genocídio. Não apenas matar, mas matar os absolutamente indefesos sob a cobertura da lei e o financiamento do Estado. Como a incompetência dos governos não consegue punir o ilegal, a solução cínica de torná-lo legal é proposta pelos “progressistas”, especialmente pelo atual governo brasileiro e pelo PT, partido de Dilma Rousseff.
Meus escritos e posicionamentos não foram encomendados por ninguém. Não tenho partido político e não estou a serviço de nenhuma campanha em particular. Sou apenas um pregador da Palavra de Deus (goste o mundo disto ou não). Se é verdade que há gente hipócrita explorando este tema por pura conveniência eleitoreira, certamente este não é o nosso caso. O que defendemos é motivado por convicção e consciência.
Que aborto é um caso de saúde pública, está óbvio. Porém, ao invés de legalizar esse infanticídio, o que o Estado deveria era gastar um pouco da fortuna que gasta com tanta publicidade eleitoreira em campanhas de conscientização e educação sexual, de estímulo à monogamia, em programas de assistência às mulheres pobres que rejeitam os filhos que geraram e até em estruturas de tutela das crianças “indesejadas” (ao invés de dizer “se não quer o filho, nós lhe ajudamos a matá-lo”, o Brasil poderia dizer “se não quer seu filho, nós o criamos por você”). Nosso Presidente poderia ter inventado um “Bolsa Vida”, já que ele gosta tanto da idéia, que desse uma opção e um alento à mulher sem recursos para não interromper sua gravidez. Mas é claro, tudo isso custaria muito. É mais fácil, mais conveniente e mais barato abortar…
Há um outro tipo de hipocrisia na retórica dos abortistas. Nós sabemos que uma enorme parcela dos abortos provocados não se baseia na falta de recursos para criar mais um filho ou na desinformação, mas na irresponsabilidade de uma sociedade erotizada e imoral, que quer curtir a vida sem responder pelas consequências. Tanto que os ricos também o fazem em suas clínicas limpas e seguras. E como os governos tratam de erotizar nossa juventude nas escolas, a clientela só tende a crescer.
Além disso, o Estado deveria tratar como crime o que é crime, pois a impunidade é a mãe da corrupção. Se houvesse maior repressão a quem escolhe e, especialmente, a quem opera o aborto, talvez as estatísticas fossem menos terríveis… Descriminalizar é, a meu ver, lavar as mãos no sangue dos inocentes.
Como cristão, não posso concordar com a proposta de que, se mulheres pobres (ou irresponsáveis) abortam e correm risco de morte por isso, devemos ajudá-las a abortar “de maneira digna”, assim como não aceito idéias como legalização das drogas, para que o controle saia das mãos dos traficantes e venha para o Estado. A meu ver, essa linha de pensamento é só uma fuga para a incompetência das nossas instituições. Um governo que assuma o papel de homicida e traficante de drogas não pode ser a minha aspiração.
Não acho que a decisão do voto deva basear-se apenas neste assunto, embora para a Igreja de Cristo ele seja extremamente importante. Não somos pragmáticos. Somos cristãos… Também não acho que exista algum “Messias” enviado do céu nesta campanha eleitoral. Infelizmente, o quadro que temos está mais para escolher entre trevas e densas trevas. Entretanto, de acordo com as propostas que vêm sendo praticadas e desenhadas nos últimos anos pelo governo do PT, pelo conjunto da obra, estou convicto de que o menos pior para o Brasil, em particular para quem tem sua ideologia formatada pela Bíblia, é a descontinuidade do atual governo federal.
O tema é muito mais profundo, mas estas poucas linhas são suficientes para colocar em sua consciência o peso da responsabilidade. Não queremos um Brasil amaldiçoado pelo derramamento de sangue inocente, queremos? Não queremos ser cúmplices de um “genocídio legal”, queremos? Pois, então, pense muito bem neste assunto antes de votar. As propostas e os discursos de cada candidato à Presidência da República já estão registrados na História, ainda que pela conveniência de uma campanha, há quem queira apagá-los. Você e eu, entretanto, não somos mais ignorantes e nem seremos desculpáveis se nos fizermos de ingênuos. Votar no próximo dia 31 poderá ser uma opção entre tornar-nos cúmplices de um infanticídio sob a cobertura da lei ou resistirmos a esta abominação que tem sequestrado a consciência das nações. Depois, cada um de nós responderá diante do Criador e Justo Juiz pela escolha realizada… Pense bem!
Por Danilo Figueira
Fonte: Orvalho