Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.
“Nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus.” (Mateus 7.21)
Ao ler este capítulo alguém é levado a sentir que não é, afinal, uma coisa fácil ser um cristão sincero. O caminho é difícil, o caminho é estreito. Quem poderá representar o caminho para o céu como sendo fácil, senão nosso Salvador que não fala assim dele. “Estreita é a porta e apertado é o caminho, e poucos há que a encontrem.” “Muitos são os chamados mas poucos os escolhidos.” A dificuldade de estar certo é aumentada pelo fato de que existem homens no mundo cujo comércio é fazer falsificações. Havia, e há, muitos falsos profetas. Nosso Salvador falou sobre eles neste capítulo e nos deu um modo de testá-los – mas eles continuam ainda exercendo a sua atividade com tanto sucesso como nunca.
Agora, uma vez que há traidores no exterior cuja atividade é para enganar, devemos estar duplamente vigiando e constantemente em nossa torre de vigia para que não sejamos enganados por eles. Conjuro-vos, a examinarem cada declaração que vocês ouvem nos púlpitos e plataformas cristãs! Conjuro-vos, peneirem e testem todos os livros religiosos pela grande norma da Palavra de Deus. Que nenhum de nós acredite se falamos de forma contrária a esta Palavra – sim, não acreditem num anjo do céu, se ele prega outro evangelho além do que está contido na Escritura inspirada.
“À lei e ao testemunho”, se eles não falarem segundo esta Palavra, é porque não há verdade neles. Deus nos conceda a graça de escapar dos falsos profetas! Não vamos fazer isso se formos descuidados e afrouxar a guarda, porque a veste de pele de carneiro cobre eficazmente o lobo – as bordas dos filactérios adornam assim os hipócritas – que milhares são enganados pela aparência e não descobrem a fraude! Muitas são as astutas ciladas do inimigo e muitos néscios ainda ignoram os seus ardis.
Tutorados pela experiência de gerações, os homens maus e sedutores não somente irão de mal a pior, mas eles ficam mais e mais astutos. Se fosse possível, eles enganariam até os escolhidos! Feliz serão aqueles que, sendo eleitos, são guardados pelo poder de Deus para a salvação de modo que eles não são levados por qualquer erro.
Em adição ao fato de que há falsos mestres, é certo que há falsos professores. Nunca houve um tempo na Igreja de Deus em que todos os que se professavam cristãos o eram de fato. Certamente, a idade de ouro da Igreja deve ter sido quando o próprio Mestre veio e selecionou 12 espíritos para estarem bem próximos à sua Pessoa e agiram, por assim dizer, como os primeiros ministros de Seu reino. No entanto, havia um demônio entre os 12, um diabo na Igreja da qual Jesus era o Pastor!
Judas, o tesoureiro dos Apóstolos, era também um filho da perdição. Quando Paulo e os Apóstolos vigiavam a igreja eleita, com certeza deve ter sido um tempo feliz – e quando a perseguição atingiu a todos e agiu como uma grande peneira para joeirar e afastar a palha, seria de se esperar que a eira contivesse apenas grãos limpos!
Mas não foi assim. A pilha sobre a eira da Igreja era, até então, uma massa misturada de trigo e farelo. Alguns se desviaram por amar o mundo e outros foram iludidos em erro grave. E havia outros que permaneceram na Igreja para desacreditá-la por sua impureza e trazer castigos sobre eles por seu pecado. Nós nunca veremos uma Igreja perfeita até que vejamos o Senhor face a face no céu. Acima, além das nuvens é o lugar da perfeição! Mas aqui, infelizmente, nada está sem mácula.
Mesmo nas Igrejas mais puras encontramos enganadores e enganados. Entre vós, sobre os quais é o meu chamado para presidir, eu sei que existem falsos professores – mais amantes do mundo do que amigos de Deus, e que eu não posso removê-los da mesma forma que os servos do pai de família poderiam separar o joio do trigo, mas eu suspiro em cima de vocês e vocês são a minha cruz e fardo. Oh, que Deus possa convertê-los e torná-los fiéis às suas profissões, ou então removê-los da Igreja, que eles tão grandemente entristecem e enfraquecem!
Mas agora, se na Igreja de Deus, há aqueles que são enganadores e enganados, esta questão vem a cada um de nós: “Não podemos, também, ser enganados? Não é possível que nós, apesar de fazermos uma profissão de religião, podemos, afinal, ser hipócritas ou iludidos nessa profissão e deixar de ser o que nós pensamos que somos?”
Portanto, vamos nos colocar, neste momento, na atitude de auto-exame. Que possamos provar a nós mesmos se estamos certos ou não, não vacilando em qualquer Verdade de Deus, mas ansiosamente desejando ser provado e testado diante do próprio Senhor.