O mais incrível quando pensamos em Deus é a sua absoluta disposição em Se revelar. O princípio que permeia toda a Bíblia é o que mostra um Deus profundamente disposto a compartilhar da Sua natureza. Leia comigo:
“Entretanto, o menino Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra de Senhor era muito rara naqueles dias; as visões não eram freqüentes. Sucedeu naquele tempo que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos começavam já a escurecer, de modo que não podia ver), e ainda não se havendo apagado a lâmpada de Deus, e estando Samuel também deitado no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus, o Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui. E correndo a Eli, disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei; torna a deitar-te. E ele foi e se deitou. Tornou o Senhor a chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei, filho meu; torna a deitar-te. Ora, Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e a palavra de Senhor ainda não lhe tinha sido revelada. O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele, levantando-se, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o menino. Pelo que Eli disse a Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar. Depois veio o Senhor, parou e chamou como das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel: Fala, porque o teu servo ouve. Então disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir” (1 Samuel 3.1-11).
Essa passagem da palavra de Deus começa dizendo que, nos dias em que Samuel servia a Eli, a palavra de Deus e as visões não eram muito freqüentes. Isso quer dizer que Deus não estava fluindo em profecias e revelações naqueles dias. No entanto, segundo nos mostram as Escrituras no Velho e no Novo Testamento, é da natureza de Deus falar com o seu povo. Sendo assim, em um dia especial, Ele resolveu quebrar o silêncio e escolheu falar com Samuel. O pequeno sacerdote não sabia que Deus apareceria naquela noite. Ele ainda não havia aprendido que Deus não tem hora certa para falar e gosta de acordar os seus filhos pelas madrugadas.
Samuel ouve o seu próprio nome ser chamado por três vezes. Deus, na Sua ânsia por compartilhar, chama o menino alto, em som audível, que ressoa pelo quarto. Samuel acorda e logo vai acordar o seu tutor, Eli, que já era idoso e não enxergava bem. O velho Eli dormia um sono profundo. Penso que ele ficou realmente chateado por ter sido acordado. Eu teria ficado!
Mais uma vez a voz chama “Samuel, Samuel, Samuel” e a cena se repete. Desta vez, Eli, experimentado nas visitas divinas, diz: “Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve”. Foi exatamente isso que Samuel fez quando a voz o chamou novamente. Só então Deus começou a dizer: “Samuel, eu vou fazer algo sobre a terra (…)”. Temos aqui a figura de um Deus que está ansioso por compartilhar seus segredos.
Entendo que Deus compartilha da revelação por dois motivos: um é para que a revelação seja ensinada e a palavra não tome caminhos de interpretação errados, o outro é para que haja intercessão. No primeiro caso, Deus nos ensina a Palavra, através do Espírito Santo, para que a igreja siga os princípios eternos (1 João 2.27). Eles estão contidos nos livros da Bíblia, embora muito da essência dos princípios precise ser revelado ao coração do crente pelo Espírito Santo, para que possa ser vivido. O segundo propósito do compartilhar de Deus pode ser achado em uma passagem bem especial do Velho Testamento. Acompanhe com atenção:
“E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e por meio dele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem retidão e justiça; a fim de que o Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado. Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se em tudo têm praticado segundo o seu clamor, que a mim tem chegado; e se não, sabê-lo-ei. Então os homens, virando os seus rostos dali, foram-se em direção a Sodoma; mas Abraão ficou ainda em pé diante do Senhor. E chegando-se Abraão, disse: Destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que ali estão? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio, de modo que o justo seja como o ímpio; esteja isto longe de ti. Não fará justiça o juiz de toda a terra? Então disse o Senhor: Se eu achar em Sodoma cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei o lugar todo por causa deles. Tornou-lhe Abraão, dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás toda a cidade por causa dos cinco? Respondeu ele: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco” (Gênesis 18.17-28).
Deus não consegue ocultar o que vai fazer. Ele precisa contar a Abraão, seu amigo, sobre o que está para acontecer. O que começa a ser mostrado nessa passagem é a disposição de Deus para compartilhar e o coração compassivo de Abraão, que segue em uma “negociação” até alcançar a misericórdia de Deus para dez pessoas. Por que essa passagem foi colocada aí? Sem dúvida, ela mexe com a teologia de muita gente. Por outro lado, nos mostra um Deus que tem aquilo que chamo de “intenção da revelação” e busca amigos com quem compartilhar.
Aceita o convite?
Ser acordado no meio da noite, gastar tempo lendo a Palavra em oração, lutar para olhar o mundo e assistir as notícias da perspectiva de Deus são algumas coisas que devem fazer parte da vida daquele que busca a revelação. O verdadeiro cristão quer conhecer o próprio Deus, não apenas acumular conhecimento sobre Suas obras. Ele quer conhecer o Niemeyer, por assim dizer, e não somente passear por Brasília. Faço por você, ao término deste capítulo, bem aqui no meu quarto, a mesma oração de Paulo aos Efésios:
“Por isso também eu, tendo ouvido falar da fé que entre vós há no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, muito acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, que é o seu corpo, o complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas” (Efésios 1.15-23).