Não raro leio o seguinte argumento: “Naquele tempo os parentes eram chamados de irmãos”. Com isso, alguns tentam justificar a virgindade de Maria e dar uma interpretação particular ao teor de Mateus 13.55-56:
“Não é ele o filho do carpinteiro? E não se chama a mãe dele Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Mateus 13.55-56
É assim que está na BÍBLIA DE JERUSALÉM, Paulus Editora, 1973, 8a impressão em janeiro/2000, rubricada em 1.11.1980 por Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. O trabalho de tradução foi “realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários”.
Leiam o que está escrito nessa mesma bíblia aprovada pela Igreja Católica:
“Saúdam-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé…” (Colossenses 4.10a).
De igual modo está na Bíblia Sagrada, aprovada pela igreja romana, edição ecumênica, BARSA, 1977, tradução do Padre Antonio Pereira de Figueiredo, com notas do Mons.José Alberto L. de Castro Pinto, bispo auxiliar do Rio de Janeiro: “Marcos, primo de Barnabé…”.
As bíblias acima citadas, aprovadas pela Igreja Católica, também não aceitam a perpétua virgindade de Maria. Vejamos o que diz Mateus 1.25: “E [José] não a conheceu [Maria] até o dia em que ela deu á luz um filho, e ele o chamou com o nome de Jesus”. Comentário da Bíblia [católica] de Jerusalém:
“O texto não considera o período ulterior [depois do parto] e por si não afirma a virgindade perpétua de Maria [grifo meu], mas o resto do Evangelho, bem como a tradição da Igreja, a supõem”.
Em outras palavras, os exegetas católicos, que trabalharam na edição da referida Bíblia, reconheceram o óbvio, ou seja, que até o nascimento de Jesus, José e Maria não se “conheceram”. Todavia, dizem bem quando entendem que a Tradição “supõe”, isto é, o dogma da perpétua virgindade de Maria é uma suposição, não uma realidade bíblica.
Vejamos o comentário da Bíblia Sagrada, BARSA/1977, acima citada, também aprovada pela igreja de Roma, sobre o mesmo versículo:
“Enquanto (ou até que): esta palavra portuguesa traduz o latim donec e o grego heos ou, que por sua vez estão calcados sobre a expressão hebraica ad ki que se refere ao tempo anterior a esse limite sem nada dizer do tempo posterior, cf. Gn 8.7; Sl 109.1; Mt 12.20; 1 Tm 4.13. A tradução exata seria: “sem que ele a tivesse conhecido, deu à luz…”, pois a nossa expressão “sem que” tem o mesmo valor”;
A referida Bíblia Católica afirmou que o “ATÉ” não foi além do nascimento de Jesus, ou seja, enquanto grávida e até dar à luz não houve “conhecimento” mútuo do casal. A expressão “se refere ao tempo anterior a esse limite – até – sem nada dizer ao “tempo posterior”.
Então, para dar sustentação à virgindade perpétua de Maria, isto é, virgem antes e depois de dar à luz Jesus, faz-se necessário que apresentem argumentos mais consistentes. Primeiro, precisam desmentir os comentários acima, da própria Igreja Católica, inseridos em bíblias com sua chancela. Segundo, explicar a razão de constar dessas bíblias a palavra “primo”, em lugar de parentes, como sustentam.
O mais sensato, a meu ver, é admitir que não houve mandamento divino que impedisse o casal José e Maria de ter filhos; que santidade e maternidade não são excludentes; que, no casamento, procriar não é pecado; que após o nascimento de Jesus, o casal José e Maria foi abençoado com muitos filhos.
Autor: Pr Airton Evangelista da Costa