João 10:10, é uma passagem que possui uma confortadora e doce palavra de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas quanta riqueza podemos extrair dessas simples palavras? Elas sintetizam a profundidade do Evangelho de Deus. Sim, como boa noticia, esta mensagem visa levar todas as pessoas que a recebem com alegria a serem resgatadas da escravidão do pecado e viverem eternamente. Isso tem sido pregado por muitos irmãos em Cristo, em todos os lugares e há muito tempo.
Mas em quê de fato se constitui o evangelho em Sua totalidade? O que é na verdade vida em abundância? Se é algo abundante e insondável, deve ser algo que afete todos os aspectos da caminhada humana, não apenas eliminando o possibilidade de em algum momento ter suas forças vitais extintas pela eternidade.
Tendo respondido estas questões poderemos então, cumprir nosso chamado, de forma completa, anunciando o evangelho assim como Paulo e os demais Apóstolos pregavam: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo”(Efésios 3:8). A partir dessa comissão que Paulo recebeu, podemos começar a compreender o que é essa abundância de vida.
Essa vida é uma insondável riqueza, que é a ideia central do Novo Testamento, bem como de toda a Bíblia. Vejamos o que Romanos 9 tem a nos dizer sobre esse assunto:
“Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?”. Estes vasos para desonra, simbolizam a condição do homem que não tem o Senhor. Toda a humanidade é destinada à perdição, ou destruição, como “vasos de ira”, pois nenhum homem é capaz de cumprir a vontade de Deus. Mas com infinita paciência, Ele suportou essa humanidade rebelde, e por amor providenciou uma redenção para que estes “vasos perdidos, desprezíveis” fossem salvos da destruição do inferno.
“a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão”. O desejo de Deus, é que o homem reconheça sua condição caída, deplorável e que depende totalmente da misericórdia do Senhor. Assim os vasos que estavam destinados à destruição, são resgatados para servir a Deus e viver eternamente. Mas o importante, é que esses vasos não são salvos, simplesmente para não serem destruídos, mas para serem cheios! Cheios de quê? Das riquezas da glória de Deus!
Se prosseguirmos em nossa leitura, no desenvolvimento deste contexto no próximo capítulo, chegaremos ao famoso: “se com tua boca confessares…” (Romanos 10:9). Assim veremos como estas riquezas estão intimamente relacionadas à salvação dos pecadores, mas não se limita somente a isto. Alguns versículos à frente lemos: “…uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.” Agora mais uma vez batemos de frente com estas insondáveis riquezas de Cristo. Está ficando cada vez mais claro, que a salvação dos pecadores, não possui um fim em si mesma. Mas é para a vontade do Senhor, de fazer conhecer, ou seja, demonstrar, declarar, tornar notórias as riquezas da Sua glória em “vasos” salvos por misericórdia e não por mérito próprio. Assim nenhum homem terá de que se gloriar.
Primeiro vimos que o “vaso” é salvo, depois, ele é preenchido pelas riquezas de Deus. Isso é um principio básico desse rico e maravilho evangelho. Até o momento, estas insondáveis riquezas ainda são um mistério para nós. Mas elas estão presentes e relevadas em todo o Novo Testamento:
Colossenses 1:26-27 diz: “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;” O coração e comissão do Apostolo Paulo, era de pregar, revelar este mistério: a riqueza que Deus deseja colocar em nosso interior para expressar a Sua glória por meio do homem, é Ele mesmo.
As promessas de Deus não se resumem em nos salvar, para que tenhamos uma vida eterna no céu. Ele deseja uma transformação, uma renovação na mente do homem. Enquanto receber a vida eterna, é basicamente uma necessidade do homem, Deus deseja ir além de simplesmente dar-lhe a vida eterna, Ele deseja tornar o homem capaz de cumprir Sua vontade original.
Tal transformação ou santificação, não é meramente uma mudança na conduta exterior do homem, mas é algo que acontece de dentro para fora. Isso só pode ocorrer, se tivermos o próprio Senhor habitando em nosso interior. O evangelho, não é um conjunto de doutrinas e exigências para uma mudança na conduta humana. Mas é a boa noticia, de que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la” (Filipenses 1:6).
Deus não deseja, esforço e preocupação do homem, em fazer o que bom e correto. Durante a época do antigo Testamento, a Lei fez tais exigências aos homens. Por meio do Novo Testamento, não podemos dizer que a Lei foi revogada. Antes de tudo, ela é santa. Mas sua função, para nós hoje, é única e exclusivamente, mostrar-nos nossa própria condição, para que reconheçamos nossa total dependência ao Senhor (Romanos 3:19-20,23).
A redenção é para que haja possibilidade de Deus habitar no homem. No tempo de Adão, Deus não habitava com Ele, apenas vinha em um determinado horário conversar com o homem. Com Abraão, foi da mesma forma, apesar de ser visitado pelo Altíssimo, não há indicação bíblica de que Abraão, tenha tido a presença de Deus a cada momento. Mas quando o povo de Israel saiu do Egito, o tabernáculo foi edificado para que Deus estivesse sempre no meio do povo. Isso ocorreu, porque no tarbernáculo se ofereciam sacrifícios a Deus, pelos pecados dos homens. Assim a proximidade de Deus com homem foi possível, pois são os nossos pecados que fazem separação entre Deus e o homem, sendo que aqueles sacrifícios eram uma forma de redenção. Mas este habitar de Deus no meio do povo, era algo ainda exterior, e as ofertas deviam ser periodicamente renovadas.
Assim aqueles sacrifícios, são apenas sombras, ou seja, símbolos do que Cristo faria, se entregando por nós, pela nossa redenção. Por meio da obra redentora de Cristo, temos a verdadeira e eterna redenção, um sacrifício que possui eficácia eterna, de uma vez por todas. Tornando possível que Deus e o homem são reconciliados, Deus passa a habitar em seu interior, para ser tudo para este ser amado do Senhor.
Caro leitor, agora você consegue perceber a profundidade do propósito de Deus na redenção de Cristo?
As promessas de Deus, não tratam apenas de viver eternamente, mas de ter a própria gloria de Deus. Seu Evangelho anuncia que Ele, está nos chamando para termos Sua própria glória. Mas como isto acontece?
“Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo” (2ª Pedro 1:3-4). Isso não é possível pelo esforço do homem, não se trata de mérito, mas de humildade e dependência de Deus. A boa obra que o Senhor está completando em nosso ser é incluir em nós, a própria natureza divina. É assim que as riquezas da gloria de Deus são conhecidas dentro de vasos de misericórdia. Pelo divino poder do Senhor, Ele tem introduzido em nosso ser, tudo o que nos conduz à vida e a piedade, e a expressarmos Sua própria gloria e virtude. Não se trata de exaltação do homem, não se trata de obtermos a mesma autoridade que Deus como Lúcifer desejou, mas de genuína santidade, que alcançamos única e exclusivamente pelo habitar e trabalhar de Deus em nosso interior. Nesta mesma passagem, a partir do versículo 5 até o 7, encontramos o propósito dessa coparticipação humana na natureza divina, que visa introduzir no homem, todas as virtudes e qualidades que nosso Deus é e possui. É de fato neste ponto que tais riquezas se tornam insondáveis, pois é impossível enumerar ou mesmo medir todas as qualidades de Deus, até mesmo uma única qualidade, a exemplo do amor de Deus que excede todo o entendimento humano.
Então, no versículo 8 é dito: “Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.”. Tais qualidades são coisas que aumentam, crescem em nosso ser gradualmente, ou seja, dia após dia. Mas isso só é possível mediante a nossa coparticipação na natureza divina, mediante o habitar interior do Senhor em nosso espírito humano. Isso é a boa noticia para todo crente em Cristo Jesus. Pois todos nós temos a experiência de que é impossível ter tais qualidades do Senhor em nós mesmos. Mas é esta a obra que Ele vai completar na vida de Seus filhos. Porque Seu propósito para homem é torná-lo semelhante a Si mesmo. Para isso Ele vem habitar em nosso interior, para que um dia, Ele mesmo se expresse, se manifeste por meio de nosso ser. Esta promessa de Deus foi profetizada pelo apóstolo João em sua Primeira Epístola 3:2: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.”.
Assim podemos perceber que essa vida em abundância que recebemos do Senhor, essas insondáveis riquezas de Cristo, são na verdade o próprio Deus. Ele mesmo se entregou à morte, para que pelo poder da ressurreição, fossemos restaurados para o mesmo propósito pelo qual Adão foi criado.
Caro leitor, você conhece algo sobre o significado e origem do nome Adão? No hebraico- língua em que o Antigo Testamento foi escrito- a palavra Adão é a mesma palavra traduzida por homem. Essa palavra define tanto a pessoa única de Adão, quanto a própria espécie da criatura. Adão, ou homem em hebraico é אדם, que transliterado fica Adâm, a interpretação comum, é que esta palavra significa literalmente terra ou barro vermelho, mas a palavra hebraica para terra ou barro vermelho, é אדמה, que transliterada pode ser Admah ou ad-maw que, lógico, originou Adâm, isso está ligado ao fato de o homem ter sido criado do pó da terra. Mas por outro lado, a divisão da palavra Adâm, mostra outra natureza, podemos dividi-la, em dois radicais: o primeiro, já que em hebraico se escreve da direita para a esquerda, é a letra א (Aléf ou Aleph), que na tradição judaica, é tida como uma das letras que representam o nome de Deus. O segundo radical é a silaba דם (dam), que significa sangue. Seguindo esta linha de raciocínio, poderemos concluir que o homem foi feito com o sangue de Deus. Isto está relacionado ao fato de o homem ter sido criado, a imagem de Deus conforme Sua semelhança. Assim o homem, foi criado de forma totalmente diferente de todo o restante da criação. Recebemos a honra de termos sido criados segundo duas naturezas, uma terrena (pó da terra) e outra divina, para vivermos em união com Deus (sangue de Deus).
O fôlego de vida soprado nas narinas do boneco de barro, não é meramente capacidade de viver, porque a palavra traduzida por fôlego de vida (neshamah) em Gênesis 2:7, é a mesma palavra traduzida em Provérbios 20:27 como espírito do homem (neshamah). De acordo com 1 Coríntios 6:17, o espírito humano é o meio pelo qual o homem pode ser unido ao Espírito de Deus. Claro, nunca teremos participação na pessoa de Deus, nem nos tornaremos a mesma pessoa, mas como casa Dele, somos transformados, e Ele poderá expressar-se plenamente por meio de nós. Não é que Ele vai nos fazer entrar em um estado de “possessão santa” com o Espírito Santo, ou nos controlar como se fosse por meio de um controle remoto. Mas Sua vida inundará todo o nosso ser, restaurando toda a nossa mente, de acordo com a mente de Cristo. É por esta razão, que Jesus disse que a procura do Pai, era por aqueles que o adorem em espírito, porque é por meio do espírito humano que Deus entra em união com o homem, colocando assim a Sua natureza divina em Sua mais importante criatura.
Quando o homem caiu, Deus disse: “…Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.” (Gênesis 3:22). Você tem alguma duvida de que Deus queria que o homem, tivesse tal discernimento do bem e do mal? O problema é que ao comer do fruto da árvore errada, esta capacidade foi introduzida no homem de forma independente de Deus. Assim o espírito do homem, perdeu sua utilidade, ou seja, entrou em um estado de morte espiritual. A morte espiritual significa que o espírito humano, não está em condições de entrar em união com Deus e ser Sua morada, estando assim, morto para Deus e Seu propósito, pois por causa do pecado nos é impossível estar unidos com o Senhor (Isaías 59:1-2). Mas foi para resgatar o homem à este propósito que de graça e por amor e misericórdia, Jesus deu Sua vida, estas são as genuínas bênçãos espirituais das quais Paulo tanto falava (Efésios 1:3; 2:1-10). Agora podemos ser habitação de Cristo, para que um dia sejamos tomados de toda a plenitude de Deus (Efésios 3:17-19).
O propósito de Deus, ao nos dar nova vida, e vida em abundância, é para que possamos dizer: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Se tão somente pudermos crer, e aplicar essa realidade espiritual em nossa vida, que tipo de pessoas nos tornaremos dia após dia, não entristecendo o Espírito?
Esse é o propósito de salvar o “vaso”: para enchê-los de vida abundante, ou seja, das riquezas insondáveis de Cristo. Vida em abundancia neste sentido não se resume simplesmente na capacidade de viver eternamente, mas em viver de modo digno, guiado pelo Espírito de Deus em Seu propósito, de nos fazer semelhantes a Ele mesmo (1ª João 3:2)! Há como medir a grandeza das riquezas, ou seja, qualidades que Deus quer trabalhar em nosso ser, mas a Bíblia deixa clara esta realidade do propósito de Deus, e de como Ele introduz santidade em nosso viver.
Pr. Alisson Lopes
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