De há muito tencionava fazer um breve comentário imparcial do livro de autoria de Frank Viola, intitulado Cristianismo Pagão, porque na primeira vez que o fizera, confesso que me deixei levar pelo espírito de zelo pela honra do bom nome dos reformadores, dos puritanos históricos (John Owen, Richard Baster, dentre outros), de John Wesley, e de tantos outros servos fiéis do Senhor, aos quais Frank Viola criticou de forma ácida, injusta e severa, vendo falhas e erros em seus métodos, como um fracasso para o avanço da causa do Evangelho.
Assim, abandonei o que havia escrito e dei tempo ao tempo.
Posteriormente, com maior isenção de ânimo, reli o livro e percebi que Frank Viola deveria ser ouvido, quanto ao que escreveu, meramente como historiador, quanto aos fatos relativos à história da Igreja, que havia investigado e registrado, mas não como profeta, como pastor, mestre, ou em qualquer outro ofício e ministério dado à igreja pelo Senhor, como se vê em Ef 4.11-16.
Ele escreveu como se fosse o dono da verdade.
Critica a existência de liderança na Igreja, quando sabemos que a mesma foi e continua sendo instituída pelo próprio Deus.
Critica tudo o que foi feito até hoje pelos servos fiéis de Deus, e chama Jesus de revolucionário, e afirma que o que a Igreja atual necessita é de uma postura revolucionária.
No seu afã de abrir espaço absoluto para a ação de Jesus como o grande cabeça da Igreja, Frank Viola esquece que Ele opera com Sua soberania especialmente através de meios e instrumentos.
A verdadeira submissão a Cristo deve ser demonstrada pela submissão aos que foram colocados por Deus em posição de autoridade: pais (em relação aos filhos), maridos (em relação às esposas), pastores (em relação às respectivas ovelhas sobre as quais foram constituídos pelo Espírito Santo), idosos (em relação aos jovens); governantes, legisladores, magistrados, chefes e todos os demais tipos de autoridades civis (em relação ao povo, nas respectivas esferas), porque conforme afirma a Bíblia não há autoridade que não seja por Deus instituída.
Que possamos ter o bom senso de examinar tudo imparcialmente e ficar com aquilo que é verdadeiro, segundo a norma bíblica, porque afinal não somos donos da verdade, é ela quem nos domina, ou pelo menos deveria dominar.
Sequer fica validado o argumento de uma suposta sinceridade de Frank Viola, porque entre a sinceridade e a verdade devemos optar sempre por esta última.
Evidentemente não há nenhum fracasso de Jesus Cristo em relação à Sua Igreja nestes seus dois milênios de existência, como Frank Viola parece supor (não do Senhor, mas da Igreja).
O que há de fato, é que a Igreja sempre necessita de Reforma.
Reforma no seu sentido de retornar não propriamente ao modelo neotestamentário, porque até os próprios apóstolos se defrontaram com esta necessidade, combatendo o erro e sempre procurando manter a verdade entre os crentes.
A Reforma é portanto, um esforço sempre direcionado ao retorno à prática da verdade, ao evangelho genuinamente bíblico, conforme o ensino de Jesus e dos apóstolos.
E nisto, é evidente, que um modelo institucional, de governo e administração de igrejas, terá maiores dificuldades para preservar a norma bíblica, especialmente no que tange a garantir a perseverança na comunhão, no partir do pão e da doutrina dos apóstolos, do que o modelo orgânico (em lares), apesar deste último também enfrentar as mesmas dificuldades, exceto no que se refere à necessidade de se angariar e administrar recursos, muitas vezes vultosos para a manutenção da estrutura e do sistema institucional (construção e manutenção do templo, serviços, salários, despesas de compra, aluguel, luz, água, limpeza etc), e não raro é comum ocorrer que a pregação da verdade seja sacrificada, para que não haja a perda de recursos, com a fuga de membros e outros cooperadores financeiros, que não suportariam ouvi-la e muito menos, serem disciplinados para praticá-la.
Mas devemos ser realistas e ponderar que tanto num modelo (reunião em templos), quanto no outro (em lares), se encontram os mesmos pecadores, remidos ou não.
A obra do Espírito Santo é perfeita.
Mas o homem é pecador e falho.
Não é portanto sábio, polarizar um debate ou divisão na Igreja, para determinar qual seria o modelo correto: se o de reunião em templos, ou então em lares.
Tanto num, quanto noutro, o grande desafio é o de se manter a comunhão dos crentes.
Apascentar o rebanho com a verdade, não apenas para ser ouvida, mas praticada.
Que seja também acatada a necessidade de liderança, porque foi o próprio Cristo que a determinou e tem determinado para a Igreja.
Mas que os líderes não sejam dominadores do rebanho. Chefes seculares. Mas pais longânimos e amados.
Apegados à Palavra Fiel, conforme se ensina nas Epístolas Pastorais de Paulo, para serem firmes, disciplinadores, mas sempre com longanimidade e segundo a doutrina bíblica.
Pr Silvio Dutra