Qual é a noção geral sobre o que seja a conversão a Cristo, e o seus reais efeitos?
Na verdade não há uma noção geral, mas várias, que são compartilhadas inclusive por vários grupos distintos de cristãos.
Alguns, que não são poucos, pensam que a conversão produz uma mudança de vida de tal ordem, que todos os que têm um encontro pessoal com Cristo, passam a ser automaticamente pessoas confiáveis, amáveis, bondosas, misericordiosas, enfim, que seriam incapazes de praticar qualquer ato de injustiça ou até mesmo de indelicadeza.
Outros, por sua vez, pensam que a conversão é uma porta de entrada para se aprender os costumes da religião cristã, aí incluída a obediência a todas as normas e regulamentos das sociedades cristãs às quais tenham se afiliado.
E assim, se multiplicam as formas de pensamento e suas muitas variantes, segundo a imaginação de cada pessoa em particular, sejam elas cristãs ou não cristãs, acerca da conversão a Cristo,
Todavia, a conversão e os seus efeitos, não representam várias realidades na experiência das vidas dos convertidos, porque assim como Deus é um só, também é único o seu propósito na conversão, e ao efeito que ela deve produzir em nossas vidas.
Por isso é muito importante, que façamos uma reflexão adequada sobre este assunto, de modo que não criemos expectativas falsas, que poderão nos conduzir a uma vida cristã distorcida.
Antes de tudo, deve ser admitido e reconhecido que há de fato uma mudança radical na pessoa que se converte, porque passa a existir nela um interesse real por Cristo, e isto, pelo Cristo que é revelado na Bíblia, porque o Espírito Santo, que passa a habitar no convertido, é quem lhe desperta para este desejo de amar, servir e adorar ao Senhor, e de orar, ler a Bíblia e compartilhar a sua fé.
Passa a existir também um santo temor de não se viver de modo contrário aos mandamentos de Deus.
Há também um despertamento para o desejo de se reunir com outros pessoas que passaram pela mesma experiência, e de compartilhar a sua própria experiência com os que não são convertidos, com o ardente desejo de que sejam também participantes desta grande bênção.
Todavia, os novos convertidos, apesar de sentirem, que estão plenos e prontos para amarem com o mesmo amor de Cristo, haverão de observar com o passar do tempo, que há muito de sentimento e emoção, acompanhando a sua experiência de conversão, e também de zelo e fervor, mas ainda pouco discernimento espiritual, e conhecimento da realidade do pecado que ainda remanesce em suas antigas naturezas.
Com o passar do tempo, muitos aprenderão que não haviam amado, e servido a Deus, tanto quanto haviam pensado tê-lo feito no passado.
Começam a observar que há ainda muita contradição entre as coisas que professam crer e aquelas que realmente praticam.
Alguns nem sequer chegam a observar isto, porque não têm conhecimento adequado da verdade bíblica relativa ao comportamento esperado dos cristãos, para que possam fazer tal comparação.
Muitos fazem um progresso acelerado em consagração e santificação, enquanto outros, regridem na fé, em vez de avançarem; ou fazem um progresso muito lento ou irregular.
Todos aqui referidos, são convertidos genuínos, e refletem em seus comportamentos a grande verdade que Cristo veio para um mundo de injustos e de doentes espirituais, enfim, de pecadores.
Ele trabalhará pacientemente com cada um destes cristãos, sempre visando lhes levar ao cumprimento do propósito da sua conversão, que é o da maturidade espiritual em santidade.
A conversão visa a encher o céu de pessoas perfeitamente santas. Ainda que isto não seja visto enquanto elas viverem aqui na terra.
Então, o que podemos concluir disso tudo, é que nunca se verá um mundo perfeito, com pessoas perfeitas, até que Cristo volte, e complete o trabalho de restauração que lhe foi designado pelo Pai.
A sociedade como um todo, sempre será imperfeita, porque, mesmo os cristãos estão sujeitos a errar.
Não se verá aqui, pessoas que sejam perfeitamente, gentis, justas, cordiais, longânimas, misericordiosas, benignas, bondosas e amorosas.
Ao contrário, muito se viu e sempre se verá mais ainda, à medida que a iniquidade se multiplica, as pessoas que são descritas em II Timóteo 3.1-5, e ali, o apóstolo, não exclui os próprios cristãos de exibirem em alguma medida o referido tipo de comportamento.
“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,
pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.” (II Tim 3.1-5)
Tudo isto nos remete à necessidade de sermos pacientes, perseverantes, tanto em relação a nós mesmos, quanto em relação às demais pessoas, porque vivemos num mundo onde o pecado abunda.
Ainda que ele não reine mais de modo absoluto na vida dos que converteram realmente, todavia haverá ainda resquícios operando na vida de todos os cristãos, dos quais devem aprender a se despojar, pelo poder do Espírito Santo.
Esta realidade terrível da ação do pecado, e de todo o mal que opera no mundo, inclusive por parte de demônios, deve nos estimular a incrementar nossa vigilância e oração, e também o amor e as boas obras.
Devemos nos prevenir de julgar aos demais, para que não sejamos também julgados, e mais do que isso, para que vivamos de modo justo, porque não há quem não peque, e devemos reconhecer que todos dependemos inteiramente da graça e da misericórdia de Deus.
Não criemos expectativas falsas de termos congregações cristãs perfeitas, onde não haja problemas na membresia, porque isto sempre existirá, por conta de tudo a que temos nos referido.
Que seja portanto, praticado o exercício da disciplina, da exortação e da repreensão, ordenadas por Cristo, mas que isto seja sempre feito com paciência, segundo a Palavra de Deus, e com longanimidade e amor cristãos.
Por isso se ordena que os cristãos que contradizem o modo de viver segundo o ensino de Cristo, sejam repreendidos.
Os que são fracos, sejam amparados.
Os que estão vacilando, sejam exortados a perseverarem na fé.
Mas que se seja longânimo para com todos eles, inclusive para com os maus.
Embora se faça muito esforço para se produzir a imagem de Cristo nos convertidos, sempre se verá ainda entre eles não pouca arrogância, murmuração, palavras torpes, falta de fervor, de paciência, de longanimidade, de misericórdia, de paz, de domínio próprio, de gratidão, de perdão, de obediência, de submissão, e de todas as demais virtudes que compõem o fruto do Espírito Santo.
Não é algo para se lastimar, ou para nos desanimar, mas a realidade com a qual sempre teremos que conviver enquanto estivermos vivendo deste outro lado céu.
O conhecimento desta realidade, ao contrário, deve nos incentivar a nos santificarmos sempre mais, sabedores que somos dos efeitos danosos que um viver contra a Palavra de Deus pode produzir em nossas vidas.
Por isso há o galardão para recompensar os vencedores, os fiéis.
Todos os convertidos foram automaticamente inscritos por Deus numa corrida espiritual, onde os vencedores são aqueles que permanecem fiéis ao Senhor e à Sua Palavra, fazendo progresso em santificação.
Vencendo cada vez mais os pesos e o pecado que de tão perto e tenazmente nos assediam.
Deus decidiu nos dar o Espírito por medida, de modo que o nosso crescimento espiritual seja de fé em fé, e com graça sobre graça, para que aprendamos na prática da vida, acerca dos seus atributos e virtudes, que são em nós implantados consoante o referido crescimento.
Se no ato da conversão fôssemos feitos por Ele totalmente perfeitos, como Ele fará conosco quando chegarmos ao céu, não poderíamos aprender a ser longânimos, misericordiosos, amorosos, bondosos, e tudo o mais que somente podemos aprender num mundo imperfeito, sujeito ao pecado.
Como aprenderíamos a renunciar ao nosso ego, para poder fazer somente aquilo que é segundo a Sua vontade divina, caso fôssemos feitos perfeitos aqui na terra?
Não haveria tal necessidade, porque nossos atos. palavras e pensamentos perfeitos, nunca demandariam a necessidade de arrependimento, e por conseguinte, não poderíamos aprender o que é renunciar ao ego para podermos fazer não a nossa, mas a vontade do Senhor.
Nosso aprendizado e crescimento devem portanto, segundo o propósito eterno de Deus, serem marcados por uma consciência cada vez maior de que o pecado é consequente de não renunciarmos à nossa vontade, ao nosso eu.
Recorrendo ao Senhor em oração, pela fé, temos vitória sobre o ego, e assim o pecado é também vencido, e podemos ser revestidos do Senhor e da força do Seu poder, até atingirmos a plenitude da maturidade espiritual.